Mecanismos de proteção social na memória coletiva de mulheres idosas

AutorAngela Elizabeth Ferreira de Assis, Liduina Farias Almeida da Costa
CargoSocióloga/Graduada em Serviço Social pela Universidade Estadual do Ceará (UECE)
Páginas801-820
MECANISMOS DE PROTEÇÃO SOCIAL NA MEMÓRIA COLETIVA DE MULHERES IDOSAS
Angela Elizabeth Ferreira de Assis1
Liduina Farias Almeida da Costa2
Resumo
O artigo objetiva discutir o acesso a mecanismos do sistema de proteção social brasileiro, sob a ótica da mem ória coletiva
de mulheres idosas que vivem em instituições de longa permanência. Utiliza as pesquisas bibliográfica, documental e de
campo como estratégias metodológicas, destacando-se, na pesquisa de campo, a observação flutuante, as entrevistas
abertas em profundidade e o registro fotográfico. Em vez da proteção social, identifica uma grande lacuna reveladora d e
inexistência ou carência de recursos materiais e afe tivos ao longo das trajetórias dessas mulheres. Conclui que há diversas
modalidades de proteção social que, a depender do contexto sócio -histórico, podem se expandir ou se restringir . Por
conseguinte, o acesso a esses mecanismos se dá de maneira diferenciada, conforme as condições sociais disponíveis e os
variados contextos de inserção social dos sujeitos.
Palavras-chave: Proteção social; velhice e sociedade; memória coletiva.
MECHANISMS OF SOCIAL PROTECTION IN THE COLLECTIVE MEMORY OF ELDERLY WOMEN
Abstract
The article aims to discuss access to mechanisms of the Brazilian social protection system, from the perspective of the
collective memory of elderly women who live in long-term institutions. It uses bibliographic, documentary and field research
as methodological strategies, wit h emphasis on fluctuating observation, in-depth open interviews and photographic record in
field research. Instead of social protection, it identified a large gap revealing the inexistence or lack of material and affective
resources along the trajectories of these women. We conclude that there are several types of social protection that,
depending on the socio-historical context, can expand or be restricted. Consequently, access to these mechanisms occurs in
a different way, according to the social conditions available and the varied contexts of social insertion of the subjects.
Keywords: Social protection; old age and society; collective memory.
Artigo recebido em: 27/05/2022 Aprovado em: 01/11/2022
DOI: http://dx.doi.org/10.18764/2178-2865.v26n2p801-820
1 Socióloga. Doutoranda em Políticas Públicas e Mestra em Sociologia pela Universidade Estadual do Ceará. E-mail:
angelappgs@gmail.com.
2 Graduada em Serviço Social pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). Doutora em Sociologi a, com Pós - Doutorado
também em Sociologia pe la Universidade Federal do Ceará (UFC).. Professora Associada, da Universidade Estadual do
Ceará UFC. E-mail: liduinafariasac@gmail.com.
Angela Elizabeth Ferreira de Assis e Liduina Farias Almeida da Costa
802
1 INTRODUÇÃO
Vivenciamos, no Brasil, um contexto de transição demográfica em que o envelhecimento
populacional se torna uma preocupação para os arranjos familiares, as instâncias governamentais e o
campo de produção do conhecimento relacionado à questão da proteção social. Para Giovanni (1998),
a proteção social se destina a proteger uma parte ou o conjunto de membros de uma sociedade, em
meio às condições adversas enfrentadas ao longo de sua vida dentre as quais destacamos, aqui, a
velhice. Segundo o autor, os sistemas de proteção social incluem uma série de iniciativas que
expressam valores de solidariedade decorrentes dos processos sociais e históricos em que se
desenvolvem os meios necessários para garantir a subsistência daqueles que se encontram nessas
condições adversas, implicando pensar o bem-estar dos indivíduos neles envolvidos.
Nessa perspectiva, voltamos nossa atenção para os que vivem a velhice em condições
materiais e objetivas que, muitas vezes, não suprem suas necessidades. Desse modo, suas condições
de vida passam a ser diretamente dependentes de formas de proteção social que respondam às suas
demandas através de mecanismos estatalmente regulados ou não.
Nossa participação em uma ampla pesquisa sobre a relação entre políticas públicas e
instituições participativas, realizada no âmbito do Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas da
Universidade Estadual do Ceará, bem como a elaboração de uma dissertação de mestrado em
sociologia nesta universidade, propiciaram o suporte necessário à elaboração deste trabalho.
O objetivo deste artigo é perceber, mediante o resgate de memórias de mulheres idosas
abrigadas em instituições de longa permanência, o acesso a mecanismos de proteção social durante
suas trajetórias de vida. Orientamo-nos pelo pressuposto de que os idosos residentes em instituições
de longa permanência no país vivenciam diferentes contextos sociais, todos eles determinantes de
formas de proteção social restritivas e ineficazes que interferem negativamente na consolidação de
suas trajetórias e projetos de vida, e que o acesso a essas formas de proteção é muito limitado ou
mesmo inexistente.
Ademais, esses contextos sociais têm favorecido a atribuição de um sentido negativo ao
envelhecimento, produzindo formas de “inclusão precária” (SOUZA, 2004) ou mesmo a exclusão de
idosos no tocante a aspectos significativos da vida em sociedade, como os concernentes às relações
de trabalho e às relações afetivas. A negação de garantias de condições materiais e simbólicas
suficientes para que todos os indivíduos consolidem seus projetos de vida faz com que muitos desses
idosos sejam colocados na posição de “subcidadãos”, dotados de um “habitus precário” e impedidos de
“gozar de reconhecimento social com todas as dramáticas consequências existenciais e políticas aí
implicadas” (SOUZA, 2004, p. 87).

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