Podemos: um terremoto político que sacode a Espanha

AutorAna Lúcia da Silva
CargoProfessora Titular de História Social do Brasil da UFG (aposentada). Doutora em História Social do Brasil USP. Especialista em Ciências do Desenvolvimento ILADES-CHILE. Ex-coordenadora do Mestrado em Ciências Agrárias do Departamento de História da UFG. Ex-Secretária Nacional de Formação da Central Única dos Trabalhadores 1984-1986. Fundadora e...
Páginas201-217
Cadernos do CEAS, Salvador, n. 237, p. 386-401, 2016
PODEMOS: UM TERREMOTO POLÍTICO QUE SACODE A ESPANHA
PODEMOS PARTY: AN EARTHQUAKE POLICY THAT WAGS SPAIN
Ana Lúcia da Silva
*
Resumo
Este artigo analisa a conjuntura de emergência do Partido Podemos na Espanha, assim como suas
propostas e trajetória, desde a primeira eleição da qual participou, em maio de 2014, até a última, em
junho de 2016. A autora, compreende o surgimento do Podemos como o resultado histórico das lutas e
contradições que se desenvolveram na Espanha na esteira do movimento chamado 15-M, de maio de
2011, que, por semanas ocupou as praças na Espanha, ficando internacionalmente conhecido como os
Indignados. Porque um terremoto político? A coligação de movimentos e organizações comandada pelo
PODEMOS, em maio de 2015, venceu as eleições para prefeituras e províncias, elegendo a prefeita de
Madrid e de Barcelona. Este jovem partido tornou-se também a primeira força política em toda a
Catalunha e conseguiu ser a força mais votada nas comunidades de Aragão, Cantábria, Castela-a-
Mancha, Valência, Baleares, Murcia e La Rioja. Na Europa, é hoje a única alternativa de esquerda
consolidada. Todavia, já se observa uma mudança significativa no seu discurso, um certo abrandamento
político. Em 2014, na primeira assembleia do PODEMOS, podia se ouvir que o céu se toma por assalto,
não por consenso. Após as eleições de junho, quando o partido perdeu um milhão de votos em relação
a dezembro, seus dirigentes já falaram em superar a fase da blitz e se converterem em um partido normal.
Palavras-chave: Podemos; 15-M (Movimento dos Indignados); democracia; Espanha; esquerda
europeia.
Abstract
This paper analyzes, on one hand, the challenging conjuncture in which Podemos Party has emerged in
Spain. On the other hand, the paper presents the proposals and an overview of the trajectory of this new
political party, especially the period between the first election in which it participated, in May, 2004 and
the last dispute in June, 2016.
Keywords: Podemos (We Can) Party. 15-M Movement (Indignants Movement). Democracy. Spain.
Um terremoto político sacode a Espanha tornou-se, em 2014, uma constante nas
análises políticas sobre o país. O terremoto em questão é o partido político PODEMOS, que,
registrado oficialmente como partido em janeiro de 2014, elegeu, em maio, cinco deputados
* Professora Titular de História Social do Brasil da UFG (aposentada). Doutora em História Social do Brasil USP.
Especialista em Ciências do Desenvolvimento ILADES-CHILE. Ex-coordenadora do Mestrado em Ciências
Agrárias do Departamento de História da UFG. Ex-Secretária Nacio nal de Formação da Central Única dos
Trabalhadores 1984-1986. Fundadora e Vice Presidente da ADUFG - 1981-1983. Coordenadora Geral do Ponto
de Cultura Abrindo Janelas Goiânia-Goiás. 2010-2016.
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Cadernos do CEAS, Salvador, n. 237, p. 386-401, 2016
para o Parlamento Europeu (de um total de 54), com 7,98%, ou seja, com mais de 1,2 milhão
de votos, sendo a quarta bancada mais votada na Espanha.
O terremoto se confirmou pelos resultados das eleições para prefeituras e províncias,
que correspondem aos nossos Estados, realizadas em maio de 2015, quando a coligação de
movimentos e organizações comandada pelo PODEMOS, Ahora Madrid, elegeu prefeita de
Madrid Manuela Carmena, uma juíza que enfrentou a ditadura franquista. Já a coligação
Barcelona en Comú elegeu prefeita de Barcelona Ada Colau, uma ativista das lutas contra os
despejos. PODEMOS se tornou, também, a primeira força política em toda a Catalunha e
conseguiu ser a força mais votada nas comunidades de Aragão, Cantábria, Castela-a-Mancha,
Valência, Baleares, Murcia e La Rioja.
Com esses resultados, rompeu-se o bipartidarismo PP X PSOE vigente na Espanha
desde 1978 e PODEMOS tornou-se a terceira força política da Espanha, após dois anos de seu
surgimento.
A origem institucional do PODEMOS encontra-se no manifesto Mover ficha:
convertir la indignación en cambio político, apresentado no fim de semana de 12-13 de janeiro
de 2014 e difundido pela publicação digital Público, assinado por cerca de trinta intelectuais,
personalidades da cultura, do jornalismo e do ativismo social.
O PODEMOS é a expressão das lutas e contradições que se desenvolveram na
Espanha, principalmente na esteira do movimento chamado 15-M que, em maio de 2011,
ocupou, por semanas, as praças na Espanha e que, internacionalmente, ficou conhecido como
os Indignados.
Historicamente, o movimento 15-M é fruto de um conjunto de lutas de movimentos
diferenciados que, a partir, principalmente, de movimentos surgidos durante a ditadura
franquista (movimentos de moradia, feministas, ecológicos) ganharam expressão e
diferenciação no período da Transição negociado pela própria ditadura e se expressou no pacto
de Moncloa. A década de 70 é rica em movimentos que nascem com a preocupação de recuperar
a memória histórica para revelar o que se passou durante a ditadura franquista. Após anos de
silenciamento, o silêncio foi rompido quando, em 2000, encontraram-se na região de Bierzo,
em Leon, em uma fossa comum, corpos de 13 civis republicanos assassinados em 1936, no
início da Guerra Civil espanhola. Esse fato desencadeou uma ação coletiva mais sistemática.
Criou-se a Associação para a Recuperação da Memória Histórica e emerge um movimento
social de memória e direitos humanos com maior articulação interna e visibilidade pública.

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