A onda conservadora e as novas estratégias de dominância do capital sobre o trabalho

AutorPedro Henrique Feliciano Dias Sampaio
CargoEconomista
Páginas472-492
A ONDA CONSERVADORA E AS NOVAS ESTRATÉGIAS DE DOMINÂNCIA DO CAPITAL SOBRE
O TRABALHO
Pedro Henrique Feliciano Dias Sampaio1
Resumo
Os anos 2010 representaram uma nova década perdida para a economia latino-americana, que apresentou seu pior
desempenho desde a crise da dívida nos anos 1980. A instabilidade política resultante foi propícia para a popularização de
movimentos e lideranças associadas a uma visão conservadora de liberalismo. Colecionando sucessivas vitórias eleitorais,
os governos da Onda Conservadora estabeleceram uma nova ordem liberal na r egião, acomodando as demandas das elites
empresariais e suprimindo direitos trabalhistas e políticas sociais. O presente artigo propõe uma interpretação para este
fenômeno político à luz da Teoria das Estruturas Sociais de Acumulação (Social Structure of Acc umulation Theory). Essa
tradição propõe um debate institucional crítico no âmbito da economia po lítica, destacando o papel das relações de classe
nos arranjos sociopolíticos que amparam os processos de acumulação e crescimento. Sob este referencial, é possível
compreender a Onda Conservadora como um movimento neoliberal r egressivo que objetiva uma maior dominação do
capital sobre o processo de trabalho.
Palavras-chave: América Latina; neoliberalismo; acumulação; crises.
THE CONSERVATIVE WAVE AND THE NEW DOMINANCE STRATEGIES OF CAPITAL OV ER LABOR
Abstract
The 2010s represented a new lost decade for the Latin American economy, given its worst performance since the 1980s
debt crisis. The resulting political instability favored the popularization of movemen ts and leaders associated with a
conservative view of l iberalism. Collecting successive electoral victories, the Conservative Wave governments established a
new liberal order in the region, accommodating the demands of bu siness elites and suppressing labor rights and social
policies. This article proposes an interpretation for this political phenomenon in the light of the Social Structure of
Accumulation Theory. This theoretical tradition proposes a critical institutional debate within the scope of political economy,
highlighting the role of class r elations in the socio-political arrangements that support the processes of accumulation and
economic growth. Under this framework, it is possible to understand the Conservative Wave as a regressive neoliberal
movement that aims at a greater domination of capital over the labor process.
Keywords: Latin America; neoliberalism; accumulation, crisis.
Artigo recebido em: 25/07/2022 Aprovado em: 01/11/2022
DOI: http://dx.doi.org/10.18764/2178-2865.v26n2p472-492
1 Economista. Doutorando em Economia (UFRGS). Mestrado em Economia (UFRGS). Pesquisador vinculado ao Núcleo de
Estudos em Economia Criativa e da Cultura (NECCULT - UFR GS) e ao Núcleo de Estudo e Pesquisa dos Países da
América do Sul - NEPPAS/UFRGS. E-mail: sampaiopedro@outlook.com.br
Pedro Henrique Feliciano Dias Sampaio
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1 INTRODUÇÃO
A América Latina enfrenta o presente desafio de se reestruturar após uma nova década
perdida. O esgotamento da trajetória de crescimento iniciada nos anos 2000, impulsionada pela alta
nos preços das commodities primárias, engendrou um quadro de estagnação econômica e instabilidade
política na maior parte do continente. Neste contexto de crise, movimentos e lideranças alinhados a
uma visão conservadora de liberalismo ganharam expressividade no cenário político regional, logrando
êxito em sucessivos processos eleitorais.
Os governos da Onda Conservadora possuem uma orientação comum de política
econômica, priorizando o ajuste fiscal e os estímulos à oferta em detrimento dos gastos sociais e
políticas de incentivo à demanda que caracterizaram o ciclo de expansão anterior. Visando a retomada
do crescimento a partir do resgate da confiança dos investidores externos, se estabeleceu uma agenda
centrada no controle de gastos públicos e execução de reformas trabalhistas e previdenciárias.
Sucedendo a guinada à esquerda dos anos 2000, optou-se pelo aprofundamento do modelo “liberal-
periférico” de inserção internacional, acompanhado por uma retórica conservadora direcionada contra
grupos historicamente alinhados a governos progressistas, como sindicatos e movimentos sociais.
O presente artigo propõe uma interpretação para este fenômeno político na tradição da
Teoria das Estruturas Sociais de Acumulação (Social Structure of Accumulation Theory). Esta vertente
teórica destaca a lucratividade e a acumulação de capital como principais determinantes dos processos
de mudança institucional, centralizando o conflito distributivo entre capital e trabalho. A partir deste
referencial, é possível incorporar relações de classe à análise econômica, visando construir uma
interpretação para as recentes transformações institucionais na América Latina e suas implicações para
as políticas públicas.
A seção 2 apresenta o marco teórico do presente artigo a partir de uma breve revisão das
ideias e conceitos da EESA. A seção 3 contextualiza a construção e a maturação do padrão de
acumulação neoliberal na América Latina. A seção 4 propõe uma interpretação das mudanças
institucionais que caracterizam a Onda Conservadora à luz do referencial proposto. Por fim, a
conclusão sintetiza a discussão apresentada e sugere encaminhamentos para a continuidade desta
agenda de pesquisa.

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