Perception of social responsibility and job satisfaction: a study in Brazilian companies/Percepcao de responsabilidade social e satisfacao no trabalho: um estudo em empresas brasileiras.

AutorPenha, Emanuel Dheison dos Santos
CargoGestao e Sustentabilidade

Introducao

Varios estudos mostram que a Responsabilidade Social Corporativa (RSC) pode ser fonte de vantagem competitiva para as empresas. Se as acoes de RSC estiverem ligadas ao negocio central das empresas, os beneficios dessas acoes podem ser potencializados. O retorno de tais acoes e maior do que os custos de faze-las (Husted & Salazar, 2006). Contudo, as acoes de RSC, em geral, sao voltadas para o mercado consumidor, deixam, muitas vezes, de abordar outros publicos interessados (stakeholders), que sao influenciados e influenciadores da RSC, por exemplo, o publico interno (Sen, Bhattacharya & Korschun, 2006).

A RSC voltada para o publico interno e uma tendencia no meio empresarial, as areas de Recursos Humanos (RH) das empresas tem se preocupado com essa questao. A Society for Human Resource Management (SHRM, 2011) investigou, em 2011, quais eram as principais acoes dos profissionais de RH para responder as tendencias economicas e de emprego. A pesquisa mostrou que a quinta acao mais praticada e aumentar o papel dos RH na promocao da RSC e da sustentabilidade. No ambito nacional, a pesquisa Delphi RH (Progep, 2011) teve resultado semelhante. Tal pesquisa evidenciou as principais tendencias em RH no Brasil. Os resultados mostraram que a RSC seria o quinto principio mais relevante para a gestao de recursos humanos em meio a 12 principios que orientam as politicas e os processos de RH; em 2003, a RSC era a oitava mais importante. A pesquisa Global Business Barometer, do jornal The Economist (Economist, 2008), perguntou a 1.122 executivos quais os principais beneficios de se ter uma politica de RSC definida. As tres maiores respostas foram: melhor marca e reputacao, com 52,9%; melhores decisoes para o negocio em longo prazo, com 42,4%; e maior atratividade para os funcionarios existentes e potenciais, com 37,5%.

Em 2005, o World Business Council for Sustainable Development (WBCSD, 2005) elaborou o relatorio Driving success: human resources and sustainable development, que relacionou sustentabilidade e RH. Esse relatorio defendeu a tese de que programas de desenvolvimento sustentavel podem motivar os funcionarios a atingir o maximo de sua capacidade laboral. Uma pesquisa da GlobeScan (2003) revelou que 80% das pessoas que trabalhavam para grandes empresas declararam que, quanto mais socialmente responsavel sua empresa se torna, mais motivados e leais sao os empregados. Foram entrevistadas 25.000 pessoas em 25 paises. O International Survey of Corporate Responsibility Reporting (KPMG, 2011), da KPMG, listou as motivacoes para a elaboracao dos relatorios de RSC entre as 250 maiores empresas da Global Fortune. Os resultados mostraram que as principais motivacoes sao: reputacao da marca, com 67%; consideracoes eticas, com 58%; e motivacao dos funcionarios, com 44%. O relatorio Talent Report: What Workers Want de 2012, da Net Impact's (2012), investigou como as pessoas veem os empregos que executam atividades de RSC. Foram investigados 1.726 individuos nos Estados Unidos. Os resultados evidenciaram que os funcionarios que dizem poder fazer atividades de impacto social e ambiental por meio de seu trabalho tem niveis de satisfacao mais elevados do que aqueles que nao o fazem. Percebe-se, assim, a importancia que e dada a promocao da RSC entre os colaboradores. Tais pesquisas indicam que as empresas percebem ganho nessa relacao.

Em contraste com a importancia dada a RSC e ao RH no campo empresarial, as pesquisas academicas que exploraram a relacao ainda sao incipientes, o que resulta na falta de evidencias teoricas e empiricas que atestem sua importancia (Freitas, Teixeira, Souza & Jabbour, 2012; Gond, El-Akremi, Igalens & Swaen, 2010). Apesar de o numero de estudos empiricos em torno dos impactos da RSC ter crescido desde a decada de 1980, poucos estudos tem analisado como as praticas de RSC afetam o comportamento dos colaboradores (Turker, 2009).

Dentre esses, Deshpande (1996), Koh e Boo (2001) e Viswesvaran, Deshpande & Joseph (1998) estudaram a relacao entre etica e satisfacao no trabalho. Esses estudos constataram que ha relacao, mesmo que parcial, entre esses construtos. Ja Valentine e Fleischman (2008) expandiram a visao de etica para a percepcao de RSC. A argumentacao e de que as acoes de RSC podem servir para fortalecer o contrato informal entre os funcionarios e a organizacao e aumentar a satisfacao deles. Destacaram tambem que a presenca de um codigo de etica e a feitura de treinamentos sobre etica e percepcao da RSC estao positivamente associadas com a satisfacao no trabalho do empregado. Koh e Boo (2001) enfatizam que a etica organizacional e um dos meios pelos quais os lideres corporativos podem gerar atitudes favoraveis nos empregados e que os gestores devem estar cientes de que reforcar a satisfacao no trabalho pode levar a um maior comprometimento organizacional, o que pode levar a um menor absenteismo e turnover, como tambem a maior produtividade e lucratividade.

