O papel da antárctica na estratégia de desenvolvimento da China na era Xi Jinping

AutorRubia Cristina Wegner - Marcelo Pereira Fernandes
CargoProfessora do departamento de Economia da UFRRJ - Professor doutor em Economia pela Universidade Federal Fluminense (UFF/RJ)
Páginas56-85
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 255, p. 56-85, jan./abr. 2022 | ISSN 2447-861X
O PAPEL DA ANTÁRCTICA NA ESTRATÉGIA DE
DESENVOLVIMENTO DA CHINA NA ERA XI JINPING
Antarctica's role in China's development strategy in the Xi Jinping era
Rubia Cristina Wegner
Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ); Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
(UFRRJ), Brasil
Marcelo Pereira Fernandes
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Brasil
Informações do artigo
Recebido em 02/02/2022
Aceito em 27/04/2022
doi>: https://doi.org/10.25247/2447-861X.2021.n255.p56-85
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Atribuição 4.0 Internacional.
Como ser citado (modelo ABNT)
WEGNER, Rubia Cristina; FERNANDES, Marcelo
Pereira. O papel da Antárctica na estratégia de
desenvolvimento da China na era Xi Jinping. Cadernos
do CEAS: Revista Crítica de Humanidades.
Salvador/Recife, v. 47, n. 255, p. 56-85, jan./abr. 2022.
DOI: https://doi.org/10.25247/2447-861X.2022.n255.p56-85
Resumo
A Antártica, al ém de ser o quarto maior continente do mundo
em extensão territorial, detém um solo rico em recursos
naturais, inclusive petróleo. O avanço de pesquisas nesta região
é uma forma de bu scar instrumentos que barateiem uma
possível exploração. O continente passou a ser uma rota
estratégica de política externa da China com o objetivo de tornar
o país, nas palavras de Xi Jinping, um Polar Great Power. O
objetivo principal é descrever a Antártica enquanto lócus de
interesses econômicos diretos pela China em direção a ocupar
liderança no que se convencionou denominar Indústria 4.0.
Dentre as principais conclusões, tem-se que a Antártica cumpre
um duplo papel na estratégia da China: de p ermitir aprofundar
pesquisas que servirão de sumo para o progresso tecnológico,
bem como de presença em um continente que detém recursos
naturais, ou seja, um papel geopolítico de fortalecer a posição da
China, ainda que isso represente intensificar contendas com
países vizinhos, como a Austrália.
Palavras-Chave: China. Polar Great Power. Antártica. Indústria
4.0. Geopolítica.
Abstract
Antarctica, besides being the fourth-largest continent in the
world in terms of land area, has soil rich in natural resources,
including oil. The advance of research in this region is a way of
searching for instruments that will make possible exploration
cheaper. The continent has become a strategic foreign p olicy
route for China with the goal of making the country, in the words
of Xi Jinping, a Polar Great Power. The main objective is to
describe Antarctica as the locus of China's direct economic
interests in order to become a leader in what has been called
Industry 4.0. Among the main conclusions, one can see that
Antarctica plays a dual role in China's strategy: to allow further
research that will serve as a juice for technological progress, as
well as a presence in a continent that holds natural resources,
i.e., a geopolitical role to strengthen China's position, even if this
means intensifying disputes with neighboring countries such as
Australia.
Keywords: China. Polar Great Power. Antarctica. Industry 4.0.
Geopolitics.
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 255, p. 56-85, jan./abr. 2022.
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O papel da Antárctica na estratégia de desenvolvimento da China... | Rubia Cristina Wegner e Marcelo Pereira Fernandes
INTRODUÇÃO
Em novembro de 1984 a China realizou sua primeira expedição à Antártica. E, em
1985, estabeleceu sua primeira estação no continente a Great Wall of China passando a
investir em transporte e acordos logísticos para se consolidar na Antártica. Praticamente três
décadas depois, em 2014, inaugurou a sua quarta base, a E stação Taishan, ao que o então
diretor da State Oceanic Administration of China (doravante, SOA)
1
, afirmou que a China
estava dando início ao fortalecimento de seu poder na região polar. Portanto, desde fins da
década de 2010, em meio às transformações estruturais que a China ex perimentou, as
diretrizes e metas estabelecidas pelo Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh)
e Conselho de Estado (doravante, CE) são de que, na década de 2020, o país teria expandido
sua atividade no continente, com a construção de uma quinta base. A expansão de sua
atuação deverá elevar sua influência não apenas sobre futuros acordos na Antártica, mas
também sobre a Oceania.
A Antártica, além de ser o quarto maior continente do mundo em extensão territorial
com 14 milhões de km2 (10% da área do planeta), detém um solo rico em petróleo, e seu mar,
com populações de krill e de peixes, tem sua pesca regulamentada pela Comissão para
Conservação dos Recursos Marinhos Vivos da Antártica (CCAMLR, em inglês) estabelec ida
em 1982 (About, 2021). O próprio gelo da Antártica constitui uma das maiores fontes de água
doce do mundo e, uma vantagem menos conhecida, seus céus, livres da interferência de
rádio, são boas fontes de pesquisa sobre rastreamento de satélites (MATTOS, 2020;
ANTÁRTIDA, 2021). O avanço de pesquisas nesta região é uma forma de buscar instrumentos
que barateiem uma possível exploração, por exemplo, de petróleo.
Assim, a China vai se juntando ao grupo de países que articula seus interesses na
Antártica com certo apaziguamento. Desde 1959, com a assinatura do Tratado da Antártica,
está acordado que a Antártica não pertence a país algum, porém isso não eliminou as
1
SOA é órgão responsável por elaborar, implementar e inspecionar leis e regulam entações de uso dos mares,
proteção ambiental, pesquisa científica e proteção insular do mar da China, águas terr itoriais, zonas contíguas,
zonas econômicas exclusivas e outras áreas marítimas. É responsável, ainda, por elaborar planos com
departamentos relevantes no âmbito do d esenvolvimento estratégico do mar e suas zonas associadas, bem
como planos de proteção ambiental, de desenvolvimento econômico do mar, desenvolvimento de ilhas
desabilitadas (SOA, 2014). Desde 2018, porém, a SOA passou a ser subordinada ao Ministry of Natural
Resources.

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