A mediação da música na construção da identidade coletiva do MST

AutorApoliana Regina Groff - Kátia Maheirie
CargoMestre em Psicologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina - Doutora em Psicologia Social. Coordenadora da Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina
Páginas351-370
Artigo
A mediação da música na construção
da identidade coletiva do MST
Apoliana Regina Groff*
Kátia Maheirie**
Resumo
Este artigo trata de alguns olhares teóricos sobre movimentos sociais, com
objetivo de fundamentar nossa concepção acerca do Movimento dos Tra-
balhadores Rurais Sem Terra (MST). Reflete sobre a questão da identidade
coletiva como condição necessária tanto para o surgimento quanto para
a manutenção de um movimento social. De forma específica, se propõe a
trabalhar a música do MST como um dos elementos mediadores na constitui-
ção da identidade coletiva deste movimento. Esta discussão caminha para a
possibilidade de afirmar que a experiência dos sujeitos no MST mediados pela
música, pode proporcionar processos de identificação com o Movimento,
com os semelhantes que estão na luta, como também, com aqueles que os
diferenciam enquanto sujeitos de uma dada realidade social e política.
Palavras-chave: MST, música, identidade coletiva.
Introdução
Este artigo começou a ser escrito ao final de um semestre de lei-
turas e discussões em uma disciplina sobre movimentos sociais
(MS) e sociedade civil, cursada num Programa de Pós-Graduação
em Sociologia Política. O interesse por esta disciplina se deu em
decorrência da construção do projeto de pesquisa de mestrado
em psicologia social, que teve como objetivo geral compreender a
mediação da música no cotidiano do MST (GROFF, 2010).
* Mestre em Psicologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina.
Endereço eletrônico: poligroff@gmail.com.
** Doutora em Psicologia Social. Coordenadora da Pós-graduação em Psicologia
da Universidade Federal de Santa Catarina. Endereço eletrônico: maheirie@
gmail.com.
doi:10.5007/2175-7984.2011v10n18p351
352 p. 351 – 370
Volume 10 – Nº 18 – abril de 2011
A partir desta disciplina, realizamos, então, uma revisão biblio-
gráfica acerca de alguns olhares teóricos, procurando refletir sobre as
concepções dos “velhos” e dos novos movimentos sociais (NMS) e,
ancoradas nestas concepções, objetivamos analisar o caso específico
do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Neste senti-
do, o referencial bibliográfico acerca dos MS é muito mais amplo que
aqui pudemos apontar. Este artigo trata antes de uma breve incursão
na produção científica acerca do tema, visando, de forma específica,
compreender o lugar da música no MST de Santa Catarina.
Portanto, ancorada às reflexões sobre a condição do MST
hoje, como movimento social, está nossa experiência de pesquisa
de campo realizada em contextos e eventos coletivos do MST em
Santa Catarina (SC). A investigação consistiu na realização de nove
entrevistas com sujeitos sem-terra, procurando abordar as media-
ções que as músicas engendram no cotidiano deste movimento
social. O contexto e os eventos pesquisados foram o Acampamento
Irmã Jandira, localizado no planalto do estado, e os eventos coleti-
vos foram a Comemoração dos 24 anos do Movimento1 em SC e o
Primeiro Encontro Regional de Violeiros do MST, ambos realizados
no município de Abelardo Luz.
As entrevistas foram abertas e com roteiro norteador, onde
buscamos conhecer os momentos e lugares onde a música está
presente, qual a relação histórica que eles têm com a música e
qual o sentido que atribuem a ela. De posse destas informações,
procedemos uma análise de discurso com base nas contribuições
de Vygotski e Bakhtin, compreendendo que o pesquisar implica
em uma relação dialógica que envolve múltiplas vozes na produção
daqueles sentidos.
Como parte do resultado desta pesquisa, tecemos este artigo
procurando problematizar a questão da identidade coletiva como
condição necessária tanto para o surgimento quanto para manu-
tenção dos movimentos sociais, já que entendemos que estes não
surgem somente das demandas que são materiais e objetivas, mas de
processos dialéticos que envolvem subjetividades/objetividades.
1 Quando estivermos nos referindo ao MST, a palavra Movimento estará com a
primeira letra em maiúsculo.

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT