Mobilização contra as plantações de eucalipto na Indonésia

AutorHarris Putra
CargoHarris Putra faz parte da Indonesian Peasant Federation [Federação Indonésia de Camponeses], a Via Campesina Indonésia.
Páginas87-89
DEPOIMENTO
MOBILIZAÇÃO CONTRA AS PLANTAÇÕES
DE EUCALIPTO NA INDONÉSIA
HARRIS PUTRA *
Em 1984, uma empresa de celulose e papel chamada PT Inti Indorayon Utama
passou a operar em Sumatra (Indonésia), com capital e tecnologia vindos da
Europa. E receberam grandes concessões de terra: uma ilha inteira no lago de
Toka (a Ilha Samosir, no Norte de Sumatra) foi concedida à empresa para a
plantação de eucalipto, que também usou um milhão de hectares de terra em
Riau, uma outra província de Sumatra.
Isso ocorreu durante a ditadura de Suharto (1967-1998). O governo estava
promovendo as plantações de eucalipto, dizendo que era bom para o meio
ambiente: iria criar florestas de crescimento rápido. Eles falavam sobre
reflorestamento, mas, na verdade, era uma plantação industrial de madeira.
Estavam dizendo que com essas novas plantações não teríamos mais que
contar com a velha madeira.
As empresas estavam se beneficiando duplamente desse programa de
governo: por um lado, estavam recebendo empréstimos livres de juros para
estabelecer os seus negócios (0% de juros). E, por outro, tinham o direito de
cortar a floresta velha e vender a madeira para abrir a terra para a plantação.
Com o tempo, muitas outras empresas começaram a plantar eucalipto e outras
árvores nas terras ao redor da empresa para fornecer celulose e papel para a
fábrica. A empresa tomou a terra do povo de Batak, uma população indígena
que vivia nessa área.
Naquela época, os agricultores não sabiam o que era eucalipto. Tentamos
saber mais sobre ele. E, quando a empresa começou a operar, percebemos
que não era bom para o ambiente e as pessoas. Percebemos que as árvores
eram muito sedentas por água. Não sabíamos que iam construir uma fábrica
de celulose e papel próxima à plantação. Mas eles montaram a fábrica logo
depois que começaram a plantação. Isso criou danos ambientais terríveis. A
fábrica estava usando maquinaria velha da Europa, uma tecnologia que tinha
sido considerada ultrapassada lá devido ao seu impacto ambiental negativo.
Ela usa cloro, liberando dioxinas no meio ambiente. O solo, o ar e a água
ficaram extremamente poluídos. A fábrica de polpa estava próxima de um
grande rio, o rio Asahan. É o segundo maior rio do mundo depois do rio
Amazonas.
Milhares de pessoas vivem próximas a esse rio. Elas usam a água e comem
os peixes e os siris do rio para o seu consumo diário de proteína. A população
local começou a reclamar da poluição. Víamos uma água preta saindo da
fábrica. Mas a administração disse que a água preta não significava poluição:
“o café também é preto”, eles disseram. Mas apareceram doenças de pele, a
produção de arroz caiu e as reservas de peixe foram reduzidas. Havia muitos

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