A pesquisa de conteúdos na web: co-partilhando idéias entre a ciência da informação e a educação

AutorMaria Auxiliadora Padilha
CargoDoutora em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco. Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Tecnológica da UFPE.
Páginas115-134

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Maria Auxiliadora Padilha

Doutora em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco

Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação Matemática e Tecnológica da UFPE. dora_padilha@hotmail.com

Introdução

Este artigo tem como objetivo discutir a pesquisa escolar ou pesquisa de conteúdos, no contexto de uma sociedade marcada pela introdução das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), principalmente a Internet, e por uma educação escolar ainda em fase de acolhimento e compreensão das reais possibilidades pedagógicas desses recursos tecnológicos no âmbito educacional. A‘pesquisa escolar’ ou ‘pesquisa de conteúdos’ é uma estratégia didática muito utilizada por professores em suas práticas de ensino e por alunos para realização de suas atividades educativas, seja no Ensino Fundamental e Médio, seja no Ensino Superior. Entretanto, apesar de sua constante

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utilização nos processos de ensino e de aprendizagem, este fenômeno é pouco estudado no campo da educação (MORAES et al, 2004), sendo mais discutido na área de Ciência da Informação (CAMPELLO, 2002; CARVALHO, 2002; BELLUZZO, 2005; FRAGOSO e BLATTMANN, 2003; MORO et al, 2006), embora não deixe de suscitar debates calorosos entre docentes e discentes quando diante de discussões sobre sua importância e sua prática.

Utilizaremos, daqui por diante, para nos referirmos a este tipo de situação didática, a denominação de ‘pesquisa de conteúdos’. Chamamos ‘Pesquisa de Conteúdos’ tanto para o Ensino Fundamental como para o Ensino Superior, visto que nos dois espaços há o trabalho com conteúdos. Embora a proposta metodológica de ‘pesquisa na web’ apresentada tenha sido desenvolvida no âmbito do Ensino Superior, ela também pode ser realizada nos níveis de Ensino Fundamental e Médio, considerando que as habilidades e princípios mobilizados com a pesquisa para a construção do conhecimento pelo aluno são da mesma forma, mobilizados nos estudantes desses níveis de ensino, considerando, é claro, o contexto e níveis adequados.

Além disso, estamos falando sobre a produção do conhecimento próprio do sujeito, portanto, de acordo com a teoria dos esquemas cognitivos, desde que nascemos estamos construindo nossa representação da realidade, que vai se ampliando e complexificando à medida que nos formamos (CARVALHO, 1998).

Aliado ao fato da pesquisa escolar ou de conteúdos, enquanto metodologia de ensino tradicional, ser um objeto de estudo pouco investigado, com a introdução das TICs nas salas de aula e disponíveis na sociedade em geral, principalmente ao alcance dos alunos e alunas, este procedimento de ensino e estudo apresenta uma nova perspectiva, principalmente no que se refere à prática docente e às metodologias de ensino derivadas dessa junção: pesquisa escolar + TICs.

1 A pesquisa escolar no ensino fundamental: ‘o que é, como é que se faz’

Acreditamos que os alunos não sabem fazer pesquisa por causa do tipo de orientação que eles recebem (ou não) de seus professores. Segundo Silva (1995) os alunos, em todos os níveis de ensino, do fundamental à pós-graduação, não são orientados a usar a biblioteca de forma racional. Isto inclui desde a escolha dos livros a serem pesquisados, que geralmente é apenas um, indicado

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pelo professor, até o tratamento das informações coletadas na pesquisa, que quase sempre não é feito.

Moro et al1 (s/d) identificam a pesquisa escolar “como uma atividade sistematizada, um processo formal, que visa encontrar respostas para questões propostas pelo professor ou pela própria turma” e que os alunos devem ter alguns conhecimentos de pesquisa científica para realização de sua pesquisa escolar. As autoras identificam como procedimentos necessários de serem informados aos alunos pelos seus professores quando solicitarem uma pesquisa: “o que, de que trata o trabalho, para que será realizado, quanto (dimensão), quando (prazo para entrega), onde o assunto pode ser encontrado e como forma da comunicação do trabalho”.

A pesquisa escolar deve ser uma atividade em que os alunos tenham oportunidade de estudo independente, de planejamento de trabalho, de uso de fontes de informação, de desenvolver o pensamento crítico, de adquirir autonomia no processo de conhecimento, de aprender a trabalhar com seus colegas colaborando e contribuindo com o grupo, de sugerir, construir, elaborar, concluir, sentindo-se satisfeito com os resultados atingidos (MORO et al, op cit).

