Mito e imagem
Autor | Furio Jesi |
Páginas | 93-96 |
doi:10.5007/1984-784X.2014v14n22p93
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MITO E IMAGEM∗
Furio Jesi
Sobre o palco desses itinerários do imaginário vimos o surgimento de figu-
ras como o Rei, como o Duque; queria fazer, agora, aparecer outra figura: o
Mago, ou o Vidente. A palavra “figura” já oferece os preliminares da evocação.
Como nos encontramos num teatro, e num teatro ao modo italiano, “figura”
significa a parte, o âmbito icônico reservado em um “cenário” às atribuições
características de um ator e, em particular, de um ator-máscara. No entanto,
além da malha que compõe o enredo, “figura” é também a presença plástica
do ator naquela parte: um módulo, portanto, uma forma cavada, mas também
oquid completamente redondo que lhe corresponde e que vive sua própria
vida, tanto que é capaz de perverter, ao mesmo tempo, o módulo e a forma
cavada.
“Figura”, nesse contexto, não é sinônimo de “imagem”. Num dicionário
qualquer de alemão-italiano, encontramos: Bild = figura, imagem; Gestalt =
forma, figura. Um dos principais ensaios teóricos de K. Kerényi se intitula Bild,
Gestalt and Archetypus; na edição italiana esse título foi traduzido por Imma-
gine, figura, archetipo: aprovando ou não aprovando essa tradução, aquilo que
nos interessa, agora, é estabelecer qual é o campo de referência dos dois vo-
cábulos Bild e Gestalt, no contexto da assim chamada ciência do mito, ou da
mitologia, ou pelo menos daquele setor da ciência do mito ou da mitologia
que vê um de seus protagonistas, K. Kerényi, em diálogo, ou em polêmica com
Wilamowitz, com Walter F. Otto, com Thomas Mann, com Hermann Hesse e
com C. G. Jung.
Mito e immagine.
Riga, Milano, n. 31 (Org. Marco Belpoliti e Enrico Manera), p. 255-257, 2010.
Tradução de Davi Pessoa Carneiro
∗Este ensaio de Jesi é proveniente da leitura do ensaio de Károly Kerényi “Bild, Gestalt und
Archetypus”, o qual foi apresentado no Congresso Internacional de Filosofia, em Roma, em
1946, publicado pela primeira vez em tradução italiana como “Immagine, figura, archetipo”,
nos Atti del Congresso (v. II, L’esistenzialismo, Milano: Ed. Castellani, 1948) e posterior-
mente em KERÉNYI, Károly. Miti e misteri. Org. e trad. Angelo Brelich. Torino: Einaudi, 1950
(2. ed. Torino: Boringhieri, 1979, com organização de Furio Jesi).
|boletim de pesquisa nelic, florianópolis, v. 14, n. 22, p. 93-96, 2014|
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