Da inteligência parcial ao pensamento completo: desafios da ciência e da sociedade contemporânea

AutorMaria Cecília de Souza Minayo
CargoDoutora em Saúde Pública. Pesquisadora Titular da Fundação Oswaldo Cruz. Coordenadora científica do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (CLAVES), Rio de Janeiro
Páginas41-56
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Resumo
Este artigo apresenta uma discussão sobre várias noções teóricas e
metodológicas que hoje fazem parte do vocabulário do mundo das
ciências e das práticas profissionais como: multidisciplinaridade,
multiprofissionalidade, interdisciplinaridade, transdisciplinaridade
e pensamento complexo. Embora todos esses termos sejam
tratados no texto, mesmo que brevemente, o artigo aprofunda
a contribuição das teorias da complexidade, a partir de seus
pensadores mais renomados: Ludwig von Bertalanffy, Henri Atlan,
Ilya Prigogine e Edgard Morin. Entende-se que qualquer esforço
de interação entre ciências e práticas é bem vindo para ampliar
e aprofundar o conhecimento dos objetos. No entanto, essa
interação precisa ser cada vez mais iluminada por conceitos das
teorias complexas que apontam um futuro diferente para todas
as áreas das ciências, frente a questões como incerteza, ruídos
e crises que abrem possibilidades de escolhas e questionam
as características principais das ciências tradicionais como
regularidades, previsibilidade e verdades estabelecidas.
Palavras-chave: interdisciplinaridade, transdisciplinaridade, teorias
complexas.
* Doutora em Saúde Pública. Pesquisadora Titular da Fundação Oswaldo Cruz. Coorde-
nadora científica do Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge
Careli (CLAVES), Rio de Janeiro. Endereço eletrônico: Cecília@claves.fiocruz.br
DOI:10.5007/2175-7984.2011v10n19p41
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No mundo contemporâneo, o cidadão e o pesquisador se de-
frontam com muitas questões novas e importantes: o aumento
impressionante da expectativa de vida e descoberta para cura e
tratamento de muitas doenças; a produtividade agrícola aumentou
de forma significativa em muitas regiões do mundo; o desenvolvi-
mento tecnológico e o uso de novas fontes de energia geraram a
oportunidade de libertar a humanidade de muito trabalho árduo,
permitindo a criação e a expansão de todo um espectro de pro-
dutos e processos industriais; as tecnologias de comunicação, de
informação e de computação trouxeram oportunidades e desafios
sem precedentes para a comunidade científica e para a socieda-
de em geral. No entanto, houve também o aumento de algumas
inquietações: tendência à burocratização do fazer científico; fre-
quente domínio da pauta científica por interesses instrumentais
e econômicos; incerteza quanto aos impactos e aos riscos sociais
das tecnologias e das inovações sobre a vida humana e a natureza;
degradação ambiental e desastres tecnológicos que vêm contri-
buindo para desequilíbrios e exclusão social; fabricação e uso de
armamento sofisticado e armas de destruição em massa; desen-
volvimentos na área de medicina e de saúde produzidos à custa
de populações vulneráveis; e inclusive a antropologia e as ciências
sociais muitas vezes usadas como funcionalidade para a domina-
ção. Em resumo, a ampliação contínua do conhecimento científico
sobre a origem, o funcionamento e a evolução do universo e da
vida oferece à humanidade abordagens conceituais e práticas que
cada vez mais vem exercendo profunda influência sobre sua con-
duta humana e suas perspectivas sobre o futuro.
A resposta para tantos desafios do mundo atual se expressa
numa semântica superlativa que vai se incorporando ao dicionário
dos profissionais e investigadores das mais diferentes áreas, en-
tre elas, as da saúde. Eis alguns desses vocábulos: integralidade,
interdisciplinaridade, interfaces, multidisciplinaridade, interpro-
fissionalidade, multiprofissionalidade, transdisciplinaridade, in-
terrelações, interinstitucionalidade, internacionalização, e muitos

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