Antônio Cândido e os parceiros: para além do dualismo

AutorReinaldo Lindolfo Lohn
CargoDepartamento de História - Universidade do Estado de Santa Catarina
Páginas25-44
25
ANTONIO CANDIDO E OS PARCEIROS:
PARA ALÉM DO DUALISMO
Dr.ReinaldoLindolfoLohn
Departa mentodeHistó ria
UniversidadedoEstadodeSantaCatarina
Re su m o
Oartigo apre sentadimensõe sdeOs pa rceiros do Rio Bonit o,deAntonio Can-
dido,situandosuaimportâncianosdebatessobreaformaçãosocia ldoBrasil ,em
particularolugarhistóricodosgrupospopulares,noconjuntodediscussõessobre
amoder nizaçãobrasileiraeasidéiasdedualismo edial ética.
Palavr as-cha ve:modernização,grupospopulares,dualismo,dialétic a
Abst ract
Thearticlepresen tsdim ensionsofO sparce irosdo RioBo nito,ofAntonioCan-
dido,pointing outitsimportanceinthedeba tesonthesocialformatio nofBrazil,
inparticularthehistoricalplaceofthepopulargroups,inthesetofdiscussionson
theBrazilianmodernizationandtheideasofdualismanddialectic.
Key-wor ds:modernization,populargroups,dualism,dialética
Esteartigor emete-seau mainter pret açãodoBras il.Trata- sedaobraOs
parc eiros  do R io Bo nito : est udo s obre o  caip ira  paul ista  e a tr ansf orma -
ção d os s eus m eio s de v ida , tes e de douto rado em So ciol ogia defendida por
Antonio Candido em195 4e quesó vi ria aser publ icadad ez anos maistarde.
Recentem ente ho uve oque se pode ch amar um aredes cobertadeste livroq ue,
durante mui to temp o, chegou aser conside rado me nosimportante ou,aome-
nos,des loca donoc onju ntodaobra doconsagr ado críticolit erár io.Can dido é
reco nhec ido, d entr e vári os ou tros  estud os fu ndam entai s no c ampo  da teo ria
literári a, pelo cláss ico Form ação  da li tera tura  bra sile ira ( mome ntos  deci si-
vos) ,aliáses crit oaol ongo depr aticamenteomesm oper íodo deel aboraçãodo
trabalho emapr eçoepublicad oem1959.Ement revi staaLuizCarlosJackson,
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realizad a em 1 996, o autor chega mesm o a qu estionar se hoje em dia, este
livroaindae xisteacademica ment e,s eécitado,seélido ,achoquejápas souo
tempo de vida útil de le....O próprioJackson formu la um a res post a, ao de-
monstrar que em Os pa rcei ros do Rio B onit ose enc ontr a uma i nterpretaçã o
amplada formaçã o social brasileira , quesu blinha a import ânci a doshomens
pobres do cam po desde a co lonização. Àqueles q ue v iver am à s margen s do
latifúndio,afirma-s eimportânciahistóric adecisiva.1Nestesentidootextopode
sert omadode ntro deu mco njun tod eensaiossobreo Brasilesua constit uiçã o
sociocul tura l,queremetea Os Ser tões ,deEuclid esdaCunha el evaaa utor es
comoM aria Isau ra Pereira de Queiró z, Maria Sylvia de Carval ho Francoo u
Laura de Me lloe Souz a, al ém de dialogar com verte ntes dife renciadas, mas
fundador as, do pensamento social brasileiro, atravé sdoen saísmo deGilb erto
Freyre, SérgioB uarquedeH olanda eCaio Prad oJúnio r.
Olivro resultadepesquisarealizadaentre1947e1 954,sobretudonomu-
nicípio deBofete,antigoRioBonito,nointeriordeSãoPaulo,próximoaBotuca-
tu. Pa rtiu do  intere sse em e studar  uma for ma de p oesia p opular  expres sa no
Curur u, espé cie de  dança  cantad a do cai pira pa ulista , que e stava s ofrend o
divers asmodific açõesmani festasem modalidade squecorrespondiam àst rans-
formaç õesocorridas aolongodotemponoconjuntodaquelasociedade,sendoas
mais antigas caracterizadaspela est ruturamais simples, a rusticidade dos re-
cursos  estéti cos, o c unho co letivo  da inv enção,  a obedi ência a  certas  normas
religiosaseasmaisrecentesdemonstrandoindividualismoesecularizaçãocres-
centes .Aband onadooprojetoi nicial,osdadosdapesquisaencaminharamAn-
tonioCandido,paraosensodospr oblemasque afligemocaipir anessafasede
transi ção,comdestaqueparao problema elementarda subsistência, através
deumasociologiadosm eiosdevida,terminandoporumatomada deposição
face às cond içõesdoscamponeses estu dados,emfavor da reforma agrá ria.2
Os Nhô  Quim e N hô Bicu do e as N há Mari a, não  são, po rtanto , Jecas
Tatus,atéporqueavisãodeCand ido,segundoZildaIokoi,éimpr egnadadeum
certoe ncantamentocomamultiplicid adede níveisdecriaçãoedeproduçãoeo
entend imentode seu modo devidaa parentementedesprovidodelir ismo ebem
estar aoso lhosdasociedadeurbana.3MonteiroLobato éci tado umaúnicavez
emOsp arceiros doRi oBoni to,quandosãoreferidososestereótiposfixadosno
JecaTatu,demaneirainjusta,b rilhanteecaricatural.Candidodefendequeas
formas desociab ilidadepautadasnosmínimossociais dos campo nesescaipiras
contri buíamparasua independê ncia precária,longe dos ví nculosformaisde
explor açãodotrabalh onoBrasil,tend ogeralmenterecorridoàmobilidadeespa-
cial comoforma de superarasdifíceiscondições de acessoàte rra, valendo-se
dafamíliaedasrela çõesvicinais ,numame ntalidadedeacampamentoligadaà
REVISTA ES BOÇOS Nº 15  U FSC
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