Em busca de explorar essa relacao, esta pesquisa investiga a associacao entre satisfacao no trabalho e a percepcao de RSC dos funcionarios, em busca de responder a seguinte pergunta: "Empresas socialmente responsaveis tem funcionarios mais satisfeitos?" O objetivo geral e verificar se a percepcao de RSC dos empregados influencia na satisfacao no trabalho. Para tanto, usou-se a base de dados da pesquisa MEPT--Melhores Empresas para Voce Trabalhar--feita anualmente no Brasil pelo Progep/FIA--Programa de Estudos em Gestao de Pessoas da Fundacao Instituto de Administracao e pela Editora Abril.

Este artigo esta organizado em seis secoes. A primeira e a introducao, em que se contextualiza a tematica da pesquisa, justifica-se a sua relevancia e apresenta-se o seu proposito. Na segunda e apresentada uma revisao da literatura sobre teoria dos stakeholders e RSC, gestao de recursos humanos e RSC e, por ultimo, satisfacao no trabalho. Na terceira e exposta a metodologia aplicada na pesquisa e na quarta a analise os resultados. A quinta secao destina-se as consideracoes finais, incluindo as limitacoes da pesquisa e sugestoes para pesquisas futuras. O artigo termina com a listagem das referencias usadas.

Revisao da literatura

Esta secao discorre sobre Teoria dos Stakeholders e Responsabilidade Social Corporativa, Gestao de Recursos Humanos e Satisfacao no Trabalho, conceitos determinantes para o atingimento dos objetivos desta pesquisa. Por ultimo, sao evidenciados estudos que dao apoio as hipoteses da pesquisa.

Teoria dos stakeholders e responsabilidade social corporativa

A RSC e um constructo que tem uma historia recente. A preocupacao com a responsabilidade social apareceu durante os anos 1930 e 1940. Porem, foi na decada de 1950, com o livro de Howard R. Bowen, que o conceito de RSC teve seu marco inicial. Na decada de 1960, houve varias tentativas de se formalizar o significado de RSC. Ja na decada de 1970, estudiosos discutiam sobre os multiplos interessados em uma organizacao e introduziram o que seria a Teoria dos Stakeholders (Carroll, 1999).

Schwartz e Carrol (2008) afirmam que as definicoes de RSC podem ser divididas em duas escolas: aquela que defende a tese de que a unica obrigacao da empresa e o lucro dentro dos limites do minimo de conformidade legal e etica e a que sugere extensas obrigacoes das empresas para com a sociedade. A primeira escola deriva do estudo de Friedman (1970) e a segunda do de Freeman (1984).

Em relacao ao conceito de RSC, esse e um termo de dificil definicao, pois trata-se de um fenomeno dinamico e complexo e um termo que abrange varias concepcoes da relacao entre as empresas e a sociedade (Matten & Moon, 2008). No entanto, os modelos de RSC demonstram logicas conciliaveis. Em geral, consistem em uma integracao progressiva das preocupares sociais no processo de tomada de decisao das organizares (Maon, Lindgreen & Swaen, 2010).

Ao buscar sistematizar o conceito, Carroll (1979) definiu que RSC abrange as expectativas economicas, legais, eticas e discricionarias que as sociedades tem das empresas. Tais responsabilidades sempre existiram nas organizacoes empresariais e essa categorizacao nao e mutuamente exclusiva, pode uma acao ter motivos economicos, legais, eticos ou discricionarios (Carroll, 1979). Schwartz e Carrol (2003) reexaminaram o modelo de Carroll (1979) e identificaram alguns problemas: o fato de a representacao ser em uma piramide, o que da a entender que as dimensoes nao se sobrepoem; o fato de a responsabilidade discricionaria pertencer, em sua essencia, aos dominios economicos e eticos; e o desenvolvimento teorico ainda em evolucao dos dominios economicos, legais e eticos. A partir dessa analise, Schwartz e Carrol (2003) propuseram um modelo com tres dominios: responsabilidades economicas, legais e eticas.

Gestao de recursos humanos e RSC

As pesquisas academicas e de mercado mostram a importancia da relacao entre Gestao de Recursos Humanos (GRH) e RSC para as organizacoes. Freitas, Jabbour e Santos (2011) evidenciaram a evolucao da GRH em quatro etapas, na qual a ultima seria o RH como base para a sustentabilidade, que visa a consecucao de resultados sustentaveis. Assim, percebe-se que a GRH pode desempenhar um importante papel para o desenvolvimento da sustentabilidade nas organizacoes, "funcionando como staff sustentavel para outras funcoes organizacionais, isto e, recrutando, selecionando, treinando, avaliando, recompensando e desenvolvendo as pessoas em torno de valores sustentaveis" (Freitas et al., 2012, p. 23).

Alguns estudos exploraram a relacao entre percepcao de RSC e GRH. Bhattacharya, Sen e Korschun (2008) revelaram que funcionarios gostam de trabalhar para empresas socialmente responsaveis, porque lhes dao oportunidades de crescimento pessoal. Quando os funcionarios trabalham em projetos de RSC, eles aprendem habilidades especificas que podem ajuda-los a avancar em suas carreiras. Galbreath (2010) verificou, em empresas australianas, que atividades socialmente responsaveis sao...

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