Missão a Moscou: Hollywood e cinema de propaganda americano durante a segunda guerra mundial.

AutorMichael McDonald Hall, Michelly Cristina da Silva
CargoPossui graduação em História pela Stanford University (1963) - Bacharel em História (dezembro/2009) pela Universidade Estadual de Campinas.
Páginas262-291
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Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.11, n.98, p. 262-291, jan/jun. 2010
Missão a Moscou: Hollywood e cinema de propaganda americano
durante a segunda guerra mundial.
Mission to Moscow: Hollywood and American Cinema Propaganda
During the Second World War.
Michael McDonald Hall 1
Michelly Cristina da Silva2
RESUMO
O estudo de questões ligadas à cultura, à sociedade e à política utilizando como f ontes
primárias mídias visuais, entre elas o cinema, é uma metodologia há algum tempo
difundida e aceita como possível por grande maioria dos historiadores. Neste artigo,
tentamos descrever como a partir da escolha e da crítica de um filme produzido por
Hollywood durante a Segunda Guerra Mundial pode-s e chegar a uma série de detalhes
sobre a sociedade que permitiu e fomentou sua veiculação. A produção de um filme
como M issão a Moscou (Mission to Moscow , Michael Curtiz, 1943), classificado como
pró-soviético em sua essência e reivindicador de uma verdade esclarecedora nos
indicam que política e entretenimento podem se unir para projetar no cinema certas
idéias e imagens a fim de (re)criar um estereótipo, seja ele de pessoas, países ou
regimes.
Palavras-chave: Hollywood. Rússia. Segunda Guerra Mundial. Propaganda.
ABSTRACT
The study of questions related to culture, society and politics, using as primary sources
visual media, including cinema, is a method that has been widely used and accepted f or
some time by the great majority of historians. This article seeks to describe how, starting
from the analysis of a film produced by Hollywood during the Second World W ar, one
can discover a series of details about the society that permitted and encouraged its
circulation. The production of a film like Mission to Moscow (Michael Curtiz, 1943),
classified as essentially pro-Soviet and claiming to clarify the truth, indicates to us that
politics and entertainment can join together to project in film certain ideas and images so
as to (re)create a stereotype, be it of people, countries or regimes.
Key Words: Hollywood. Russia. Second World War. Propaganda.
1 Possui graduação em História pela Stanford University (1963) , mestrado em History pela Columbia
University (1965) e doutorado em History pela Columbia University (1969) . Atualmente é Professor MS-4
da Universidade Estadual de Campinas. Tem experiência na área de História. Atuando principalmente
nos seguintes temas: Imigração. mhall@that.com.br
2 Bacharel em História (dezembro/2009) pela Universidade Estadual de Campinas. Bolsista de Iniciação
Científica pelo CNPq. Desenvolve pesquisa nas áreas de Cinema e História e tem como objeto de estudo
o cinema norte-americano durante as décadas de 40 e 50. michellycristina@gmail.com
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Cad. de Pesq. Interdisc. em Ci-s. Hum-s., Florianópolis, v.11, n.98, p. 262-291, jan/jun. 2010
1 INTRODUÇÃO
A utilização de mídias visuais como fonte primária pelo historiador é um tema
que já foi deveras e proveitosamente discutido dentro do meio acadêmico. Atualmente,
muitas são muitas as produções cinematográficas, sem ter necessariamente um cunho
histórico em seu enredo, que são utilizadas nas aulas de diferentes disciplinas no em
curso de graduação em História. Além disso, o filme vem, sob diferentes propostas e
abordagens, ganhando cada vez mais espaço não apenas nos meios universitários,
mas também entre professores de escolas de primeiro e segundo ciclo no país.
Contudo, a aceitação de um filme como um possível e factível objeto do ofício do
historiador e a criação de uma metodologia específica para assim tratá -lo, bem como
para analisá-lo, passou por um caminho longo e arenoso, similar, pelo menos
temporalmente, a esta nova forma de entretenimento característica do século XX.
Foi ainda no fin al do seu século de “criação” que o cinema foi alvo de seu
primeiro estudo. Em 1898, o câmera francês Boleslas Matuszewski publicou um texto
intitulado na revista Cultures intitulado “Une nouvelle source de l‟histoire: création d‟un
dépôt de cinematographie historique” (MORETTIN, 2003, p.11). Atualmente, ele
considerado como o primeiro intento de observar esta nova tecnologia a partir de seu
valor histórico. Este primeiro texto inaugural, feito apenas três anos depois que os
irmãos franceses Louis e Auguste Lumière tivessem filmado suas primeiras imagens
animadas, A chegada do trem na estação (1895) e O perários saindo da fábrica (1895)
com a caixa de quatro quilos por eles patenteada, o cinematógrafo, marcaria o início
das discussões do filme como um documento histórico. Ironicamente, ele não foi escrito
por um historiador de profissão, mas por um antigo funcionário da Société Lumière que,
como outros inúmeros rapazes, havia percorrido o mundo registrando os fotogramas
animados que o cinematógrafo agora possibilitava.
Os anos posteriores ao surgimento das imagens animadas com os irmãos
Lumière pr esenciaram verdadeiras r evoluções n a “captação” destas imagens, que
passaram de simples takes do cotidiano para a encenação de verdadeiras histórias de
caráter ficcional. Ainda na França, o ilusionista Georges Méliès f oi o responsável por
transformar este ato quase mecânico em sua origem em um completo espetáculo
cinematográfico. Seu filme mais conhecido, Le voyage dans la lune (Viagem à lua), de

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