O passado atual na revista Oroboro

AutorGabriel Santo Vaccaro
Páginas17-37
O PASSADO ATUAL NAS CAPAS DA REVISTA DE POESIA E ARTE
“OROBORO”
Gabriel Santo Vaccaro
“Todo lo que hasta aquí llega
aparece en forma fugaz y se disuelve.
Así nos deja
desabrigados en una
nueva
y sospechada espera de
lo
familiarmente desconocido”
A poesia brasileira dos últimos anos do século passado se caracterizou pela
possibilidade de revisitar movimentos e pensamentos anteriores sem restrições,
pelo fato de rotular-se como moderna sem a problemática que tal termo originava
em outros períodos históricos, e pela integração sem inconvenientes nos
mercados onde circulava (SIMON, 1999, p.36). Nesse mesmo sentido, e referindo
especificamente o caso da revista “Oroboro”1, pode-se mencionar que nestes
primeiros anos do século vinte e um, o revisitar os tempos pretéritos, o rotular-se
moderno e a inserção no mercado continuam sendo uma constante. E é
particularmente a primeira das três características citadas, o retornar livremente a
fontes passadas, a que será refletida com mais profundidade neste trabalho no
momento de pensar as oito programações gráficas nas capas da “Oroboro”.
1 Os editores principais desta revista são Jorge Corona e Eliana Borges, sendo esta última também
a responsável pela programação visual. Sobre Jorge Corona recomenda-se a leitura do sitio
http://www.verdestrigos.org/sitenovo/site/resenha_ver.asp?id=107, onde podem observar-se alguns
dados biográficos e sobre seu trabalho. Quanto a Eliana Borges, recomenda-se a leitura do sitio
http://www.muvi.advant.com.br/artistas/e/eliana_borges/eliana_borges.htm.
Boletim de Pesquisa – NELIC V. 8, Nº 12 / 13 (2008)
Mas como passo inicial devem mencionar-se algumas particularidades da
revista citada. Sem dúvida, o primeiro obstáculo é tentar decifrar onde radica a
razão do nome da revista. Pensar que o título remete a uma lenda grega que
refere a história de uma serpente que engole seu próprio rabo e que tal desenho
quer representar o infinito, o inacabado, o eterno retorno ou a ruptura da evolução
linear parece insuficiente; pensar numa serpente fração desprendimento de um
todo ou conjunto destes animais no ninho da Medusa (e da revista que leva seu
mesmo nome) também parece não responder completamente a interrogação
apresentada.
Talvez a mistura das idéias possa aproximar-se um pouco mais a uma
causa que dissolva a interrogação. Por um lado a “Oroboro”, como uma serpente
individual, é um desprendimento da “Medusa”, personagem e revista que lembra
uma origem, mas que não condiciona o “continuar” desta última, pois seu “depois”,
seu futuro, é tão independente como qualquer outra revista de poesia brasileira
que definitivamente sempre é um “antes” quando se pensa nessa visita obrigada
ao passado que Simon mencionava como característica da poesia brasileira
contemporânea. Por outro lado, e no sentido de uma poesia visitadora de um
“antes”, a “Oroboro” também é um eterno retorno, pois cada circunstância escrita
ou sugerida nas páginas da revista está retomando um livro que já foi escrito, uma
obra que já foi explicada, um trabalho que já foi comentado, algumas idéias que já
foram ditas, enfim, e nas palavras de Paolo Virno, um passado em geral que
sempre é uma língua. Língua, poderíamos acrescentar, que vem conversar sobre
o que já foi dito num ato ou sobre o que poderia ser dito e é potência.
Mas antes de refletir sobre como o passado se instala em “Oroboro” ou
sobre como “Oroboro” revisita o passado e os períodos da poesia brasileira,
devem ser assinaladas algumas particularidades de tal revista. “Oroboro” é uma
revista que abrange os universos da poesia e das artes plásticas brasileiras e
internacionais que consta com um corpo editorial quase exclusivamente formado
por brasileiros, que possui oito números de edição trimestral (desde setembro de
2004, até agosto de 2006) de aproximadamente 50 páginas, que não possui
publicidade e que no seu interior as artes visuais e a poesia não têm divisões
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