O papel da inovação tecnológica no desenvolvimento do agribusiness

AutorConstantino de Gaspari Gonçalves
CargoDocente do Departamento de Ciências Contábeis (FAFIMAN). Mestrando em Contabilidade e Controladoria pela UNOPAR. Especialista em Contabilidade Gerencial, Auditoria e Controladoria pela FECCEA. Especialista em Metodologia do Ensino Superior pela FAFIJAM. Bacharel em Ciências Contábeis pela FECCEA
Páginas151-159

Page 151

Introdução

Com a abertura do mercado e a formação dos blocos econômicos como MERCOSUL, Mercado Comum Europeu, um dos setores que mais vem sendo afetado é o da agricultura que, sem uma política adequada de preços e financiamentos, sofre com a concorrência externa que vem conquistando cada vez mais o mercado nacional, oferecendo produtos de melhor qualidade e com um preço mais acessível.

A falta de investimentos em aperfeiçoamento das atividades agrícolas brasileiras tem acarretado baixa produtividade e, como conseqüência, um alto custo de produção. Inovação tecnológica passa a significar um requisito fundamental para o aumento da produção. Traduz-se em equipamentos e atitudes. Os primeiros incorporando novos avanços da informática; as últimas, o hábito de fazer da tecnologia um recurso do cotidiano. Biotecnologia, por exemplo, tem produzido excepcionais ganhos de produtividade, como está demonstrado numa série de publicações que têm surgido sobre o assunto. Manejo, armazenamento, embalagens, transporte, dentre outros, são fatores a considerar quando se fala de inovação tecnológica.

O crescimento acentuado do mercado internacional de produtos agrícolas e o nível de competição cada vez maior, tanto no preço como na qualidade dos produtos, causam dois efeitos no Brasil: a participação no mercado internacional exige muita competência e a atual margem de lucro tende a ser cada vez menor; o governo brasileiro, para efeito de abastecimento, leva certamente em conta, os preços prevalecentes no mercado externo e importará, quando os preços subirem acima dos praticados em nível internacional. Em virtude disso, o mercado interno será afetado pela competição externa. A "sorte" da agricultura brasileira foi a brutal variação cambial, que limitou a capacidade de importar. Entretanto, a agricultura brasileira terá que se modernizar e ganhar competência para conquistar o mercado externo e não perder o interno.

Para o Brasil, há dois caminhos para aumentar a produção: expandir a fronteira agrícola e para isso implantar a agricultura na região amazônica, no sertão Nordestino (com Irrigação) e no cerrado no

Page 152

Planalto Central, que na sua maioria ainda não é explorada por atividades agrícolas; ou, então, aumentar a produtividade da terra. No primeiro caso, os métodos que permitem a difusão da agricultura brasileira são basicamente estímulos do mercado e construções de estradas; no outro, é necessário investir em toda a estrutura de conhecimentos - universidades, estações experimentais, pesquisadores, indústrias de insumos modernos, etc. Em síntese, é preciso investir em geração, difusão e adoção de conhecimento e de tecnologia.

A fronteira agrícola que nos resta não pode ser conquistada sem a ajuda da ciência e, como estratégia, é melhor investir no incremento da produtividade das áreas já conquistadas.

O Brasil tem 851 milhões de hectares, dos quais menos de 60 milhões (7,5%) são cultivados. Dos 45,2 milhões de hectares cultivados anualmente com lavouras temporárias, 96% são utilizados por 8 grandes culturas: Milho (30%),soja (23%), feijão (12%), arroz (10%), cana-de-açúcar (9%), trigo (5%), mandioca (4%) e algodão herbáceo (3%). As lavouras perenes utilizam 6.6 milhões de hectares, dos quais 93% são utilizados por 9 grandes culturas: Café (38%),laranja (14%), cacau (11%), castanha de caju (10%), banana (8%), algodão arbóreo (4%), sisal ou agave (4%),côco-da-bahia (3%) e dendê (1%) (Cunha, 1997).