Com a chegada da rede mundial de computadores na escola, a Internet, as fontes de informação e comunicação se amplificaram, a “rede” possibilita tanto a comunicação como o acesso a informações através de uma gama de formas textuais que intensificam a dinamicidade das relações entre as pessoas em qualquer lugar do mundo e também as construções individuais dos sujeitos. Contudo, também ficou muito mais fácil, para quem possui condições de acessar informações, copiar, colar, imprimir, reproduzir. Dessa forma, a possibilidade de uma construção de saberes a partir de uma coleta e tratamento de dados se tornou mais difícil. Ou seja, há muito mais informações disponíveis para que o aluno possa pesquisar, porém, os seus resultados ficaram mais comprometidos, pois agora os alunos nem sequer lêem ou digitam as cópias, apenas copiam-colam ou imprimem direto do site. Também é possível encontrar sites que disponibilizam trabalhos completos sobre qualquer tema ou conteúdo. Além disso, a própria estrutura não-linear da Web, diferente dos ambientes e materiais estruturados e simplificados que nossos alunos estão acostumados, dificulta a busca e seleção de informações relevantes e a organização de um pensamento complexo e articulado por parte dos alunos de forma que ele realize uma concatenação de idéias e argumentações próprias.

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É necessário enfatizar que no momento atual de explosão informacional em que vivemos, possuir competências de pesquisa, análise e reconstrução de saberes é imprescindível para qualquer cidadão. E pelo que vimos até agora, a escola e os professores ainda não estão preparados para atuarem efetivamente na orientação de seus alunos, para a realização de uma pesquisa de conteúdos que produza conhecimentos significativos, de forma crítica e criativa. Urge, então, uma reflexão mais propositiva que estabeleça condições concretas de modificação dessa realidade.

Uma importante contribuição sobre a pesquisa em sala de aula como princípio educativo e que também fundamenta este estudo é a produção do grupo de pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, liderados pelo Professor Doutor Roque Moraes, que tratam da temática. Para Moraes et al (2004)

A pesquisa em sala de aula pode ser compreendida como um movimento dialético, em espiral, que se inicia com o questionamento dos estados do ser, fazer e conhecer dos participantes, construindo-se a partir disso novos argumentos que possibilitam atingir novos patamares desse ser, fazer e conhecer, estágios esses comunicados a todos os participantes do processo (MORAES et al, 2004, p. 11).

Dessa forma, os autores apresentam o questionamento, a construção de argumentos e a comunicação como os três momentos e princípios de uma pesquisa que desenvolva a transformação da sala de aula em um espaço de permanente entendimento da realidade a partir de verdades provisórias que devem sempre ser questionadas e superadas.

Para Barreiro (2004) o questionamento sistemático é o alicerce sobre o qual se erige a pesquisa na sala de aula como princípio educativo. Esse questionamento, entretanto, deve possuir algumas características. Primeiro, ele só se justifica enquanto postura investigativa. Segundo, deve ser produtivo, “no sentido de representar avanço em termos de domínio, visão global e informação” (p. 175). Dessa forma, as características do questionamento estão relacionadas à produção, argumentação, coerência e responsabilidade para a formação das qualidades formal e política do estudante, do professor e, inclusive, do próprio conhecimento.

Ramos (2004) discute a necessidade do princípio ético na argumentação, de forma que esta esteja sempre presente na sala de aula, para a formação de sujeitos críticos, propositivos e ativos na sociedade contemporânea. Para ele, a argumentação é imprescindível para a manutenção da democracia, pela sua capacidade de resolução de problemas. “Para participarem de tomadas de decisões, no plano social, os sujeitos devem estar capacitados para elaborar, selecionar e emitir

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argumentos consistentes” (p. 31). É papel social da escola atual, portanto, formar os alunos para a competência argumentativa.

Para Moraes et al (2004) é necessário que as verdades provisórias construídas a partir do questionamento e da argumentação sejam “debatidas, criticadas, para tornarem-se cada vez mais fortes nos argumentos que as constituem” (p. 18/19), culminando, portanto, no último princípio destacado pelos autores, a comunicação. Esta acontece a partir de dois momentos integrados e superpostos. O primeiro momento refere-se ao esforço de tornar os argumentos claros e expressos em escrita ou oralidade. O segundo momento é a divulgação propriamente dita, exposta à crítica. Mas como as Tecnologias da Informação e Comunicação estão sendo apropriadas nessa proposta de pesquisa enquanto princípio educativo Para Moraes et al (2004) a Internet contribui para a pesquisa em sala de aula, pois os estudantes podem ter acesso a variedade de informações que auxiliam a “levantar questões, procurar respostas, solucionar problemas propostos e interagir...

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