Produção científica dos pesquisadores brasileiros que depositaram patentes na área da biotecnologia, no período de 2001 a 2005: colaboração interinstitucional e interpessoal

AutorAna Maria Mielniczuk de Moura, Sônia Elisa Caregnato
CargoProfessora da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS. - Professora da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS.
Páginas84-105

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Ana Maria Mielniczuk de Moura

Professora da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS.

ana.moura@ufrgs.br

Sonia Elisa Caregnato

Professora da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS.

sonia.caregnato@ufrgs.br

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1 Introdução

Como mostram as áreas das Ciências da Informação e da Cientometria, os aspectos da colaboração podem ser estudados através da coautoria, nas diversas áreas do conhecimento. Especificamente na área da Biotecnologia, a colaboração é muito presente, e esta constatação é feita por Katz e Martin (1997), ao afirmarem que é reconhecido que os avanços em determinadas áreas de pesquisa básica são cruciais para o desenvolvimento de tecnologias genéricas novas, como a de Biotecnologia e a de materiais novos. Tais pesquisas envolvem, frequentemente, a colaboração não somente entre disciplinas, mas também entre setores, por exemplo, entre universidades e indústrias. Assim, justificase aprofundar os estudos de colaboração aplicados a esta área, que se encontra em pleno desenvolvimento.

Em relação à autoria em artigos científicos, o crédito temse configurado em prestígio, em promoção, em obtenção de financiamento e visibilidade para o cientista. No entanto, vários problemas ocorrem nesta área, como a ciência “salame” - fracionamento do conhecimento gerado em diferentes artigos -, inflação da coautoria, diluição da responsabilidade da autoria, a autoria de “presente” e a exclusão dos autores.

Este trabalho visa analisar as características da produção científica dos pesquisadores da área da Biotecnologia, de forma a identificar os seguintes parâmetros: de que países são oriundos os coautores dos pesquisadores brasileiros? A quais instituições (tipos e nomes) os pesquisadores desta área estão vinculados? Como ocorre a colaboração entre as instituições de vínculo destes pesquisadores e entre os pesquisadores? Há a formação de clusters, identificados através das técnicas de MDS e Redes Sociais? Quais as instituições mais produtivas na área da Biotecnologia?

Este artigo é parte da tese de doutorado, intitulada “A Interação entre Artigos e Patentes: um estudo cientométrico da comunicação científica e tecnológica em Biotecnologia”, defendida no Programa de PósGraduação em Comunicação e Informação – PPGCOM/UFRGS. Utilizouse uma abordagem quantitativa a partir de uma perspectiva cientométrica. Entre os métodos, foram utilizados métodos estatísticos aliados à Análise de Redes Sociais – ARS, que deram subsídio para entender os relacionamentos entre entidades (artigos) e sujeitos (autores ou coativos, aqueles pesquisadores que possuem artigos e patentes).

Os sujeitos deste estudo constituemse dos pesquisadores brasileiros que possuem tanto pedidos de patentes como artigos publicados na área de Biotecnologia. A amostra foi formada por aqueles que possuem pelo menos um pedido de patente depositado na Base de Patentes do

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INPI e um artigo indexado na base WebofScience. As entidades analisadas neste estudo são os artigos de periódicos.O período selecionado para a análise das publicações compreende os anos de 2001 a 2005. A produção científica dos sujeitos foi recuperada e identificada no SCI da WebofScience. A coleta iniciouse em janeiro de 2008 e foi concluída no final de fevereiro de 2008. O total de artigos coletados foi de 4.288, e, após a supressão dos registros duplicados, este número foi reduzido para 2.584.

Os nomes de instituições e dos autores foram normalizados. Para esta normalização, utilizouse de consultas a fontes como Lattes, páginas das instituições e consulta ao texto completo dos artigos.

A análise geral apresenta a produção científica por ano de publicação e países onde os mesmos foram publicados. A produtividade desse grupo mostrase equilibrada e com constante crescimento. Observouse um total de 455 artigos em 2001, 461 em 2002, 505 em 2003, 575 em 2004 e 588 em 2005. Na Tabela 1, apresentamse os países que colaboram com o Brasil, identificados no campo de endereço no ISI; representando as ocorrências de colaborações desses países com o Brasil, sendo que não foram deletados os registros duplicados, pois o interesse é verificar a colaboração, e não a produção. O Brasil recebe a colaboração de 64 países, sendo o percentual sobre o número de ocorrências dos países nos artigos.

