PARTICIPAÇÃO FEMININA NO MERCADO DE TRABALHO: UMA ANÁLISE DE DECOMPOSIÇÃO PARA AS REGIÕES NORDESTE E SUDESTE

AutorGustavo Carvalho Moreira, Jader Fernando Cirino
Páginas143-168
143
Niterói, v.13, n.1, p. 143-168, 2. sem. 2012
PARTICIPAÇÃO FEMININA NO MERCADO DE
TRABALHO: UMA ANÁLISE DE DECOMPOSIÇÃO
PARA AS REGIÕES NORDESTE E SUDESTE
Gustavo Carvalho Moreira
Universidade Federal de Viçosa
E-mail: gustavocmoreira@yahoo.com.br
Jader Fernando Cirino
Universidade Federal de Viçosa
E-mail: jader.cirino@ufv.br
Resumo: A participação feminina no mercado de trabalho cresceu nas últimas
décadas. Nesse sentido, através da decomposição univariada, estudou-se tal
fenômeno a partir da caracterização dos grupos socioeconômicos de mulheres
que mais contribuíram para o aumento dessa participação no período 1986-
2009 para as regiões Nordeste e Sudeste. O estudo mostrou que a mudança
nas taxas de participação especícas de cada grupo foi responsável pela maior
parte do aumento da inserção feminina no mercado de trabalho. Em termos
de variável, a elevação do número de anos de estudo das mulheres foi a mais
importante com base na metodologia adotada.
Palavras-Chave: mercado de trabalho, participação feminina, Nordeste e
Sudeste.
Abstract: The women’s participation in the labour market has grown in the
last decades. In this study, it was identied, though univariate decomposition
method, how dierent groups of women contributed to the increase in the
female’s labor force participation rate between 1986-2009 in the Northeast and
Southeast regions. The results have shown that the changes in the participation
rates from each group were the most responsible for the increase in the female
introduction in the labour market. In terms of variable, the increase in the
number of years of education of women was the most important based on the
methodology adopted.
Keywords: labor market, women´s participation, Northeast and Southeast.
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1. INTRODUÇÃO
No contexto histórico, a participação feminina no trabalho desde o
século XVI, perpassando os séculos XVII e XVIII, já era signicativa. As índias
cuidavam da agricultura e preparavam o alimento. As negras realizavam o
trabalho doméstico nas residências cristãs e nas fazendas de açúcar ou de gado.
As brancas, por sua vez, além do trabalho de dar à luz e de educar sucessivas
gerações de crianças, governarem as casas, os arranjos domésticos e de criar
condições para que os homens progredissem em suas prossões, realizavam
obras nas igrejas, nos conventos, nas escolas e onde lhes fosse permitido
colaborar. Quando necessitavam aumentar o rendimento da família, muitas
faziam doces por encomenda, bordados, lavavam roupas e davam aulas de
piano (MOURÃO, 2005).
A partir do século XIX, o processo de industrialização favoreceu a
extensão do trabalho feminino assalariado. Para um número crescente de
mulheres, trabalhar tornou-se sinônimo de ganhar salário, conforme destaca
Mourão (2005). Segundo o autor, elas trabalhavam preferencialmente nas
fábricas de ação e tecelagem; e sua mão-de-obra era considerada boa,
abundante e barata.
Seguindo essa tendência, teve-se como um dos acontecimentos mais
marcantes ocorridos no século XX, o signicativo aumento da participação
feminina na atividade econômica. Segundo Araújo (2002), citado por Nogueira
(2004), essa participação ocorreu de forma ascendente entre as décadas
de 1920 e 1980, em compasso com os processos de industrialização e de
urbanização observados na sociedade brasileira no período, intensicando-se
nas décadas de 1990 e 2000.
De acordo com Wajnman e Perpétuo (1997), o contínuo crescimento
da atividade feminina encontra explicações numa combinação de
fatores econômicos, demográficos e culturais que vêm ocorrendo na
sociedade brasileira.
Até o começo da década de 1980, observava-se no trabalho feminino a
característica predominante de complementaridade em relação ao trabalho
masculino no sustento da família. Nesse sentido, o trabalho das mulheres
caracterizava-se predominantemente pela intermitência, baixa escolaridade e
reduzida remuneração.
Porém, devido ao fraco desempenho da economia nacional nas
décadas de 1980 e 1990, essa posição complementar começou a mudar.
Conforme destacaram Alves, Amorim e Cunha (1997) e Barrio e Soares (2006),

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