A palavra feminina de combate e resistência na Argélia contemporânea

AutorVera Lúcia Soares
Páginas23-36
A palavra feminina de combate e resistência na Argélia contemporânea
Vera Lucia Soares
Écrire ne tue pas la voix, mais la réveille, surtout
pour ressusciter tant de soeurs disparues.
(DJEBAR, 1985, p. 229)
Resumo: Na história dos povos, são inúmeros os exemplos de mulheres que resistiram e
desafiaram o poder instituído através da palavra. Algumas vozes femininas,
imortalizadas pela literatura, tornaram-se símbolos universais da contestação, como
Antígona, na mitologia grega, e Scherezade, na literatura oriental. Seguindo essa
tradição, escritoras argelinas contemporâneas vão fazer da palavra sua arma de combate
e resistência contra o terror que se abateu sobre seu país nos anos noventa. E nessas
narrativas, que põem em cena a tragédia deste tempo histórico vivido, o leitor poderá
encontrar subsídios importantes para a (re)escrita da história recente da Argélia.
Palavras-chave: gênero; literatura; história.
Joan Scott estabelece uma relação intrínseca entre gênero e poder, relação que se
torna bem evidente sobretudo em regimes autoritários, nos quais os dirigentes legitimam
a dominação, a força, a autoridade e o poder soberano indentificando-os ao masculino,
enquanto o inimigo, a subversão e a fraqueza são identificados ao feminino. E este
código é literalmente traduzido em leis que visam especificamente controlar as
mulheres e excluí-las da vida pública (SCOTT, 1988). Isto porque aqueles que querem
deter o poder são conscientes da força contestadora das mulheres.
Na história dos povos, são inúmeros os exemplos de mulheres que resistiram e
desafiaram o poder instituído, pagando inclusive com a própria vida por sua
insubordinação. E a sua principal arma de combate sempre foi a palavra. Daí, a
necessidade de calar a sua voz. Mas as mulheres não se calam.
Imortalizadas pela literatura, algumas vozes femininas atravessaram os tempos e
tornaram-se símbolos universais da contestação, como é o caso de Antígona,
personagem da mitologia grega, sempre recriada no teatro e na literatura de um modo
geral. Antígona é condenada à morte por Creonte, rei de Tebas, contra quem se
insurgira ao desrespeitar suas ordens e sepultar o corpo do irmão Polinice que, por ter
sido considerado traidor da pátria, não teria direito ao sepultamento. Antígona se recusa
a acatar esta ordem absurda que infringe a lei dos deuses e da justiça eterna.

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