[TABELA EM PDF ANEXO]

Tabela 1: Países que colaboram com os coativos brasileiros na Biotecnologia

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Os Estados Unidos aparecem como o principal colaborador do Brasil, dados que confirmam o estudo de Glãnzel, Leta e Thijs (2006); a seguir vem a França, a Alemanha e o Reino Unido. Estes. Destacamos aqui, também, a Argentina, que se tornou o mais importante parceiro do Brasil na ciência entre os países da América Latina. Na opção „Outros?, foram reunidos os países com números pouco expressivos, totalizando 239 países, que possuem abaixo de 29 ocorrências.

O aumento de artigos com colaboração internacional pode ser explicado por diferentes fatores. Lima, Velho e Faria (2007) consideram que um destes fatores é que a participação de autores de diferentes países aumenta o impacto do artigo, se comparado àqueles que não possuem este requisito. Para Luukkonen, Persson e Silvertsen (1992), os fatores que têm influenciado a cooperação científica internacional são os econômicos, ligados ao custo do projeto de pesquisa; os cognitivos, relacionados ao acesso ao conhecimento de outros pesquisadores; e os sociais, que estão ligados às redes de relacionamentos dos pesquisadores.

Em relação às instituições de vínculo dos pesquisadores, ressaltase que o arquivo original importado do ISI continha 1.272 entradas diferentes no campo C1 (Address). Após a eliminação dos registros duplicados e do processo de padronização dos dados restaram 739 instituições.

A Tabela 2 apresenta a frequência e o percentual de ocorrência das instituições que apresentam, no mínimo, participação de 1% da amostra. Salientase que a frequência referese à ocorrência da instituição no campo C1, o que significa que uma mesma instituição pode ocorrer mais de uma vez, se houver colaboração intrainstitucional. Portanto, o número total de ocorrências é 7.450, não significando o número total de artigos, que é 2.584.

[TABELA EM PDF ANEXO]

Frequência de Ocorrências de Instituições

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Constatase que as universidades públicas (estaduais e federais) e instituições de pesquisa de renome lideram o topo das instituições que ocorrem com mais frequência no conjunto de dados investigado. Analisandose o total de ocorrências das instituições destacadas acima (4.660 ocorrências), encontramos 3.834 ocorrências para as universidades públicas, totalizando 51,6%. Os Institutos de Pesquisa somam 826 ocorrências (11,2%) e as Universidades Privadas não pontuaram entre as que ocorrem com mais frequência.

Entre as universidades estaduais, destacase a USP, com 1149 ocorrências, o que representa 15,4% do total. A USP é responsável por 28% da produção científica do país, segundo dados da própria instituição. Em relação à pesquisa e pósgraduação em Biotecnologia, destacamse a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz em Biotecnologia do Solo e o Programa de PósGraduação Interunidades em Biotecnologia – PPIB. (UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2008). Outra universidade estadual com destaque é a UNICAMP, 2ª na lista, apresentando uma participação de 9,44% do total de ocorrências. Schwartzman (2001, 2006) argumenta que a UNICAMP foi criada com a intenção clara de tornarse uma universidade de pesquisa moderna e um polo de incorporação de alta tecnologia, sendo parte de um projeto ambicioso de desenvolvimento econômico e tecnológico empreendido pelo governo militar nas décadas de 1960 e 1970. Salientase a participação das universidades federais, que ocuparam sete posições entre as quinze em destaque.

Observase uma alta incidência de pesquisas na área da Biotecnologia também nos renomados institutos de pesquisa, entre eles, destacamse a FIOCRUZ e o BUTANTAN. Outra instituição de pesquisa que obteve destaque foi a EMBRAPA, que possui unidades relacionadas ao tema da Biotecnologia, entre elas: EMBRAPA Clima Temperado, EMBRAPA Pecuária Sul, EMBRAPA Instrumentação Agropecuária, EMBRAPA Recursos Genéticos e Biotecnologia, EMBRAPA Cerrados e EMBRAPA Agropecuária Oeste. (EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA, 2008).

Entre as 15 primeiras instituições não há um expressivo número de instituições de ensino privado. Isto acontece mesmo havendo financiamento público para as pesquisas tanto de instituições públicas como privadas. Também não foram encontradas empresas que tenham contribuído de forma significativa com a produção na área. Esses dados confirmam o que já está consolidado: que a pesquisa no Brasil é realizada basicamente em universidades públicas e centros de pesquisa (CRUZ, 2003; SCHWARTZMAN, 1995, 2001).

Na Tabela 3, a seguir, observase o número de instituições por artigo e seu percentual cumulativo, não significando a simples ocorrência, mas o número de artigos sem duplicações.

Pag...

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