O movimento de mulheres camponesas em movimento: Relações e trajetórias em Santa Catarina

AutorFernanda Folster de Paula
CargoDoutoranda do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UNICAMP
Páginas192-221
Direito autoral e licença de uso: Este artigo está licenciado sob uma Licença Creative
Commons. Com essa licença você pode compartilhar, adaptar, para qualquer fim, desde que
atribua a autoria da obra, forneça um link para a licença, e indicar se foram feitas alterações.
DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7984.2022.e77241
192
192 – 221
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O Movimento de Mulheres
Camponesas em movimento: relações
e trajetórias em Santa Catarina
Fernanda Folster de Paula1
Resumo
Este artigo investiga as mudanças nas reivindicações, nos repertórios e nas identidades dos mo-
vimentos sociais, utilizando uma abordagem relacional. Observando o Movimento de Mulheres
Camponesas em Santa Catarina (MMC-SC), são analisadas as mudanças do movimento em seus
37 anos de história, argumentando que a análise, a partir das relações que o movimento estabelece
com outros atores sociais, como Estado, partidos políticos, e demais organizações da sociedade
civil, é uma chave de leitura importante para entender suas mudanças. É nas relações sociais que
o MMC-SC negocia e constitui suas reivindicações e seus repertórios, e demarca as diferenças que
constituem os sujeitos representados. A partir da análise de entrevistas semiestruturadas realizadas
com militantes do MMC, de revisão bibliográca, e da análise de publicações do movimento, este
artigo retoma algumas destas relações para entender as mudanças pelas quais passou o movimen-
to social, argumentando as potencialidades de um estudo relacional.
Palavras-chave: Movimento de Mulheres Camponesas. Gênero. Campesinato. Repertórios.
Identidade.
Introdução
Este artigo2 investiga as mudanças nas reivindicações, nos repertórios e
nas identidades dos movimentos sociais (MSs), argumentando que uma
1 Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Mestre em Sociologia na mesma instituição. E-mail: fer.folster@gmail.com
2 Este artigo foi elaborado a partir dos resultados da pesquisa de mestrado “Os sentidos da terra para as
mulheres rurais organizadas”, que contou com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo (FAPESP), por meio do processo nº 2018/12938-7.
Política & Sociedade - Florianópolis - Vol. 21 - Nº 51 - Mai./Ago. de 2022
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abordagem relacional no estudo dos MSs, de como eles se constituem e
transformam na relação com diferentes atores sociais, possibilita ganhos
analíticos para entender suas mudanças. Para tanto, observo o caso do Mo-
vimento de Mulheres Agricultoras (MMA), integrado em Movimento de
Mulheres Camponesas (MMC) em 2004, passando a constituir a seção
estadual deste movimento. Este é um movimento privilegiado para a inves-
tigação proposta, devido à sua história de 37 anos de existência e às amplas
mudanças pelas quais passou nesse período.
Constituído em 1983, no município de Nova Itaberaba/SC, o MMA
tinha como primeiras demandas a conquista de direitos trabalhistas para
as mulheres rurais, como direito à previdência e ao salário-maternidade.
Desde as primeiras mobilizações, a diferença de gênero foi um elemento
central no ativismo das mulheres, animadas pelas discussões políticas pro-
movidas pelas atividades da teologia da libertação na região, e pelo crescen-
te ativismo no interior dos sindicatos rurais nos anos 1980 (DE PAULA,
2020a). Em 1983, mulheres rurais do município de Nova Itaberaba/SC,
criaram uma chapa de oposição sindical, que em 1984 se transformou em
Organização de Mulheres Agricultoras, cujo objetivo era a luta pelos direi-
tos trabalhistas das mulheres (MMA, 1992). Em 1986, esta organização se
transformou em MMA – movimento social exclusivo de mulheres rurais
(MMA, 1992).
Movimentos sociais são caracterizados, neste artigo, como organiza-
ções não estatais que competem por recursos (TARROW, 2009) e, ao mes-
mo tempo, expressam uma identidade coletiva3 – no caso, como mulheres
agriculturas, num primeiro momento, e como mulheres camponesas, a partir
de 2004 – identidade que se modica mediante a atuação do próprio mo-
vimento: “[...] os participantes de movimentos nacionais fazem reivindica-
ções às autoridades, mas também armam suas próprias identidades – ou
das populações em nome das quais dizem falar – como atores dignos, signi-
cativos e solidários” (MCADAM; TARROW; TILLY, 2009, p. 22). Não
3 Por identidade coletiva entendo “[...] o processo de significação pelo qual experiências comuns em torno de ei-
xos específicos de diferenciação – classe, casta ou religião – são investidas de significados particulares” (BRAH,
2006, p. 371-372). Em suma, identidades coletivas não são essenciais, mas construídas a partir das diferentes
experiências individuais, e expressas coletivamente.

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