Lutero e a tradução do sagrado

AutorFurio Jesi
Páginas19-25
doi:10.5007/1984-784X.2014v14n22p19
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LUTERO E A TRADUÇÃO DO SAGRADO*
Furio Jesi
De 1522 a 1534, Lutero realiza a primeira tradução completa da Bíblia em
língua alemã. Nos mesmos anos ele escreveu um Sendbrief vom Dolmetschen
(Epístola sobre a tradução) em que expõe os princípios fundamentais da sua
teoria da tradução, as regras que ele próprio tinha procurado seguir e que
todo futuro tradutor deveria procurar seguir. É notório que a tradução de
Lutero assinala, por assim dizer, o nascimento da língua alemã moderna. Mas
é necessário não esquecer que também seu Sendbrief vom Dolmetschen cons-
titui uma contribuição importante à teoria da tradução em relação a qual, no
âmbito da cultura alemã, talvez só podem ser aproximadas, no que diz respei-
to à importância, as notas de Goethe ao Divan e as considerações de Walter
Benjamin em torno ao que ele disse ser “a tarefa do tradutor”. É necessário
não esquecer, em suma, que, ao menos no caso da cultura alemã, um com-
plexo de circunstâncias históricas fez coincidir em um único momento tanto a
estreia literária da língua moderna quanto uma das provas mais profundas e
mais ricas de consequências da reflexão sobre o próprio conceito de tradução.
Lutero escrevia no século XVI e dedicava suas reflexões acima de tudo,
senão de modo exclusivo, não à tradução em geral, mas à tradução do que
considerava texto sagrado, palavra mesma de Deus. Para nós, laicos, e laicos
do século XX, é extremamente difícil colocar-se naquela dimensão temporal e
Lutero e la traduzione del sacro.
Nuova corrente, Genova, anno 56, n. 143, p. 175-182, 2009.
Tradução de Vinícius Nicastro Honesko.
* O texto inédito que aqui apresentamos, graças à cortesia de Marta Rossi Jesi, conservou-se
entre os papéis de Jesi numa pequena pasta com 9 páginas datilografadas (formato 28cm X
22cm), numeradas, com poucas correções e acréscimos colocados a mão, sem título. Como
outros já publicados no número monográfico, organizado por G. Agamben e A. Cavalletti, da
revista Cultura Tedesca (n. 12, 1999), e assinaladamente na quinta seção dos in éditos, o en-
saio faz parte dos materiais selecionados para a reconstrução do volume, projetado por Jesi
por volta da metade dos anos setenta e nunca terminado, Traduzione e duplicità dei lin-
guaggi. Para uma datação aproximativa podemos nos referir ao “Prefácio” de Esoterismo e
linguaggio mitologico, escrito em junho de 1976, no qual Jesi anuncia a publicação do traba-
lho em curso. (Andrea Cavalletti)
|boletim de pesquisa nelic, florianópolis, v. 14, n. 22, p. 19-25, 2014|

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