Pobreza e condições socioeconômicas dos catadores de caranguejo do povoado Carnaubeiras, Araisoes-ma

AutorJean Carlos Costa Soares/Jaíra Maria Alcobaça Gomes
Páginas343-360
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POBREZA E CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS DOS CATADORES DE CARANGUEJO DO
POVOADO CARNAUBEIRAS, ARAIOSES-MA
Jean Carlos Costa Soares
Universidade Federal do Piauí (UFPI)
Jaíra Maria Alcobaça Gomes
Universidade Federal do Piauí (UFPI)
POBREZA E CONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS DOS CATADORES DE CARANGUEJO DO POVOADO
CARNAUBEIRAS, ARAIOSES-MA
Resumo: Na região do Baixo Parnaíba maranhense, no município de Araioses, encontra-se uma das maiores comunidades
de catadores de caranguejo-uçá do Brasil: Carnaubeiras. O povoado deve sua importância ao grande comércio de
exportação de crustáceo para os estados vizinhos do Piauí e Ceará, assim como ao fato de estar situado entre as mais
importantes rotas turísticas do país. Este trabalho busca conhecer as condições socioeconômicas dos catadores de
caranguejo através de entrevistas semiestruturadas, procurando entender suas condições de pobreza. Os resultados
mostram que: primeiro, os catadores de caranguejo têm baixa escolaridade; segundo, seus rendimentos não chegam a um
salário mínimo; terceiro, e em consequência, o baixo salário é fruto da espoliação por parte de empresários da gastronomia
turística de estados vizinhos; quarto, falta organização coletiva na categoria para enfrentar sua exploração. Conclui que os
resultados, portanto, denotam o quadro de miséria do catador de caranguejo na comunidade Carnaubeiras.
Palavras-chave: Catador de caranguejo, Araioses, Carnaubeiras, Exploração, Pobreza.
POVERTY AND SOCIO-ECONOMIC CONDITIONS OF THE TOWN CRAB PICKERS OF CARNAUBEIRAS, ARAIOSES-
MA
Abstract: In the Lower Maranhão region Parnaíba, in the municipality of Araioses, is one of the largest communities in
mangrove crab pickers of Brazil: Carnaubeiras. The town owes its importance to the large export trade crustacean to
neighboring states of Piauí and Ceará as well as being situated between the major tourist routes in the country. This paper
sought to understand the socioeconomic conditions of crab collectors through semi-structured interviews to understand its
poverty. The results show that first, the crab collectors have low education; Second, the income of these workers do not
reach the minimum wage; Third and consequently, low pay is the result of plunder by the entrepreneurs of the tourism
cuisine of neighboring states; Fourth ,lack of collective organization category in coping against their exploitation; Concludes
that the results obtained in this study denote the frame of poverty in the current situation of the crab hunter Carnaubeiras
community.
Key words: Crab catcher, Araioses, Carnaubeiras, Exploitation, Poverty.
Recebido em: 19.02.2015. Aprovado em: 07.03.2016.
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1 INTRODUÇÃO
Os problemas sociais em nosso
país, como violência, pobreza e miséria, no
campo ou na cidade, são indicadores de uma
sociedade extremamente desigual. Os mais
afetados neste processo são grupos sociais
historicamente excluídos, como as minorias
raciais, os analfabetos, os trabalhadores
avulsos, dentre outros. A nossa história, como
nação, traz os vestígios da construção e
constituição, ao longo do tempo, de nossa
desigualdade contemporânea.
Nossa formação política,
econômica e social remonta ao passado como
colônia da metrópole portuguesa (1500-1822) e
como nação independente no século XIX.
Durante os seus 514 anos de história, foi sendo
cristalizado um modelo de exclusão de
segmentos da população brasileira em relação
ao direito de ser protagonista do seu próprio
desenvolvimento.
Direitos não existiam no Brasil,
dominado por práticas clientelistas herdadas
dos portugueses e transferidas a seus
descendentes e brasileiros GH EHUoR, no país
cuja sociedade, de economia rural, era
compromissada com o escravismo e a
manutenção do VWDWXV TXR frente a uma
população esmagadoramente analfabeta, de
inócua participação na vida política e social da
nação.
Os indígenas brasileiros foram as
primeiras vítimas a experimentar a indiferença
de seus conquistadores e a força tecnológica
superior do homem europeu, tendo como
consequência a “[...] dominação e o extermínio,
pela guerra, pela escravização e pela doença,
de milhões de indígenas [...]” (CARVALHO,
2013, p. 18).
Para desenvolver o povoamento e
a vida econômica e social na colônia brasileira,
os portugueses precisavam de mão de obra.
Como era praxe na América espanhola e na
experiência portuguesa, em outras de suas
colônias pela África e Ásia, a metrópole lusa
aliava-se a um dos lados de tribos indígenas
rivais, escravizando seu inimigo.
Acostumados à liberdade e não se
submetendo à sistemática escravista dos
portugueses, os indígenas
[...] assumiam quase
sempre a forma de uma
resistência obstinada,
ainda quando silenciosa e
passiva, às imposições
da raça dominante [...]
(HOLANDA, 1995, p. 48).
Em fins do século XIX, o
ostracismo foi o destino final de milhares de
escravos, agora libertos pela Lei Áurea em
1888, depois de uma campanha interna (dos
abolicionistas) e externa (da Inglaterra) pela
abolição da escravatura. Nessa perspectiva, os
negros libertos se dirigiram aos principais
núcleos urbanos próximos à sua antiga região
de trabalho, amontoados na periferia desses
espaços, formando os primeiros cortiços (o

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