Medidas de Controle

AutorTuffi Messias Saliba
Ocupação do AutorEngenheiro Mecânico. Engenheiro de Segurança do Trabalho. Advogado. Mestre em Meio Ambiente. Ex-professor dos cursos de Pós-Graduação de Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho. Diretor Técnico da ASTEC ? Assessoria e Consultoria em Segurança e Higiene do Trabalho Ltda.
Páginas102-121

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As medidas de controle do ruído podem ser consideradas basicamente de três maneiras distintas: na fonte, na trajetória e no homem. As medidas na fonte e na trajetória deverão ser prioritárias quando viáveis tecnicamente.

7.1. Controle na Fonte ou Trajetória

É o método mais recomendado quando há viabilidade técnica. No entanto, a fase de planejamento das instalações é o momento mais apropriado para a adoção dessa medida, pois se pode escolher equipamentos que produzam menores níveis de ruído e organizar o lay-out. Na aplicação dessa medida, cada caso deverá ser cuidadosamente estudado, pois, muitas vezes, determinada a medida, pode-se alterar o princípio de funcionamento das máquinas e equipamentos. Desse modo, esse tipo de controle é mais eicaz quando feito pelo fabricante que deveria indicar o nível de ruído gerado pela máquina ou equipamento. Aliás, essa exigência consta da NR-12 item 12.128, letra h, e no item 3, Anexo V, da mesma NR, que estabelece que os fabricantes e importadores de motosserras instaladas no país introduzirão, nos catálogos e manuais, os níveis de ruído e vibração e a metodologia utilizada para referida aferição. Deve-se salientar, no entanto, que existem inúmeras alternativas para esse tipo de controle:

— substituir o equipamento por outro mais silencioso;

— balancear e equilibrar partes móveis;

— lubriicar eicazmente rolamentos, mancais etc.;

— reduzir impactos na medida do possível;

— alterar o processo (substituir sistema pneumático por hidráulico);

— programar as operações de forma que permaneça o menor número de máquinas funcionando simultaneamente;

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— aplicar material de modo a atenuar as vibrações;

— regular os motores;

— manter as estruturas bem ixadas de forma a evitar vibrações;

— substituir engrenagens metálicas por outras de plástico ou celeron;

— diminuir a velocidade de escapamento dos luidos;

— reduzir as rotações das máquinas, embora essa medida possa reduzir a capacidade produtiva;

— instalar abafador (silencioso) nos escapamentos;

— absorver os choques por meio de revestimentos de borracha nas estruturas;

— reduzir a altura de queda de materiais nos receptores, como queda de minério em um silo.

7.2. Controle no Meio ou Trajetória

Não sendo possível o controle na fonte, o segundo passo é a veriicação de possíveis medidas aplicadas no meio ou trajetória. Quando o som incide sobre uma superfície, parte é absorvida, transmitida e reletiva, conforme ilustra o desenho a seguir:

Figura1. Absorção, relexão e transmissão de som de uma superfície

Portanto, no controle na trajetória, o som já foi gerado e a inalidade das medidas é evitar sua transmissão para outro ambiente ou absorvê-lo de maneira a evitar as relexões. Sendo assim, esse tipo de controle pode ser alcançado por meio da absorção e/ou do isolamento do som.

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a) Absorção do som

A energia sonora é absorvida quando o som encontra uma superfície, sendo que os materiais porosos e ibrosos, como lã de vidro e cortiça, são os melhores absorventes. Os coeicientes de absorção dos materiais variam de acordo com as frequências do som; portanto, na escolha desse tipo de material, é importante analisá-lo por meio de uma avaliação adequada. A inalidade dessa medida é evitar as relexões múltiplas do som, que dão origem ao fenômeno da reverberação, ampliicando o som. Assim, uma determinada fonte de ruído produz maior nível de ruído em recinto fechado do que em campo livre, onde não há relexão. Ademais, quanto mais reletoras as superfícies, maior é o tempo de reverberação, isto é, o tempo necessário para o nível de ruído cair de 60 dB, a partir do instante em que cessar a fonte sonora. Portanto, o tratamento acústico das superfícies consiste em revesti-las com material absorvente de som.

