Luta pelo território: as experiências sociais das mulheres quilombolas no âmbito das políticas públicas

AutorJoana das Flores Duarte - Patrícia Krieger Grossi - Eliane Moreira de Almeida
CargoAssistente Social. Doutora em Serviço Social - Assistente Social. Doutora em Serviço Social - Assistente Social. Doutoranda em Serviço Social na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)
Páginas618-635
LUTA PELO TERRITÓRIO: as experiências sociais das mulheres quilombolas no âmbito das
políticas públicas
Joana das Flores Duarte
1
Patrícia Krieger Grossi
2
Eliane Moreira de Almeida
3
Resumo
Este artigo é resultado de uma pesquisa iniciada em 2015 e ainda em andamento, cujo objetivo foi compreender as
experiências sociais de mulheres quilombolas no âmbito das políticas públicas, considerando as interseccionalidades de
gênero, raça/etnia, classe social e geração no Rio Grande do Sul. Quanto à natureza da pesquisa, ela se caracteriza como
qualitativa e exploratória. Das técnicas utilizadas, optou-se por coleta de dados e entrevistas semiestruturadas. Os dados
foram submetidos à análise de conteúdo sob a perspectiva de Bardin. Os resultados evidenciam que essas mulheres
vivenciam violações no acesso às políticas públicas devido ao racismo estrutural, à esp eculação imobiliária e latifundiária, e
as narrativas revelam os desaf ios no sentido de Ser quilombola em face da negação permanente do acesso aos direitos de
cidadania, bem como às lutas e resistências dessas comunidades.
Palavras-chave: Territórios. Quilombos. Mulheres. Estado. Políticas Públicas.
FIGHT FOR TERRITORY: the social experiences of quilombola women in the context of p ublic policies
Abstract
This article is the result of a research that began in 2015 and is curr ently underway, whose objective was to understand the
social experiences of quilombola women in the context of public policies, considering the intersectionalities of gender,
race/ethnicity, social class and generation in Rio Grande do Sul. This is a qualitative and exploratory research. The
techniques used were data collection and semi-structured interviews. The data were subjected to content analysis from the
perspective of Bardin. Results show that these women experience violations in accessing pu blic policies due to structural
racism, and to r eal estate and land exploitation, and the narratives reveal the challenges in the sense of being a quilombola
in the face of the permanent denial of acces s to citizenship rights, as well as the struggles and resistance of these
communities.
Keywords: Territories. Quilombos. Women. State. Public policies.
Artigo recebido em: 02/07/2021 Aprovado em: 20/11/2021
DOI: http://dx.doi.org/10.18764/2178-2865.v25n2p618-635
1
Assistente Social. Doutora em Serviço Social. Professora adjunta no Curso de Serviço Social da Universidade Federal de
São Paulo (UNIFESP), no Campus da Baixada Santista. Integrante do GT e da Red de Posgrados en Ciencias Sociales -
CLACSO e do NETeG Núcleo de Estudos do Trabalho e Gênero. E-mail: jf.duarte@u nifesp.br
2
Assistente Social. Doutora em Serviço Social. Professora Adjunta do Curso de Serviço Social da Escola de Humanidades
e do corpo permanente do Programa de Pós- graduação em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul (PUCRS) e do Programa de Pós-graduação em Geriatria e Geron tologia do Instituto de Geriatria e
Gerontologia. E-mail: pkgrossi@pucrs.br
3
Assistente Social. Doutoranda em Serviço Social na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). E-
mail: eliane.almeida@acad.pucrs.br
Joana das Flores Duarte, Patrícia Krieger Grossi e Eliane Moreira de Almeida
619
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo é resultado de uma pesquisa iniciada em 2015 e que se encontra em
andamento, cujo objetivo geral foi o de compreender as experiências sociais das mulhe res quilombolas
no âmbito das políticas públicas, considerando as interseccionalidades de gênero, raça/etnia, classe
social e geração no estado do Rio Grande do Sul.
Por experiência social, compreende-se “o necessário conhecimento do modo de vida,
concreto, apreendido como o real vivido pelos sujeitos, apreendidos pelas expressões sobre suas
crenças, valores, sentimentos e ainda pela apropriação de suas próprias experiências vivenciadas
cotidianamente” (MARTINELLI, 1999, p. 23). Assim, dá-se o reconhecimento das particularidades e
subjetividades das pessoas entrevistadas, ao mesmo tempo em que se tem o entendimento de
coletividade que estas representam a partir de suas inserções grupais.
A pesquisa, de natureza qualitativa e exploratória, utilizou como técnicas de coleta de
dados entrevistas semiestruturadas que têm sido realizadas nos quilombos; destacam-se, urbanos e
rurais do estado do Rio Grande do Sul. Tais dados foram submetidos à análise de conteúdo sob a
perspectiva de Bardin (1977), que prevê uma série de etapas para a sistematização e interpretação dos
dados.
Neste artigo são apresentadas as experiências sociais de lideranças femininas
quilombolas de distintas regiões do estado do Rio Grande do Sul. Além das lideranças femininas,
temos também uma liderança masculina quilombola e o atual Presidente da Frente Quilombola do Rio
Grande do Sul. Cabe destacar que neste artigo seus nomes são identificados, isso porque ao
trabalharmos com as narrativas de lideranças, partimos da assertiva de que essas pessoas ocupam
lugares/cargos que lhes dão centralidade e visibilidade junto à sociedade. São, como narraram,
lideranças que atuam politicamente e de forma ativa no estado do Rio Grande do Sul em defesa da
exigibilidade territorial dos quilombos. A identificação de seus nomes foi autorizada por eles/as.
O grande feito desta pesquisa, sem dúvida, foi a possibilidade de contato direto com as
mulheres quilombolas e poder ouvi-las num rito de oralidade. Esse que não só resgata, mas afirma a
ancestralidade de suas vidas e histórias. Foi sentando-nos e ouvindo, como fazem entre os seus, que
tivemos a oportunidade de realizar este trabalho. Desse modo, a pesquisa cumpre o seu papel teórico,
científico, ético, político e também afetivo, porque faz a mediação com os/as sujeitos/as pela
experiência que transcende o lugar de pesquisador/a.
Não é possível ingressar numa comunidade quilombola somente com as vestes da
academia, com seus termos e roteiros de pesquisa. Exige-se de quem ingressa uma “entrega” à

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