Mulheres e esporte: invisibilidades visíveis no skate e fisiculturismo
| Autor | Silvana Vilodre Goellner, Angelita Alice Jaeger, Márcia Luiza Machado Figueira |
| Páginas | 293-310 |
Niterói, v. 10, n. 2, p. 293-310, 1. sem. 2010 293
MULHERES E ESPORTE: INVISIBILIDADES
VISÍVEIS NO SKATE E NO FISICULTURISMO
Silvana Vilodre Goellner
E-mail: goellner@terra.com.br
Angelita Alice Jaeger
UFSM
E-mail: agelufsm@yahoo.com.br
Márcia Luiza Machado Figueira
E-mail: marfig@terra.com.br
Resumo: Fundamentada nos Estudos Femi-
nistas e de Gênero, a partir da perspectiva
pós-estruturalista de Michel Foucault, este
texto analisa a pouca visibilidade conferida
às atletas mulheres em duas obras tomadas
como referência em modalidades esportivas
cultur alment e considerad as de domíni o
masculino: o skate e o fisiculturismo. Ao
dialogarmos essas obras com documentos
de diferentes naturezas, identificamos o
quanto o esporte é atravessado por rela-
ções de poder e por distinções de gênero
pois produzem posições de sujeito muito
diferenciadas para os/as atletas, projetando
luzes sobre os homens e desvanecendo as
imagens das mulheres.
Palavras-chave: mulher; esporte; visibili-
dade.
294 Niterói, v. 10, n. 2, p. 293-310, 1. sem. 2010
Os corpos potencializados, hígidos, saudáveis, sensuais, magros e sexualiza-
dos tornaram-se centrais na cena contemporânea. São os referentes visuais deste
tempo cuja espetacularização se dá, não apenas, mas também, pela produção
de uma homogeneidade visual que converte em sombra as imagens dissonantes.
No campo do esporte, essa homogeneização se opera de diferentes maneiras e
sobre ela centraremos nossa análise, mediante a pouca visibilidade conferida às
atletas mulheres que ousam adentrar nas modalidades culturalmente conside-
radas como masculinas ou masculinizadoras.
Considerando, ainda, que o esporte é um local de generificação dos corpos,
este texto analisa alguns silenciamentos acerca da inserção e participação das
mulheres em duas modalidades: o skate e o fisiculturismo. Para tanto, analisa
duas obras que, além de se apresentarem como principais referências dessas
modalidades, contemplam uma narrativa historiográfica que destaca alguns
acontecimentos e personagens considerados como fundamentais para a estru-
turação destes esportes nos Estados Unidos e no Brasil. São elas: Enciclopédia de
Fisiculturismo e Musculação, de Arnold Schwarzenegger (2001) e Onda Dura: 3
décadas de Skate no Brasil, editado por Eduardo Britto no mesmo ano.
As análises desenvolvidas encontram sua ancoragem teórica e metodológica
em vertentes dos Estudos Feministas e de Gênero, inspirados na perspectiva pós-
-estruturalista de Michel Foucault, especialmente, nas questões afetas à produção
dos discursos. Apoiadas nestes campos teóricos, partimos do pressuposto de
que as produções discursivas que circulam em torno do skate e do fisiculturismo
produzem aquilo que nomeiam ou que deixam de mencionar. Em outras palavras:
a escassez de referências acerca da existência de mulheres praticantes desses
esportes não implica afirmar sua ausência. As fontes aqui revisitadas indicam
que, desde seus primórdios, elas vêm protagonizando diferentes formas de
vivenciá-los tendo em vista o silêncio narrativo sobre essa presença.
Vale lembrar que a narrativa historiográfica é uma construção discursiva
que pode fazer lembrar e, também, fazer esquecer, na medida em que, ao contar
sobre um tempo que já não é, tanto celebra o que deve ser lembrado quanto
invisibiliza o que deve ser esquecido. Nas palavras de Michel de Certeau: “Toda a
pesquisa historiográfica se articula com um lugar de produção sócio-econômico,
político e cultural e está submetido a imposições, ligada a privilégios, enraizada
em uma particularidade” (DE CERTEAU, 1982, p. 66). Razão pela qual, “o mesmo
objeto de investigação pode ser interpretado por diferentes práticas discursivas
[...] ao mesmo tempo em que, em cada uma destas práticas, há diferentes leituras
interpretativas no tempo e no espaço” (JENKINS, 2004, p. 24).
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