A política externa dos governos Collor (1990-1992) e Itamar Franco (1992-1994)

AutorRicardo Basilio Weber
Páginas223-239
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Capítulo 13
A POLÍTICA EXTERNA DOS GOVERNOS COLLOR
(1990-1992) E ITAMAR FRANCO (1992-1994)
Ricardo Basílio Weber1
Introdução
O capítulo expõe aspectos fundamentais da Política Externa
Brasileira (PEB) na sua relação com a conjuntura doméstica. Esta
dinâmica permite a compreensão das nossas relações externas, nos
períodos de 1990-1992 e de 1992-1994, correspondentes aos
governos de Fernando Collor de Mello e de Itamar Franco.
No quadriênio em tela houve relativa inflexão da PEB, pois
sofríamos do esgotamento do nosso modelo de desenvolvimento,
outrora produtor de grande crescimento econômico. No início dos
anos 1990, tentávamos emergir da chamada década perdida dos anos
1980, convivendo com baixos índices de crescimento, expressivo
endividamento externo e grandes índices de inflação. Essa
conjuntura ensejaria verdadeira reestruturação macroeconômica do
Estado brasileiro, envolvendo privatizações, saneamento das contas
públicas, abertura da economia e a criação do Plano Real, já no
governo Itamar Franco.
No entanto, a estratégia de estabilização e gestão
macroeconômica do Real já foi implementada a partir de um novo
1 Bacharel em Ciências Sociais UERJ. Mestre em Ciência Política UFF. Doutor
em Relações Internacionais PUC/RJ. Pós-doutor em Ciência Política UFF.
Doutorando em Direito, Negócios e Instituições - UFF. Foi professor de
graduação, pós-graduação e coordenador de cursos de graduação em Relações
Internacionais no IUPERJ/UCAM e no IBMEC-RJ. E-mail:
ricar dobweber@gmail.com
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formato de inserção externa, refletindo a opção política pela
aderência aos postulados do Consenso de Washington, assim como
uma maior proximidade e alinhamento com os países centrais.
“A situação de extrema vulnerabilidade externa em que o
Brasil se encontrava no início da década de 90 fez com que o novo
governo percebesse os paradigmas tradicionais de nossa diplomacia,
que privilegiavam uma maior aproximação Sul-Sul (...) como os
responsáveis pelo retrocesso e pela perda de dinamismo político da
inserção internacional brasileira” (Arbilla, 1997: 60-63 APUD
VIEIRA, 2001:251). Assim, a situação de incerteza e desarticulação
política do Terceiro Mundo, com a consequente deslegitimação da
perspectiva do Sul foi enfrentada pelo governo brasileiro mediante
uma identificação estreita do país com os modelos econômicos e
políticos do mundo desenvolvido” (VIEIRA, 2001:251).
Os anos do governo Collor de Mello foram os primeiros de
uma transição de modelo econômico e de uma reformulação da nossa
inserção internacional. Anos conturbados na conjuntura política
doméstica, encerrada em sua primeira parte pelo Impeachment do
primeiro presidente eleito pelo voto popular (1992), após mais de 20
anos de regime militar. Até por conta dessa conjuntura, abriu-se a
possibilidade de que o presidente Fernando Collor (1990) exercesse
um estilo de gestão política marcado pelo personalismo e por uma
relativa desconsideração de setores da burocracia estatal
normalmente encarregados da gestão da PEB, particularmente o
Itamaraty. Fala-se em um presidencialismo personalista
(SANTANA, 2006) na literatura para conceituar o perfil de gestão
desse mandatário.
1. O Período Fernando Collor de Mello (1990-1992)
A política externa de Collor de Mello se defrontou com a
urgência de promover uma reformulação da inserção externa, a partir
da modernização da economia nacional, embalada por novas
instituições e novo processo político democrático, que vinham se

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