Neoliberalismo versus estado social: a insurgência dos novos movimentos sociais e os desafios para a contra hegemonia

AutorPaulo Cezar Martins Pinto
CargoUniversidade Católica de Salvador (Ucsal), Brasil
Páginas382-400
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 256, p. 382-400, maio/ago. 2022 | ISSN 2447-861X
NEOLIBERALISMO VERSUS ESTADO SOCIAL: A INSURGÊNCIA
DOS NOVOS MOVIMENTOS SOCIAIS E OS DESAFIOS PARA A
CONTRA HEGEMONIA
Neoliberalism versus social state: the insurgence of new social movements and the
challenges for counter hegemony
Paulo Cezar Martins Pinto
Universidade Católica de Salvador (Ucsal), Brasil
Informações do artigo
Recebido em 28/10/2022
Aceito em 28/11/2022
doi>: https://doi.org/10.25247/2447-861X.2022.n256.p382-400
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MARTINS PINTO, Paulo Cezar. Neoliberalismo versus
estado social: a insurgência dos novos movimentos
sociais e os desafios para a contra hegemonia. Cadernos
do CEAS: Revista Crítica de Humanidades.
Salvador/Recife, v. 47, n. 256, p. 382-400, maio/ago.
2022. DOI: https://doi.org/10.25247/2447-
861X.2022.n256.p382-400
Resumo
O presente artigo propõe discutir algumas questões da agenda
neoliberal a partir do desmonte do estado social e sua
repercussão na sociedade salarial, algo que vem do final do
século passado. Aborda sobre a emergência dos novos
movimentos sociais e como es ses novos atores passaram a
surgir como forma de renovação da atuação política na
democracia liberal. Também traz a importância dos novos
arranjos de participação que vem emergindo com uma nova
institucionalização perante o estado. Situa como as políticas
públicas de garantia dos direitos sociais tem sofrido com a nova
ordem internacional a partir da acumulação flexível no
capitalismo e propõe que a articulação dos novos movimentos
sociais, com postura contra hegemônica, alinhados aos novos
arranjos de participação política, podem ser cana is de
viabilidade para políticas intersetoriais, como forma de conter o
desmonte do que ainda resta do estado social.
Palavras-Chave: Neoliberalismo. Movimentos Sociais.
Participação Política.
Abstract
This article proposes to discuss some issues of the neoliberal
agenda based on the dismantling of the social state and its
repercussions on the salary society, something that comes from
the end of the last century. It addresses the emergence o f new
social movements and how these new actors began to emerge
as a way of renewing political action in liberal democracy. It also
brings the importance of new participation arrangements that
have been emerging with a new institutionalization before the
state. It situates how public policies to guarantee social rights
have suffered with the new international order based on flexible
accumulation in capitalism and proposes that the articulation of
new social movements, with a counter-hegemonic posture,
aligned with the new arrangements for political participation,
can be channels of viability for intersectoral policies, as a way to
contain the dismantling of what still remains of the welfare
state.
Keywords: Neoliberalism. Social Movements. Political
Participation.
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 256, p. 382-400, maio/ago. 2022.
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Neoliberalismo versus estado social... | Paulo Cezar Martins Pinto
INTRODUÇÃO
Dois fatores podem ser destacados sobre as mudanças no modelo econômico e na
forma de organização da sociedade contemporânea. O primeiro foi a reestruturação
produtiva, resultado da crise do capitalismo nos anos 1970 e que levou gradativamente ao
esfacelamento da organização da classe trabalhadora, principalmente o sindicalismo. O
segundo foi o fim do socialismo real que a despeito de revisar o marxismo da visão stalinista,
trouxe consigo a desesperança e levou o mundo a uma visão fatalista, visão esta, que se
sustentou na ideia de que o mundo neoliberal seria o único mundo possível (HARVEY, 2005,
p.11-15, BORÓN, 1996, p. 64).
Em suma, o neoliberalismo se tornou hegemônico como modalidade de
discurso e passou a afetar tão amplamente os modos de pensamento que se
incorporou às maneiras cotidianas de muitas pessoas interpretarem,
viverem e compreenderem o mundo (HARVEY, 2005, p.13).
As profundas transformações do mundo do trabalho atualmente são resultantes das
mudanças do sistema econômico do final do século passado, sobretudo, devido ao avanço
tecnológico e aos nov os modelos d e gestão que surgiram. Podemos dizer que estas
transformações, não apenas foram resultado da passagem do mod elo fordista para a
acumulação flexível, mas, também, de uma virada no âmbito político. Com o fim do
socialismo, contraponto ao capitalismo, que durou até a metade do século passado, houve a
crença de que o ne oliberalismo se constituiria a partir dali, como o único projeto de
modernidade viável (HARVEY, 2005).
A debacle dos países do socialismo real trouxe forte impacto sobre o movimento
operário em quase todo o mundo, pois, o modelo de economia planificada não foi apenas
uma alternativa ao capitalismo, mas, constituiu, como traz Santos (2010), corretivos ao modo
de produção capitalista.
Antunes (2000) destaca como no mundo hodierno houve mudança de postura política
nos movimentos sindicais, que ao perderem o referencial do socialismo, tiveram a tendência
em se realinhar com práticas mais sociais-democratas. Assim, esses movimentos
distanciaram-se dos modelos revolucionários quando buscaram maior aproximação com os
modelos reformistas.
Mais adiante serão analisadas como estas reformas tiveram repercussão na própria
gestão pública. Embora atualmente ocorra a pressão para diminuição da presença do estado

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