LESBIANIDADE E PSICOLOGIA NA CONTEMPORANEIDADE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

AutorJoyce Amorim Gonçalves, Ana Rosa Rebelo Ferreira de Carvalho
Páginas135-156
GÊNERO|Niterói|v.20|n.1| 135|2. sem.2019
LESBIANIDADE E PSICOLOGIA NA CONTEMPORA-
NEIDADE: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA
Joyce Amorim Gonçalves1
Ana Rosa Rebelo Ferreira de Carvalho2
Resumo: O presente trabalho consiste em uma revisão sistemática que tem
por objetivo quantificar e analisar as publicações acerca da lesbianidade na con-
temporaneidade na área da Psicologia. Os estudos foram identificados através
das bases de dados: Scielo, PePSIC e Periódicos CAPES. A revisão evidencia
a necessidade de mais estudos na área da Psicologia que considerem as pers-
pectivas das mulheres lésbicas, constatando a escassez de estudos na Psicolo-
gia sobre a lesbianidade; mostrando que este é um grupo perpassado por vul-
nerabilidades e invisibilidade; e apontando a importância de compreender
esta população em suas particularidades a fim de entender suas necessidades.
Palavras-chave: lesbianidade; psicologia; lésbicas.
Abstract: This essay consists of a systematic review with the purpose of quanti-
fying and analysing the studies about contemporary lesbianism in the field of Psy-
chology. The studies were identified through the research bases: Scielo, PePSIC
e Periódicos CAPES. This revision highlights the need of developing more studies
in the field of Psychology that consider lesbians’ perspectives, verifying the lack
of studies in Psychology about lesbianism; exposing this group as one permea-
ted by vulnerabilities and invisibility; and pointing out the importance of unders-
tanding this population in its particularities as a way of understanding its needs.
Keywords: lesbianism; psychology; lesbians.
Introdução
O movimento LGBT (Lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros) tem ganhado
bastante reconhecimento nos últimos 40 anos, fato bastante notório ao obser-
var-se o aumento desta comunidade nas representações midiáticas – tendo em
vista que o ser humano, como ser social, apresenta e representa através da mídia
aquilo que é corrente na sua vida e contexto sociopolítico. Este reconhecimento,
porém, não veio meramente através da aceitação da sociedade (que é hegemo-
nicamente heteronormativa), mas através da luta constante e diária enfrentada
1 Psicóloga pela Universidade Estadual do Piauí (UESPI). E-mail: joyce_amorimg@hotmail.com.
2 Mestre em Psicologia Clínica e professora do curso de Psicologia da Universidade Estadual do Piauí (UESPI).
E-mail: anarosa.carvalho@bol.com.br.
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pelos membros da comunidade LGBT em busca de visibilidade e, principalmente,
validação dos seus direitos.
Porém, apesar de toda esta luta histórica por visibilidade e respeito – e as vá-
rias conquistas obtidas desde os anos 60, quando os movimentos LGBT tomaram
forma e passaram a se destacar na sociedade moderna – o atual reconhecimento
dado aos sujeitos LGBT não é inclusivo. Isto significa que, por mais que temas rela-
cionados a esta comunidade estejam em voga na contemporaneidade, não se observa
uma sensibilidade de olhar para além do acrônimo e buscar compreender cada um
dos grupos que compõem esta sigla em suas diferenças, peculiaridades e demandas
– o que resulta em lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros sendo considerados uma
unidade só, ignorando os múltiplos fatores que perpassam estas identidades.
Vianna (2015) destaca essa multiplicidade de experiências: “o movimento
LGBT recorre a uma rede imensa com diversos protagonistas e posições políticas
distintas, aglutinando demandas e reivindicações”. Com isto em mente, percebe-
-se que é incoerente presumir que a experiência de uma mulher lésbica seja igual
à de um homem gay, ou a de uma pessoa bissexual, muito menos à de uma pessoa
transgênero (visto que esta é uma orientação de gênero, não uma orientação se-
xual). A vivência destas pessoas é definida por uma série de variáveis que vão além
da exclusão social e do status de minoria compartilhado por elas.
Há, no imaginário comum da sociedade, uma separação entre homossexuais,
bissexuais e heterossexuais, se utilizando do termo “homossexuais” para agregar
em um mesmo grupo – tanto em produções midiáticas quanto em produções
acadêmicas – homens gays e mulheres lésbicas. É bastante comum que se
achem estudos cujo tema é a homossexualidade mas que destacam e abordam
apenas necessidades relativas aos homens gays, deixando as demandas rela-
cionadas às lésbicas à margem ou até em completa obscuridade. Sobre isto,
Ferreira (2015) fala que grande parte dos movimentos que lutam por cidadania
e direitos de pessoas com orientações sexuais e/ou identidade de gênero dife-
rentes da norma reduz estas vivências a uma “categoria generalista LGBT, que
normalmente leva à invisibilidade das lésbicas”.
Ao priorizar estudar e representar a experiência de homens em detrimento da
de mulheres é possível notar como a invisibilidade lésbica é pautada na validação da
experiência masculina e da consequente ignorância acerca da experiência feminina.
Como Barbosa, et. al. (2014) destacam, a invisibilidade lésbica relaciona-se direta-
mente a outras formas de discriminação, como o machismo e o racismo, tudo isto
inserido em uma sociedade histórica e estruturalmente heteronormativa.
Percebe-se que há um desconhecimento generalizado acerca da vivência e
das necessidades da população lésbica, bem como uma falta de interesse aca-
dêmico em produzir mais conhecimento acerca desta. Pode-se pensar que isto
acontece porque, como se trata de sujeitos “desviantes” às regras de uma socie-
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