Ainda há muita terra ociosa, mas este não é o principal problema da agricultura brasileira. Infelizmente, a produtividade por hectare no Brasil ainda é baixa em relação à de outros países. Enquanto o rendimento médio do arroz cultivado no Brasil é de 2,5 toneladas por hectare, outros países produzem 4 toneladas (México, Colômbia, Venezuela ), 5 toneladas (Argentina e Uruguai) e até mesmo 6 toneladas (Estados Unidos, Japão, China, Peru e Itália) na mesma extensão de terra. Um baixo rendimento médio também caracteriza outras lavouras como milho, trigo, café, sorgo, batata e feijão. A situação do feijão é realmente trágica, pois a produção está praticamente estagnada nos últimos 35 anos. O rendimento médio que era de 656 kg/ha na década de 60, caiu para 514 kg/ha na década de 70, 444 kg/ha na década de 80 e 556 kg/ha nos anos 90, enquanto outros países chegam a produzir 700 kg/ha (Venezuela e Tailândia), 900 kg/ha (Peru e Colômbia), 1000 kg/ha (Bolívia, Argentina e China) e até mesmo 1700 kg/ha (Itália, Japão e Estados Unidos). Felizmente, lavouras como soja, cana-de-açúcar e mandioca apresentam um bom rendimento médio quando comparadas com as obtidas em outros países (Cunha, 1997).

De 1991 a 1995, os Estados Unidos (EUA) colheram 3,5 milhões de hectares de feijão, produzindo 6,3 milhões de toneladas deste grão, sendo o rendimento médio de 1.759 kg por hectare. O Brasil colheu uma área 7 vezes maior que a dos EUA, mas sua produção de feijão foi apenas um pouco maior que o dobro da dos EUA, devido ao baixo rendimento médio de 573 kg por hectare (33% do rendimento nos EUA). Os EUA colheram 119,8 milhões de hectares de soja, os quais produziram 292,8 milhões de toneladas, sendo o rendimento médio de 2.440 kg por hectare. O Brasil colheu 52,9 milhões de hectares de soja (44% da área colhida nos EUA), produzindo 107,3 milhões de toneladas (37% do produzido pelos EUA), sendo o rendimento médio de 2.029 kg por hectare (83% do rendimento nos EUA) (Cunha, 1997).

Outro fator importante a ser analisado é a escassez da mão de obra no meio rural, tendendo a se agravar cada vez mais, devido à desastrosa política agrícola que obrigou o homem do campo a vir para as cidades à procura de melhores condições de subsistência. Todas essas implicações indicam a necessidade de investimentos cada vez maior em tecnologias avançadas de produção.

Difusão da Tecnologia

O papel da inovação é dar ao processo produtivo novas técnicas de produção, nas quais os gastos com os insumos sejam diminuídos, ou melhor aproveitados, gerando uma produtividade mais acentuada. Segundo Singer, "uma inovação tecnológica só faz sentido, economicamente, na medida

Page 153

em que a soma desses Insumos, necessários à produção de cada unidade, se reduz, graças a nova técnica" (1971, p. 63).

A inovação incorporada ao processo produtivo, não só reduz os Insumos, como também as suas quantidades a serem aplicadas. O padrão do progresso tecnológico consiste em reduzir a quantidade de mão-de-obra necessária e aumentar a quantidade de Insumos de capital, sendo esta a forma mais comum de inovação tecnológica.

Uma advertência há que ser feita: nem tudo que surge como inovação pode ser considerado como tal. Normalmente aquilo que é dado como inovação, de acordo com Santos (1987), consiste, na realidade, em mudanças superficiais na apresentação dos produtos antigos que provocam o desuso de modelos anteriores, o que obriga, psicologicamente, com o auxílio da publicidade maciça, o abandono do modelo antigo e a compra do novo...

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT