Neoliberalismo de resistência e espaço vivido as possibilidades para ação pública e para hegemonia

AutorUrânia Flores da Cruz Freitas
CargoDoutora em Desenvolvimento Sociedade e Cooperação Internacional
Páginas616-635
NEOLIBERALISMO DE RESISTÊNCIA E ESPAÇO VIVIDO: as possibilidades para ação pública e
para hegemonia
Urânia Flores da Cruz Freitas1
Resumo
Este artigo faz breve percurso histórico do neoliberalismo brasileiro para pensar caminhos possíveis na atualid ade, a partir
da ideia de “neoliberalismo desde abajo”, de território, de espaço vivido e da ação pública. Por meio de estudo teórico,
reflexivo e documental tem o objetivo de perceber a relação entre os modelos de neoliberalismo no território brasileiro e do
neoliberalismo praticado no espaço vivido, considerado aqui como neoliberalismo de resistência. Revela que as
desigualdades sociais não ap enas reproduziram, mas, fundamentaram as políticas públicas e são decorrentes do processo
do desenvolvimento capitalista. Essas desigualdades são intens ificadas com o advento do neoliberalismo, todavia, são
cotidianamente reinventadas no território, perturbam a hegemonia e podem ajudar viabilizar a ação pú blica.
Palavras-chave: Neoliberalismo de resistência; território; espaço vivido; ação pública; hegem onia.
RESISTANCE NEOLIBERALISM AND LIVING SPACE: the possibilities for pub lic action and for hegemony
Abstract
This article makes a brief historical overview of Brazilian neoliberalism in order to think about possible pa ths today, based on
the idea of “neoliberalismo desde abajo", territory, lived space and public action. Through theoretical, reflective and
documental study, it aims to understand the relationship between the models of neoliberalism in Brazilian territo ry and
neoliberalism practiced in lived s pace, considered here as neoliberalism of resistance. It reveals that social inequalities have
not only reproduced, but have been the basis for public policies and are the result of the capitalist development process.
These inequalities are intensified with the advent of neoliberalism; however, they are daily reinvented in the territory, disturb
hegemony, and can help make public action viable.
Keywords: Neoliberalism of resistance; territory; living space; public action; hegem ony.
Artigo recebido em: 25/07/2022 Aprovado em: 14/11/2022
DOI: http://dx.doi.org/10.18764/2178-2865.v26n2p616-635
1 Doutora em Desenvolvimento Sociedade e Cooperação Internacional - UnB/CEAM Mestre em Gestão e Políticas Públicas
da Educação - UnB-FE Especialista em Sindicalismo e Economia do Trabalho - Unicamp/Cesit Pedagoga. Pesquisadora
Colaboradora do Mestrado Profisisonal no PPGPPIJ/CEAM e-MAIL: uraniaflores@gm ail.com.
Urânia Flores da Cruz Freitas
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1 INTRODUÇÃO
A ideia central do artigo é apresentar como se deu o neoliberalismo no Brasil, seus efeitos
nos diferentes campos, e perceber como esse modelo se reproduziu. Esse modelo sustenta hoje as
políticas públicas do Estado e ajuda a garantir, na vertente capitalista, o neoliberalismo extremado no
território brasileiro, contudo, é também constituído pelas formas de organização popular por meio do
associativismo, cooperativismo e práticas informais de economia no espaço vivido. Assim, vamos
observar, também, arranjos populares por meio de suas práticas cotid ianas de sobrevivência e
resistência.
Para encontrar caminhos com a crise mundial que vivemos, é importante compreender as
dinâmicas locais de convivência e resistência populares construídas dentro de seus territórios. O
argumento é que o entendimento das táticas de sobrevivência das práticas populares, ou seja, o
neoliberalismo de resistência, se apresentam como potencializadoras de mudanças nas relações
humanas no espaço vivido e perturbam a hegemonia do modelo neoliberal advindo de cima para baixo.
A proposta colocada para o artigo é desafiadora, pois está inserida tanto em meio a idas e
vindas nas experiências no Brasil, quanto com as incertezas e complexidades teóricas dos conceitos
trabalhados. A tentativa é contribuir com o pensamento sobre o neoliberalismo, as práticas no espaço
vivido e nesse duplo movimento, perceber como possibilita a ação pública e impede a efetivação da
hegemonia no território. A proposta é lançar luzes no tocante às políticas públicas no Brasil e nas
possibilidades de mudanças com as práticas humanas cotidianas.
Na dinâmica mundial, latino-americana e nacional, é importante captar alguns movimentos
para compreender como o Brasil se colocou e se coloca do ponto de vista do neoliberalismo e de suas
opções políticas. É relevante compreender, também, como os movimentos das pessoas do andar de
baixo, criaram e criam saídas dentro da lógica capitalista neoliberal que perturbam cotidianamente a
hegemonia.
Ao observarem essa realidade, Gago (2014), Andrade (2019) e Cruz Freitas (2021)
demonstram que no capitalismo, a política neoliberal implantada no processo de globalização evidencia
os contrastes e diferenças que este sistema provoca dentro das sociedades, que atualmente estão
todas ao seu alcance.
Sob essa ótica, no caso brasileiro, o neoliberalismo aprofunda as desigualdades
estruturais, porque tem historicamente por escolha política de desenvolvimento: uma classe social a
privilegiar, um péssimo modelo de distribuição de renda, com efeitos amplos e maléficos na questão
social, em especial nas políticas públicas. O seu resultado é conhecido: aumento acentuado da
pobreza e da miséria, que desemboca no aumento das desigualdades, em um movimento circular

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