Mulheres e os significados da ginástica

AutorCláudia Xavier Correa
Páginas47-65
Niterói, v. 10, n. 1, p. 47-65, 2. sem. 2009 47
MULHERES E OS SIGNIFICADOS
DA GINÁSTICA
Cláudia Xavier Correa
Faculdade Metodista Granbery
E-mail: cxcorrea@yahoo.com.br
Resumo: Esta pesquisa analisou o discurso
de mulheres praticantes de Ginástica se-
guindo abordagem qualitativa em entrevis-
ta a 14 mulheres. Apresentou a luta históri-
ca pela igualdade de direitos; padrões de
beleza vinculados ao exercício; avanços
no espaço público; mulher e exercício. Os
significados encontrados foram analisados
em cinco eixos: motivação e finalidade
na Ginástica; significados da p rática; o
cotidiano e a Ginástica; imaginário familiar
sobre a mulher na G inástica; alegri as e
frustrações com a prática da ginástica. Os
resultados encontrados atribuem inúmeros
benefícios à ginástica levando a um coti-
diano de qualidade.
Palavras-chave: ginástica; mulheres; co-
tidiano.
Revisão de literatura
Nos últimos anos, a mulher tem vivido diversas transformações físicas. Sua
história passa pela história de seu corpo. Em cada época um modelo definia
o per fil corporal, de acordo com os valores, as exigências, as crenças e os
interesses da classe dominante. No início do século XX o corpo feminino era
considerado fraco, lerdo, lugar do pecado, sua única função era gerar filhos
e amamentá-los.
Nas civilizações antigas, a beleza feminina estava impregnada de resso-
nâncias negativas; as mulheres eram consideradas seres pérfidos e nefastos. No
papel principal ainda reinava o simbolismo atribuído à primeira mulher – Eva.
Seus encantos e beleza conseguiram lançar Adão no caminho do pecado e,
então, ao longo da Idade Média a hostilidade em relação à aparência femini-
na se fez presente, pois os atrativos estéticos serviam para tentar os homens. O
desenho do modelo da primeira mulher a reduzia a um ser inferior, sem brilho,
desvalorizado, desprezado, invejoso e perigoso. Somente a Virgem Maria, mãe
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arte medieval não procura despertar a admiração pelo corpo sedutor: dedica-
-se a inculcar o medo da beleza feminina, a exprimir seus laços com a queda
e com satã, comenta Lipovetsky.1
A mulher era considerada um mal necessário, confinada às atividades sem
brilho, um ser inferior, por muitas vezes desvalorizado e desprezado pelos homens. Foi
preciso esperar a Renascença para que a mulher passasse a ser adorada como o
objeto mais belo e o maior dom que Deus estendeu à criatura humana. A mulher
foi consagrada como emanação da beleza divina e elevada à condição de anjo.
Registra-se então a chegada da segunda mulher. E, citando novamente Lipovetsky,
“Mulher bela, mulher divina: nos culos XV e XVI instalou-se um processo excepcional
de dignificação da aparência feminina, de celebração da sua supremacia estética,
do qual somos herdeiros diretos”.2
Sacraliza-se a esposa-mãe-educadora, colocando a mulher em um trono,
exaltando sua natureza, sua imagem e seu papel. O sexo feminino foi, então,
idolatrado, entretanto, não se aboliu a hierarquia social dos sexos. Esse belo sexo,
a mulher anjo, tinha um sentido de total passividade, de ociosidade. Reclusa
aos ambientes mais privados e totalmente submissa aos comandos masculinos.
É claro que o triunfo estético do feminino não subverteu em nada as rela-
ções hierárquicas reais que subordinam o feminino ao masculino. Sob muitos
aspectos, pode-se observar sua contribuição para reforçar o estereótipo da
mulher frágil e passiva, da mulher inferior em espírito, condenada à dependência
em relação aos homens.3
Percebe-se que, durante séculos, a glorificação do belo sexo foi obra dos
poetas e dos artistas. A literatura e as artes plásticas exibiam poemas, canções
e pinturas enaltecendo o feminino; agora a beleza é própria da imprensa, das
indústrias do cinema, da moda, dos cosméticos e do fitness. Clínicas de estética,
revistas, academias, programas de televisão, aparelhos de exercício, cursos de
novas técnicas de cuidado do corpo e da mente, alimentos dietéticos, clínicas
das mais diversificadas medicinas alternativas, novas profissões e especialidades
médicas, produtos de beleza e sites na Internet sustentam um amplo conjunto de
profissionais e empresas que precisam aumentar o consumo de seus produtos
para aumentar seus lucros.
1 LIPOVETSKY, 2000: p. 113.
2 Ibidem: p. 114.
3 LIPOVETSKY, 2000: p. 237
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