Política industrial e catching-up da estrutura produtiva chinesa entre 2007 e 2014

AutorAntônio Carlos Diegues - Mateus Guerreiro Pellegrini - Thiago Noronha
CargoUniversidade Estadual de Campinas, UNICAMP, Brasil - Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, Brasil - Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, Brasil
Páginas19-55
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 255, p. 19-55, jan./abr. 2022 | ISSN 2447-861X
POLