Mulheres na dança do movimento Hip Hop: a construção do sujeito reflexivo a partir de uma nova pedagogia de gênero

AutorAna Paula Hora Alves, Déborah M. Moraes
Páginas31-46
Niterói, v. 10, n. 1, p. 31-46, 2. sem. 2009 31
MULHERES NA DANÇA DO MOVIMENTO
HIP HOP: A CONSTRUÇÃO DO SUJEITO
REFLEXIVO A PARTIR DE UMA NOVA
PEDAGOGIA DE GÊNERO
Ana Paula Alves
Universidade Gama Filho
E-mail: alvespnana@hotmail.com
Déborah M. Moraes
Resumo: O estudo interpreta as razões que
levam jovens mulheres de Pedra de Gua-
ratiba, periferia oeste do Rio de Janeiro, a
se envolver com a dança do movimento
hip hop. O grupo é singular, pois 70% são
mulheres que dançam o break genuíno.
A pesquisa segue proposta de Análise do
Discurso do Sujeito Coletivo, que oper a
um “triálogo” entre o discurso dos sujeitos
individuais, sujeito coletivo e etn ografia.
Os resultados confirmaram os motivos da
predominância das mulheres, que dan-
çam pela fruição e pe la superação da
força por meio da técnica. A motivação
para o break, acolhida e estimulada pelos
líderes, mostra uma disputa de gênero,
em que as dançarinas se incluem a partir
da construção de um projeto reflexivo do
eu e do pertencim ento a um grupo. A
proposta favorece a autocrítica feminina
na execução do break, mostra o orgulho
que o movimento das dançarinas provoca
nos líderes e contribui para a valorização
da coletividade.
Palavras-chave: mulheres; dança; hip hop;
sujeito reflexivo; pedagogias de gênero.
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Introdução
O movimento urbano e cultural hip hop foi criado nos Estados Unidos, na
virada da década de 1960 para a década de 1970, na cidade de Nova Iorque,
no bairro do Bronx, por jovens negros, caribenhos e hispânicos que se encon-
travam em situação de pobreza e segregação. O jamaicano Kool Herc e seu
discípulo Grand Master Flash começaram a promover bailes de rua nesse bairro
com a utilização de técnicas diferentes de manipulação das aparelhagens de
som. Essas técnicas trazidas da Jamaica, junto com a tentativa de prolongar
trechos mais marcados das músicas para valorizar a nova forma de dançar dos
jovens, deram origem às batidas, mixagens e quebradas de um estilo musical
que passou a ser conhecido como rap. Muitos jovens que frequentavam as
festas desenhavam nas paredes, outros cantavam e começavam a apresentar
um jeito próprio de se vestir que os identificava enquanto grupo. Os bailes se
configuravam, então, como um grande encontro artístico e cultural.
Os jovens passaram a utilizar diversas atividades artísticas no enfrentamento
das adversidades que resultaram nos cinco elementos do movimento hip hop:
o break,1 dança de movimentos acrobáticos e quebrados; o DJ, abreviação
de disk jockey, pessoa que opera a aparelhagem de som, executando as
mixagens e quebradas; o MC, abreviação de máster of ceremony, também
chamado de rapper, cantor e, muitas vezes, autor das letras do rap; o graffiti,
inserção de letras, palavras e desenhos com spray ou tinta látex nos muros das
cidades; e a consciência, que por meio dos outros quatro elementos estimula
os praticantes do hip hop a discutir as desigualdades sociais e econômicas,
utilizando a afirmação da negritude como mecanismo de resistência e reivin-
dicação de igualdade de direitos. Conforme se vê, o hip hop é um movimento
negro juvenil, de afirmação e valorização afrodescendente.
No Brasil, segundo Kehl (2000), o hip hop surgiu nos bairros da periferia de
São Paulo, nos bailes black, na década de 1970. Em 1984 começou a ganhar
evidência com a organização de um encontro de hip hop na estação de metrô
de São Bento, que contou com a participação de vários grupos de break, gra-
fiteiros, cantores de rap e disk jockeys. Na década de 1990 teve sua explosão
no país com a entrada do rap na mídia.
1 A nomenclatura dança de rua é muito utilizada em trabalhos acadêmicos (MATSUNAGA, 2006;
RECKZIEGEL, 2004), porém, para muitos adeptos do movimento hip hop, ela não engloba todos
os aspectos da sua dança que é mais do que os movimentos coreografados do street dance. As
competições ou batalhas são de break, assim como seus praticantes são chamados de b-boy
(break-boy) e b-girl (break-girl).
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