A participação das mulheres nos esportes de vôo livre: um estudo sobre as práticas de aventura e risco

AutorLuciana Silva Abdalad, Vera Lucia de Menezes Costa
Páginas121-145
Niterói, v. 10, n. 1, p. 121-145, 2. sem. 2009 121
A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES
NOS ESPORTES DE VÔO LIVRE: UM ESTUDO
SOBRE AS PRÁTICAS DE AVENTURA E RISCO
Ms. Luciana Silva Abdalad
UNISUAM - Centro Universitário Augusto Motta / LIRES-LEL-PPGEF/UGF
E-mail: lualbdalad@globo.com
Dra. Vera Lucia de Menezes Costa
Universidade Gama Filho / LIRES-LEL- PPGEF/UGF
E-mail: veralmc@globo.com
Resumo: Esta pesquisa, de natureza quali-
tativa, teve os objetivos de investigar alguns
sentidos de aventura e risco presentes nos
discursos das mulheres que praticam vôo
de asa-delta e parapente por lazer; e de
dest acar alguns ele mentos simbó licos
e míticos expres sos nos discursos dessas
mulheres. Foram realizadas oito entrevistas
semi-estruturadas com mulheres pratican-
tes de vôo livre. A metodologia utilizada
para a i nterpretação dessas falas foi a
Análise do Discurso de Orlandi (1987, 1993,
1999). O ma peamento d os sentido s da
aventura e do risco permitiu que emer-
gissem as seguintes marcas nos discursos:
o escape, com o sentido polissêmico de
desrotinização e condição social feminina;
a ruptura, com o sentido de superação do
medo; a paixão, com o sentido do lúdico
e da liberdade; a mãe; o diálogo com a
natureza; o resgate. A vivência utópica ,
altern ativa, imaginada, ressi gnific ou as
vivências de mulheres que ousaram voar
por esporte, experimentando uma ruptura
transformada que as tirou dos seus lugares
de estabilidade anterior: a condição de
sombra num espaço esportivo em que se
privilegiam as masculinidades.
Palavras-chave: mulher; a ventura; r isco;
voo livre.
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I – Introdução
O esporte constitui-se num dos maiores fenômenos sociais da atualidade,
movimentando um grande número de praticantes e torcedores, pessoas que
se mobilizam e vibram com os espetáculos esportivos.1 Há um destaque signi-
ficativo na mídia impressa e telejornalística, com canais de TV, jornais e revistas
destinados somente a esportes documentando a grande diversidade de práticas
e competições que ocorrem no planeta.
O esporte institucionalizado vem, aos poucos, passando por transformações
que refletem as mudanças da sociedade. Percebemos a emergência de uma
prática esportiva baseada na entrega ao consumo, na busca pela perfeição,
na vivência intensa do presente, características da transição da modernidade
para a pós-modernidade.2
Para Maffesoli (2001), é no tempo da pós-modernidade que o homem
vivencia o drama de um paradoxo contemporâneo: diante da globalização,
do desenvolvimento tecnológico, de uma sociedade que deseja ser positiva
e que se afirma perfeita, mas que se expressa à busca do vazio, do imaterial,
do que não tem preço, do que não se pode contabilizar. É o paradoxo entre a
aceitação do mundo como ele é e a recusa dos valores estabelecidos. Busca-
-se novos valores, uma renovação de sentidos.
Na sociedade pós-moderna há uma reorganização nos sistemas esportivos,
produzindo uma mudança simbólica que constitui o imaginário dessa época.
E é neste contexto que desencadeia-se o surgimento e a difusão dos esportes
de aventura e risco na natureza.
Os esportes de aventura e risco praticados no espaço da natureza parecem
envolver seus praticantes em alguns sentidos distintos dos esportes institucionali-
zados, próprios da época contemporânea. Há um retorno de valores arcaicos,
alimentados pela tecnologia e racionalidade do tempo atual. Há, também, o
ressurgimento de estruturas arquetípicas, arcaicas (MAFFESOLI, 2001) que tran-
sitam numa lógica de retorno ao primitivo, proporcionada pela natureza mas
sustentada na evolução científica e tecnológica que propiciem uma prática
1 Segundo Costa (2000), os espetáculos esportivos apresentam-se atualmente regidos por uma
ordem cultural baseada no individualismo narcisista e hedonista. Uma ordem cultural baseada
no desfrute, onde o homem se vê seduzido pelas imagens e pela perfeição do gesto esportivo
produzido pelos espetáculos.
2 A partir do início deste século vários autores têm produzido pesquisas nas quais afirmam que esta-
mos vivenciando o limiar de uma nova era mundial. Alguns termos definem este momento como
a “pós-modernidade” (Michel Maffesoli, Zygmunt Bauman, Stuart Halll), “alta modernidade”, “mo-
dernidade tardia” (Anthony Giddens, Ulrich Beck), “tempos hipermodernos” (Gilles L ipovetsky).
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