Metodologia de aprendizagem por riscos: uma simulação para projetos de inovação

AutorGerson Pech - Lorena Costa do Espírito Santo
CargoDoutor em Física pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas/CNPq - Pós-graduanda em Sistemas e Estratégias da Inovação pelo Centro de Desenvolvimento Pessoal e Empresarial (CEDEPE)
Páginas9-25
Artigo recebido em: 18/3/2015
Aceito em: 05/10/2015
http://dx.doi.org/10.5007/2175-8077.2015v17n43p9
Esta obra está sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso.
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METODOLOGIA DE APRENDIZAGEM POR RISCOS: UMA
SIMULAÇÃO PARA PROJETOS DE INOVAÇÃO
Learning Methodology by Risks: a simulation for innovation
project
Gerson Pech
Doutor em Física pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas/CNPq. Professor Associado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ) e professor do MBA em Gestão de Projetos da FGV. Rio de Janeiro, RJ, Brasil. E-mail: gerson@pech.com.br
Lorena Costa do Espírito Santo
Pós-graduanda em Sistemas e Estratégias da Inovação pelo Centro de Desenvolvimento Pessoal e Empresarial (CEDEPE). Analista de
Projetos de Inovação do Instituto Euvaldo Lodi - IEL/PE. Recife, PE, Brasil. E-mail: lorecultura@hotmail.com
Resumo
Neste trabalho analisou-se a necessidade de gerenciar
riscos em projetos de inovação utilizando os dados da
Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (PINTEC).
O objetivo deste trabalho é propor uma metodologia
de gestão de riscos adequada a projetos de inovação
cujo pilar é o estudo dos riscos a partir das suas causas
relevantes. A proposição tem a finalidade de gerar uma
ferramenta de análise e de controle dos riscos para
ser utilizada ao longo das diversas fases da inovação.
Realizou-se uma simulação da aplicação dessa
metodologia no projeto Núcleo de Gestão da Inovação
(NUGI) do Instituto Euvaldo Lodi de Pernambuco
(IEL PE) – instituição voltada para o apoio a projetos
de inovação, entre outras atividades. Dessa forma,
foi possível comprovar que o método desenvolvido é
capaz de instrumentalizar o processo de aprendizagem
dos riscos e de aumentar as chances de concretização
das oportunidades.
Palavras-chave: Gestão de Riscos. Gestão da
Inovação. Aprendizagem Organizacional.
Abstract
In this paper we analyze the need to manage the risks
in innovation projects using data from the Industrial
Research on Technological Innovation (PINTEC).
The aim of this work is to propose a management
methodology proper risk innovation projects whose
pillar is the study of risks from their relevant causes. Our
proposal aims to generate an analysis and control tool of
risks to be use during the various phases of innovation.
We conducted a simulation of the application of this
methodology in NUGI (Innovation Management
Core) project of Euvaldo Lodi Institute of Pernambuco
state (IEL PE) – institution focused on the support of
innovation projects, among another activities. Thus,
it was possible to prove that the developed method is
capable of exploiting the learning process of the risks
and increase the chances of realization of opportunities.
Keywords: Risk Management. Innovation Management.
Organizational Learning.
10 Revista de Ciências da Administração • v. 17, n. 43, p. 9-25, dezembro 2015
Gerson Pech • Lorena Costa do Espírito Santo
1 INTRODUÇÃO
As razões da atual estagnação da taxa de inova-
ção das empresas brasileiras, evidenciada pelas pesqui-
sas que vêm sendo realizadas nos últimos anos (NEGRI,
2012; NEGRI; CAVALCANTE, 2013), precisam ser
examinadas. Além das questões financeiras óbvias,
como financiamento inadequado e necessidade de
constantes investimentos, os motivos também podem
estar associados, como se verá, à falta de cultura orga-
nizacional e à ausência de metodologias para gerenciar
os riscos em atividades dessa natureza.
Projetos de inovação são geralmente complexos,
não lineares e envolvem uma intricada composição
de riscos e incertezas (GARUD; GEHMAN; KUMA-
RASWAMY, 2011; STEFANOVITZ; NAGANO, 2014).
Por isso, sem uma gestão eficaz de riscos perdem rapi-
damente o controle, consomem recursos incalculáveis e
não chegam a lugar algum. De fato, práticas adequadas
de gerenciamento de riscos têm forte relação com o
desempenho de projetos (CARVALHO; RABECHINI,
2015; ZWIKAEL; AHN, 2011), ainda mais quando
são projetos de inovação (KEIZER; HALMAN; SONG,
2002; O’CONNOR; RAVICHANDRAN; ROBESON,
2008). Entretanto, modelos rígidos e padronizados de
Gestão de Riscos (GRIS) podem não ser apropriados
para projetos de inovação. Ou seja, para projetos em
que o diferencial é a criação e a pesquisa, metodolo-
gias tradicionais não são suficientes (ROVAI; CATTINI;
PLONSKI, 2013). Isso acontece porque em várias
organizações os processos de mitigação são bastantes
conservadores e acabam impedindo ações só por não
terem sido completamente testadas e estabelecidas.
Em termos corporativos, como apontam Nagano,
Stefanovitz e Vick (2014), não bastam processos estru-
turados para que a inovação ocorra, pois é necessário
um contexto que promova essa espécie de ação. E esse
contexto passa por uma GRIS apropriada. Por exemplo,
Garud, Gehman e Kumaraswamy (2011) verificaram
que práticas que encorajam a iniciativa dos colabora-
dores não podem ficar de fora em projetos de inovação.
Assim, para entender o papel que os riscos
desempenham nas empresas inovadoras brasileiras,
foram analisados, neste trabalho, os dados das cinco
rodadas da Pesquisa Industrial de Inovação Tecnoló-
gica (PINTEC) (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEO-
GRAFIA E ESTATÍSTICA, 2002, 2005, 2007, 2010 e
2013). Fora as dificuldades de natureza estritamente
financeiras (falta de recursos e de financiamento), a
pesquisa revelou que Riscos Econômicos Elevados
representam um grande obstáculo para o desenvolvi-
mento de seus projetos de inovação. Por volta de 80%
das empresas afirmam ter tido esse tipo de gargalo.
Ou seja, a elaboração de um processo de gestão de ris-
co aderente à inovação, para que as empresas tenham
mais segurança no desenvolvimento das suas ideias, é
certamente uma estratégia adequada.
Considerando esses indicativos, desenvolveu-se
neste trabalho uma metodologia de GRIS em que
a aprendizagem organizacional, nas diferentes fases
dos projetos de inovação, é estruturada em uma Lista
de Itens Relevantes (LIR). Seguindo a metodologia
proposta, a LIR é utilizada para gerar a ferramenta de
análise dos riscos do processo decisório.
Para averiguar se metodologias desse tipo têm
sido desenvolvidas e estudadas atualmente, realizou-
-se um cruzamento na base SCOPUS para os últimos
dez anos (2005 a 2015) usando o termo “knowledge
management” em conjunto com as palavras: risk e in-
novation. A pesquisa foi realizada para título, abstract e
keyword. O resultado obtido identificou 49 trabalhos,
sendo que apenas três deles tratam especificamente
de metodologias de GRIS em projetos de inovação
$/+$:$5,$-$&48,(5528; 3$5$32-
NARIS, 2012; SPERO et al., 2012). A maior parte dos
outros papers resultante da busca já mencionada, ou
objetiva analisar os riscos da implementação de um
processo de distribuição de conhecimento, ou trata da
integração entre Gestão do Conhecimento e GRIS em
projetos que não são de inovação.
Nesse sentido, este trabalho preenche uma lacuna
da literatura apresentando uma forma de alinhar o
tratamento dos riscos da inovação à gestão do conhe-
cimento corporativo.
Como resultado dessa metodologia, o conhe-
cimento existente a respeito do projeto pode ser sis-
tematizado. Foram reduzidos os riscos à medida que
se gerou e agregou conhecimento, na medida certa,
para o desenvolvimento da inovação (CUI; CHAN;
CALANTONE, 2014). Seguindo argumento similar,
Rice, O’Connor e Pierantozzi (2008) concluíram que
práticas de GRIS orientadas à aprendizagem facilitam o
sucesso, mesmo quando se trata de inovações radicais.

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