O campo acústico em torno de uma fonte pode ser dividido em próximo e afastado (livre e reverberante). O campo próximo é a região perto da fonte e estende-se a uma distância da ordem da metade do comprimento de onda da menor frequência emitida pela máquina, ou do dobro da dimensão característica da máquina, prevalecendo a distância que for maior. O campo afastado subdivide-se em campo livre e reverberante. No campo livre, há pouca contribuição do som reletido pelas superfícies do recinto, prevalecendo o som direto. Nesse campo, o nível de ruído reduz 6 dB a cada vez que a distância entre o receptor e a fonte é dobrada. No campo reverberante, as relexões das paredes e outras superfícies são signiicativas, podendo ser igual ao som direto (BISTAFA, 2006). Portanto, no campo próximo à fonte, a redução do ruído pelo tratamento acústico é pequena, enquanto, no campo afastado (reverberante), essa medida pode trazer bons resultados.

Segundo Georges (2000), deve-se ter cuidado na tentativa de atenuação do ruído por meio da simples colocação de materiais absorventes dentro do ambiente. Dobrando-se a área revestida S ou o coeiciente de absorção das superfícies, a redução do ruído é de 3 dB.

Na escolha do material absorvente, é necessário conhecer o espectro sonoro do local e o Nível de Pressão Sonora em cada frequência, uma vez que os coeicientes de absorção variam em função das frequências. A tabela 1 a seguir exempliica os coeicientes de absorção de som de dois materiais.

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TABELA 1

Coeicientes de absorção de som

Fonte: Nepomuceno

Observa-se que a lã de rocha absorve o som bem mais que o tijolo bruto. Os valores dos coeicientes dos materiais podem ser obtidos em tabelas de livros de acústica (vide bibliograia) ou junto aos fabricantes.

b) Isolamento

O isolamento acústico consiste em evitar a transmissão do som de um ambiente para o outro, devendo, para essa inalidade, utilizar materiais isolantes de som. O parâmetro que caracteriza a capacidade de uma parede transmitir ou isolar som é o coeiciente de transmissão ( ). Quanto menor o valor do coeiciente, menor será a intensidade sonora transmitida e, portanto, mais isolante. Ao contrário da absorção sonora, na qual o parâmetro característico é o coeiciente de absorção, no isolamento de uma parede não é o coeiciente de transmissão que determina o isolamento, mas sim a grandeza dele derivada denominada perda na transmissão (BISTAFA, 2006). A perda na transmissão (PT) é dada pela equação a seguir

Quanto menor for o coeiciente de transmissão, mais isolante será a parede. Exemplo: em uma divisória com coeiciente de transmissão igual a 0,005, na frequência de 500 Hz, a perda de transmissão é igual a:

A Perda de Transmissão (PT) de partições de diversos materiais pode ser obtida em livros de acústica (ver bibliograia); no entanto,

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recomenda-se utilizar os valores fornecidos pelo fabricante. Assim, os materiais densos e compactos, como paredes de alvenaria, apresentam maior perda de transmissão que uma divisória de madeira.

A perda de transmissão dos materiais usados em isolamento é fornecida nas bandas de frequências. Na prática é melhor determinar a perda de transmissão de uma partição (parede ou divisória) por meio de um número único, pois favorece de maneira mais simples a comparação do isolamento de diferentes tipos de partições. Desse modo, foi desenvolvido e normalizado pela ASTM E413-04 um índice chamado de Classe de Transmissão Acústica ou Sound Transmission Class — STC. Esse valor é determinado pela comparação da perda de transmissão da partição medida em terça de oitava, nas frequências de 125 a 4.000 Hz, com a curva STC padronizada (BISTAFA, 2006).

Quanto maior o valor de STC em decibéis, maior é o isolamento. Assim, o vidro de 6 mm de espessura possui STC de 26, enquanto, na parede do bloco de cimento de 15 cm de espessura, o STC é de 42. Portanto, nesse caso, a parede de bloco de cimento é mais isolante.

Nos projetos acústicos, para conseguir alta perda de transmissão, sem emprego de grandes massas, recomenda-se o uso de paredes duplas ou triplas. Segundo Georges (2000), num isolamento por meio de paredes duplas, a incorporação de um espaço de ar de 15 a 200 mm entre elas resulta num aumento de aproximadamente 6 dB acima da soma aritmética das perdas de transmissão de cada uma das duas paredes.

No isolamento acústico, devem-se evitar frestas ou qualquer descontinuidade nas superfícies que permitam a passagem de ar. A presença de frestas pode reduzir signiicativamente a perda de transmissão, inluenciando na eiciência do isolamento. Portanto, as portas...

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