A frente de pesquisa na literatura sobre a produtividade dos autores

AutorRuben Urbizagastegui
CargoDoutor em Ciência da Informação Universidade de Califórnia em Riverside
Páginas38-56

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Rubén Urbizagástegui Alvarado

Doutor em Ciência da Informação Universidade de Califórnia em Riverside

Biblioteca de Ciências

Riverside, CA, USA ruben@ucr.edu

1 Introdução

O objetivo desta pesquisa é identificar, descrever e analisar a frente de pesquisa numa subárea do campo da bibliometria: a produtividade dos autores, conhecida também como a “lei de Lotka”. É também um intento por desenvolver um modelo que identifique e explique as variáveis que influem na composição das frentes de pesquisa de qualquer área do conhecimento.

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Se a publicação de documentos segue um padrão tradicional no processo de comunicação da ciência, essa identificação e descrição da frente de pesquisa podem ser realizadas via análise da literatura produzida sobre o assunto.

Portanto, as redes que se estabelecem por meio das citações num documento publicado poderiam constituir também uma confiável forma de estudar esta subárea científica do campo da bibliometria. Os estudos realizados usando as análises de citações como maneira de compreender melhor a história e estrutura da ciência tem sido descritas por Garfield (1970; 1979), que chama a atenção para o fato de que:

a frequência de citações é uma medida da atividade científica, ou de comunicação sobre a atividade científica. A medida é um desenho sociométrico. Em si mesmo, o número de citações do trabalho de uma pessoa não é uma medida de sua significância … [e] deve ser usado juntamente com outras escalas para obter qualquer significado útil ou significativo, especialmente se o objeto da avaliação é de alguma forma qualitativo. (GARFIELD, 1977, p. 407).

Também Cawkell (1976) fez observações similares sobre o assunto e não foi gratuitamente que Price (1965) descreveu as redes de conexões na produção de artigos científicos, como obtidas “ligando cada artigo publicado com os outros artigos diretamente associados a eles”. Esta conexão seria estabelecida pela citação de um artigo a outros indicados em suas notas de rodapé ou na bibliografia consultada. Analisava assim a incidência das referências e das citações, ressaltando que:

Apesar de a maioria dos artigos produzidos no ano conterem mais ou menos uma média de referências bibliográficas, a metade dessas referências são referentes à cerca da metade de todos os artigos publicados em anos anteriores. A outra metade das referências liga esses novos artigos a um pequeno número de artigos anteriores, e gera um padrão de múltiplas relações. Assim, cada grupo de novos artigos está ligado a uma seleta pequena parte da literatura científica existente, mas casual e fragilmente conectada à maior parte desta literatura. Como cada ano somente uma pequena parte da literatura mais antiga está entrelaçada a nova produção de artigos, podemos ver esta pequena parte da literatura como uma forma de tecido crescente ou capas epidérmicas, uma ativa frente de pesquisa. (PRICE, 1965, p.149).

Já estudando as colaborações num colégio invisível, voltava a insistir em que

não somente temos verificado que a frente de pesquisa é dominada por um pequeno núcleo de ativos trabalhadores … senão que também apontamos a possibilidade de que trabalhando juntos, em colaboração, é que ocorre a maior parte da comunicação na frente de pesquisa. (PRICE, 1966, p.1017).

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Comunicação que se reforçaria via citações bibliográficas, que também permitiriam identificar os artigos considerados “clássicos”, definidos como aqueles mais freqüentemente citados. Este autor insistia que a análise de citações mostrava duas formas de comportamento: a primeira, responsável pela metade das citações mais antigas, às que chamava de arquivísticas, pois evidenciavam ausência de estrutura, eram quase completamente independentes da idade dos artigos mais antigos citados e ocorriam sem um padrão definido. Um segundo tipo, ao qual chamava de frente de pesquisa, como um pequeno número de artigos altamente conectados aos artigos mais recentes e à outra metade da literatura citada por muitas formas e mecanismos. (PRICE, 1969).

Num artigo mais tardio, o autor afirmava que se fossem ordenados 1000 artigos ou cientistas em ordem decrescente de valor, a metade desses valores seriam devidos mais ou menos aos 32 primeiros da lista ordenada; e se tivéssemos um milhão de itens, a metade desses itens seria produzida pelos mil primeiros da lista. No seu entendimento, isto significava que, se era possível cortar aritmeticamente essa população pela metade, então também seria possível contarse geometricamente tomandose, por exemplo, a raiz quadrada.

