A obra em pé de página: as notas de rodapé nos livros indigenistas de José de Alencar

AutorDaniela Casoni Moscato - Cláudio DeNipoti
CargoDoutoranda no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Bolsista da CAPES - Professor na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)
Páginas88-104
DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2013v20n29p88
A OBRA EM PÉ DE PÁGINA: AS NOTAS DE RODAPÉ
NOS LIVROS INDIGENISTAS DE JOSÉ DE ALENCAR
THE WORK ON A FOOTNOTE: FOOTNOTES ON THE
BOOKS ABOUT INDIGENOUS PEOPLES BY JOSÉ DE
ALENCAR
Daniela Casoni Moscato*
Cláudio DeNipoti**
Resumo: Este artigo procura compreender a nota de rodapé como elemento
constituinte da obra de José de Alencar, no sentido de que as construções discursivas
contidas nas notas de rodapé fornecem indícios sobre as leituras realizadas pelo autor,
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as ideias sobre natureza, indígenas e nacionalidade que este autor constrói em sua
obra literária – especialmente as do chamado “ciclo indigenista”. As notas de rodapé,
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alencariana, permitem acessar a construção das ideias pertinentes à sua literatura.
Ao mesmo tempo, permitem um acesso particular ao mundo da leitura no passado
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Palavras-chave: História da leitura. José de Alencar. Notas de rodapé.
Abstract: This article tries to understand the footnote as a part of the literary work of
José de Alencar, meaning it will see the discursive structures within the footnotes in
order to gather clues about the writer’s readings, while, at the same time, to see how
the footnotes functioned as a means of legitimation, in earlier Brazilian historiography,
the ideas of nature, indigenous peoples and nationality which this author built in his
literature, particularly those works of the “indigenous cycle”. The footnotes, seen with
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Keywords: Reading history. José de Alencar. Footnotes.
* Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do
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Revista Esboços, Florianópolis, v. 20, n. 29, p. 88-104, ago. 2013.
Como o banheiro, a nota de rodapé moderna é essencial
à vida histórica civilizada; como o banheiro, ela parece
ser um assunto entediante para a conversação polida e
chama a atenção, na maioria das vezes, quando funcional
mal. Como o banheiro, a nota de rodapé permite lidar
privadamente com tarefas feias; como o banheiro, as notas
de rodapé descem suavemente pela tubulação – muitas
vezes, recentemente, nem mesmo no pé da página, mas no
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banal deva pertence.1
A história da palavra impressa – também chamada “história do livro”
ou “história da leitura”, ao longo das últimas décadas – tem, dentre seus vários
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a “essência” da obra colocada à leitura. Assim, estudos sobre a produção e
recepção da palavra impressa no passado, voltados essencialmente para a
constituição de práticas culturais relacionadas ao livro2, tem sido realizados
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não estruturais de obras impressas, como as dedicatórias, que agem mais como
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devam fazer parte da leitura).3 As notas de rodapé tem sido, nesta mesma ideia,
um importante elemento de reconstituição de práticas de leitura no passado,
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recuperarmos os “como” e “por que” da leitura.4
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da erudição – em especial na prática da escrita da história – do século XVIII,
criando, inicialmente “o equivalente da civilização industrializada para a antiga
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amigos e colegas [evocando] uma confraria da República das Letras – ou, ao
menos, um grupo acadêmico de apoio – reivindicada pelo escritor”.5 Tendo
nascido sob a égide da ciência e da erudição modernas, ao longo do século
XIX, acreditava-se que a função das notas de rodapé era mais evidente, em
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Em primeiro lugar, elas convencem […] o leitor de que o
historiador realizou uma quantidade aceitável de trabalho,
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campo. Como os diplomas na parede do dentista, as notas
comprovam que os historiadores são praticantes “bons o

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