Percepções das mulheres do jiu-jitsu: entre entraves e avanços

AutorAna Cristina Silva, Gabriela Teixeira Santos, Gabriela Conceição de Souza, Felipe da Silva Triani
CargoBacharel em Educação Física, Centro Universitário Gama e Souza, Brasil/Bacharel em Educação Física, Centro Universitário Gama e Souza, Brasil/Doutora em Ciências do Exercício e do Esporte, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil/Doutor em Ciências do Exercício e do Esporte, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil
Páginas7-28
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GÊNERO | Niterói | v. 22 | n. 2 | p. 7-28 | 1. sem 2022
ARTIGO DE TEM A LIVRE
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PERCEPÇÕES DAS MULHERES DO JIUJITSU:
ENTRE ENTRAVES E AVANÇOS
Ana Cristina Silva1
Gabriela Teixeira Santos2
Gabriela Conceição de Souza3
Felipe da Silva Triani4
Resumo: O objetivo do estudo foi analisar os desafios que mulheres enfrentam
na prática do jiu-jitsu brasileiro na percepção de faixas-pretas do sexo feminino
na cidade do Rio de Janeiro. Foram entrevistadas 16 mulheres, faixas-pretas
de jiu-jitsu, entre 23 e 47 anos, com mais de sete anos de experiência na
modalidade. Os resultados evidenciaram três categorias: defesa pessoal,
inferioridade nas competições e desigualdade de gênero. Ainda que no
contexto atual a participação feminina tenha aumentado, ainda são percebidos
desafios e preconceitos em relação à prática do jiu-jitsu por mulheres.
Palavras-chave: Jiu-Jitsu; Espor te; Gênero.
Abstract: This study sought to analyze the challenges faced by women in
the practice of Brazilian jiu-jitsu according to female black-belts in the city
of Rio de Janeiro. Data were collected by means of interviews conducted
with 16 female jiu-jitsu black belts aged from 23 to 47 years, with more than
seven years of experience in the sport. The results indicate three categories:
self-defense, inferiority in competitions, and gender inequality. Despite the
increase in female participation, female competitors still face a series of
challenges and prejudices.
Keywords: Jiu-Jitsu; Sport; Gender.
1 Bacharel em Educação Física, Centro Universitário Gama e Souza, Brasil. E-mail: anacris862011@gmail.com.
Orcid: 0000-0001-8179-2481
2 Bacharel em Educação Física, Centro Universitário Gama e Souza, Brasil. E-mail: gabsantosss@hotmail.com.
Orcid: 0000-0001-8489-9372
3 Doutora em Ciências do Exercício e do Esporte, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil.
E-mail: gabriela.souza@ifrj.edu.br. Orcid: 0000-0001-6493-1208
4 Doutor em Ciências do Exercício e do Esporte, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Brasil.
E-mail: felipetriani@gmail.com. Orcid: 0000-0001-6470-8823
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NãoComercial 4.0 Internacional.
8GÊNERO | Niterói | v. 22 | n. 2 | p. 7-28 | 1. sem 2022
1 Introdução
A origem do jiu-jitsu brasileiro não é consensual, assim como a do pró-
prio judô, esporte que, em algumas versões, é considerado como a origem
do jiu-jitsu, embora alguns autores assumam determinadas histórias como
oficiais. Como o foco deste estudo é a participação das mulheres nessa arte
marcial, consideramos importante contextualizar as diferentes versões,
afim de compreender o meio em que essas mulheres estão inseridas e os
enfrentamentos necessários para permanecer na prática.
O jiu-jitsu brasileiro foi originado em Manaus, supostamente por imi-
grantes japoneses que compartilharam seus conhecimentos sobre algumas
artes marciais japonesas com integrantes da família Gracie nas primeiras
décadas do século XX. Posteriormente, no Rio de Janeiro, a modalidade
sofreu intensas modificações promovidas pela própria família Gracie
(RODRIGUES et al., 2018). Nesse contexto, em termos históricos, a dis-
seminação do jiu-jitsu no Brasil aconteceu em meados da década de 1930,
a partir dos desafios entre diversos tipos de modalidades de lutas e da von-
tade da família Gracie em provar a superioridade técnica da sua modalidade
em particular (LISE et al., 2017; GOMES; MOREIRA; TRIANI, 2019).
Vale ressaltar, primeiramente, que se tem conhecimento de que lutas
intermodalidades já aconteciam desde 1909, tendo ocorrido uma luta
entre o capoeirista Cyríaco e o lutador de jiu-jitsu Miyako. Outro ponto
que merece ser mencionado é que as disputas entre diversas modalidades,
entre elas o jiu-jitsu e a capoeira, tiveram um pioneirismo na criação do
evento chamado “luta livre”, que teve diversos atores sociais envolvidos,
taiscomo os integrantes da família Gracie, o Sinhozinho, o lutador Tatu,
entre diversos outros (GARCIA, SILVA, VOTRE, 2016).
Em seguida, a modalidade ficou mundialmente conhecida como brazilian
jiu-jitsu (BJJ). O número de praticantes foi crescendo com o decorrer do
tempo por conta da família Gracie, que difundiu o esporte para outros esta-
dos e países (RODRIGUES et al., 2018). Diante dos fatos, o que podemos
perceber é que a influência e o poder de um grupo de pessoas possibilita-
ram a divulgação e a apropriação de elementos da modalidade ao ponto de
reivindicar sua autoria à modalidade, que, inclusive, se tornou o norteador
das práticas em competições, criando a Confederação e Federação.
Independentemente da origem do jiu-jitsu, fica evidenciado que os
brasileiros começaram sua prática em meados do século XX. No entanto,
nesse mesmo período, as mulheres não puderem usufruir dessas práticas,

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