'O maravilhoso número das imagens': os primeiros 'catálogos' de coleções de arte no renascimento

AutorGiulia Crippa
CargoLivre Docente em Ciência da Informação Università di Bologna, Dipartimento di Beni Culturali, Campus de Ravenna, Itália giulia.criuppa2@unibo.it http://orcid.org/0000-0002-6711-3144
Páginas1-20
Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, Florianópolis, v. 25, n. esp., p. 01-20, 2020.
Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 1518-2924. DOI: https: //doi.org/10.5007/1518-2924.2020.e76257
Artigo
Original
“O MARAVILHOSO NÚMERO DAS IMAGENS”: OS
PRIMEIROS “CATÁLOGOS” DE COLEÇÕES DE
ARTE NO RENASCIMENTO
“The wonderful number of images”: the first “catalogues of art in Renaissance
Giulia CRIPPA
Livre Docente em Ciência da Informação
Università di Bologna, Dipartimento di Beni Culturali, Campus de Ravenna, Itália
giulia.criuppa2@unibo.it
http://orcid.org/0000-0002-6711-3144
A lista completa com informações dos autores está no final do artigo
RESUMO
Objetivo: Apresentar e discutir os escritos de Marcantonio Michiel, Anton Francesco Doni, Paolo Giovio e Frei Sabba de
Castiglione como exemplos de configuração pioneira de catálogos de Arte.
Método: Utiliza os métodos de pesquisa bibliográfica, com abordagem qualitativa, analisando os textos a partir de um
conjunto de premissas teóricas sobre o que são listas e catálogos (BALSAMO, 2017; ECO, 2009; OTLET, 1934; SERRAI,
2001). Na premissa discute-se como tais materiais devem ser considerados.
Resultado: Observa-se que os autores selecionados produziram textos que funcionavam epistemologicamente,
contribuindo para a formação do conhecimento em um campo até então não definido, isso é, o campo da Arte, colocando
informações em circulação entre, principalmente, os colecionadores e os artistas, estabelecendo taxonomias e outros
processos análogos, na medida em que o estudo desse tipo de genealogias ainda não é muito desenvolvido.
Conclusões: Os textos apresentados não se apresentam somente como listas, mas também como narrativas. Isso
colocou a necessidade de observar o uso da linguagem em suas formulações retóricas. Observamos que os a utores
utilizam estilos bastante di ferentes entre si e, com certeza distantes ainda das fórmulas contemporâneas dos catálogos
de arte. Tais diferenças podem ser observadas quando, por exemplo descrevem uma mesma obra e m situações e
momentos diferente (como destacamos no caso da descrição de uma fonte presente no museu de Giovio).
PALAVRAS-CHAVE: Bibliografia; Catálogos de Arte; Renascimento; Colecionismo.
ABSTRACT
Objective: To present and discuss the writings of Marcantonio Michiel, Anton Francesco Doni, Paolo Giovio and Frei
Sabba de Castiglione as examples of the pioneering configuration of Art catalogs.
Methods: It uses bibliographic research methods, with a qualitative approach, analyzing the texts from a set of theoretical
premises about what lists and catalogs are BALSAMO, 2017; ECO, 2009; OTLET, 1934; SERRAI, 2001). The premise
discusses how such materials should be handled.
Results: It is observed that the selected authors produced texts that worked epistemologically, contributing to the formation
of knowledge, putting information into circulation, establishing taxonomies and other similar processes.
Conclusions: The analyzed texts are presented not only as lists, but also as narratives. This placed the need to observe
the use of language in its rhetorical formulations. We observed that the authors use styles that are quite different from each
other and , c ertainly, s till fa r from contemporary formulas in art catalogs. Such differences can be observed when, for
example, they describe the same work in different situations and moments (as we highlight in the case of the description
of a source present in the museum of Giovio).
KEYWORDS: Bibliography; Art catalogs; Renaissance; Collecting.
Encontros Bibli: revista eletrônica d e biblioteconomia e ciência da inform ação, Florianópolis, v. 25, n. esp, p. 01-20,
2020. Universidade Federal de Santa Catarina. ISSN 1518-2924. DOI: https://doi.org/10.5007/1518-2924.2020.e7 6257
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1 INTRODUÇÃO
Listas, inventários e catálogos, como elencos ordenados e sistemáticos de objetos
da mesma espécie, sejam eles livros, obras de arte, produtos artesanais ou industriais,
fazem parte do equipamento humano para lembrar de conceitos e posses materiais desde
os tempos antigos. Nesse trabalho, propomos o estudo de alguns textos que antecipam a
formação dos catálogos no campo da Arte. Além de se constituírem como fontes
privilegiadas para pesquisar a proveniência das obras de arte, bem como a reconstituição
de coleções perdidas, os catálogos e os inventários podem e devem ser investigados
bibliograficamente e como coisas em si, com seus próprios quadros ontológicos, e não
somente dentro de um processo de constituição da historiografia da arte.
Enquanto um inventário é uma lista de bens, que descreve sua quantidade, natureza
e valor, um catálogo é uma lista que se diferencia do primeiro por apresentar algum tipo de
arranjo, que pode ser sistemático, metódico, de ordem alfabética. Geralmente, se distingue
do primeiro também por apresentar alguns detalhes descritivos que auxiliam na
identificação do bem, apontando, por exemplo, o lugar de origem, sua colocação atual, seu
histórico, seu preço no mercado das artes.
O que significa uma obra de arte estar em um catálogo? Hoje, ter uma obra
catalogada significa que foi mostrada a alguma instituição ou organização dedicada à arte
e que foi considerada autêntica pelos especialistas - que geralmente pertencem ao campo
acadêmico, museológico ou, até, comercial, como no caso de galerias de arte ou de casas
de leilões. A catalogação consiste inicialmente na aquisição de descobertas documentárias
que ofereçam o maior número de dados produção, compra, transferência, notas de
passagem, escritas ou marcas em algum lugar das obras.
Na história da arte, a atribuição ou rejeição de propostas de atribuição não pode ser
considerada definitiva: na medida em que a história da arte está sujeita a revisões
periódicas, também através da descoberta de novos documentos, novas leituras ou novas
técnicas de análise, a não aceitação no arquivo e no catálogo de uma obra não estabelece
para sempre sua “falsidade” ou sua atribuição a determinado artista, mas pode ser
considerado autêntico (ou falso) em um outro momento, através de novos estudos.
No âmbito da produção artística do séc. XVI, assiste-se à insurgência de formas de
colecionismo já dedicadas especificamente à arte. Paralelamente, surgem as primeiras
tentativas de esboçar bibliografias dedicadas à arte e aos artistas, entre as quais se
destacam as páginas dedicadas ao tema por Paolo Lomazzo e Antonio Possevino, dos

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