Desta forma, entendia que qualquer população de tamanho N tinha uma elite efetiva de n . Isto significava que o número de autores prolíficos parecia equivaler à raiz quadrada do número total de autores, que em qualquer campo ou subcampo da ciência seriam os que compõem a chamada “Frente de pesquisa” (PRICE, 1971). Também Garvey (1979: 94) enfatiza que muitos acadêmicos parecem colocar a frente de pesquisa como localizada nos processos de comunicação formais, usando as análises de citação para lhe dar maior especificidade e distinguindo a frente de pesquisa em termos da percentagem de literatura agrupada nos últimos cinco anos, de modo que quanto maior é a percentagem encontrada, mais ativa seria a frente de pesquisa.

Seguindo essas propostas, poucos trabalhos têm sido desenvolvidos no campo da ciência da informação para identificar uma frente de pesquisa. Estes trabalhos estão reduzidos aos realizados por Velke (1970), que estudou os artigos publicados em periódicos como resultados de pesquisas patrocinadas pela Air Force Office of Scientific Research, cobrindo um período de dez anos. Para a contagem das citações a autora ignorou as autocitações e múltiplas citações a um mesmo autor, num mesmo artigo. Identificou que de 462 autores, 15 poderiam ser considerados como constituindo a frente de pesquisa da Air Force Office of Scientific Research. Não obstante, a autora considerou seus resultados um exagero. DeHart e Scott (1991) dão conta dos esforços do ISI em identificar frentes de pesquisa ou áreas de ativa

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pesquisa online correntes e incluílas na base de dados SCISEARCH. No entanto, Urbizagástegui (1993) postula que um campo científico é uma matriz de articulações sistemáticas de paradigmas, coexistindo no tempo mostrando uma diacronia e uma sincronia, uma relação de hegemonia e dependência ocorrendo num espaço social histórico; portanto, em qualquer campo científico não existiria apenas uma frente de pesquisa, senão uma multiplicidade de frentes de pesquisa, tantas quantas sejam as subáreas ou linhas de pesquisa que estruturam uma área de estudo. Nessa área - na realidade em qualquer área - algumas frentes de pesquisa seriam dominantes e outras emergentes. O autor constatou essas frentes de pesquisa nas diversas subáreas que compunham as linhas de pesquisas existentes na bibliometria brasileira.

Não obstante, nenhum trabalho tem sido desenvolvido estudando um campo homogêneo e sem divisões internas como a que oferece a produtividade dos autores. Existiria esta frente de pesquisa nos estudos da produtividade de autores ou lei de Lotka? E se existisse, que autores a constituiriam? Será que o número de artigos publicados pelos autores está correlacionado à quantidade de citações recebidas? Será possível que a categoria da revista onde o artigo é publicado esteja correlacionada às citações recebidas? Supondo que essa frente de pesquisa exista, será que o idioma predominantemente usado para comunicar os trabalhos influi na integração dos autores nessa frente de pesquisa? Esta pesquisa pretende responder a estas interrogações.

2 Metodologia

Como unidades de análises foram tomadas cada uma das citações bibliográficas contidas em cada um dos documentos publicados sobre a produtividade dos autores, conhecida também como a “Lei de Lotka”, cobrindo o período de 1922 a 2003.

Na primeira etapa, identificaramse os autores contribuindo com documentos publicados nesta área. Para lograr essa identificação foi realizada uma busca usando a estratégia Dial Index em todas as bases de dados de DIALOG, com os termos Lotka?(5n) Law?, encontrandose 50 bases de dados que pelo menos continham um artigo sobre o assunto pesquisado. As referências bibliográficas foram depois trasladadas ao PROCITE 5.0 para a elaboração de

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uma base de dados específica sobre o assunto. Também foram realizadas buscas no Information Science Abstract (ISA), Library Literature (LL) e Library and Information Science Abstract (LISA). Com esta busca minuciosa foi produzida uma bibliografia analítica sobre a Lei de Lotka listando um total de 390 referências bibliográficas contendo artigos de periódicos, monografias, capítulos de livros, comunicações em congressos, literatura gris, cartas dirigidas a editores de revistas especializadas em biblioteconomia e ciência da informação. (URBIZAGÁSTEGUI, 2005).

Na segunda etapa, cada uma das citas de cada um dos 390 documentos identificados foram isoladas, cortadas e sistematicamente coladas em fichas de 3.5 x 4.5 cm. Em seguida essas fichas foram organizadas alfabeticamente segundo os autores citados e contabilizados para análise e avaliação.

Para a mensuração dos dados foi usada a contagem da frequência das citas, seguindo as propostas de Price (1971) e executadas por Braga (1973), Christovão (1978), Rodrigues (1981), Velke (1990)...

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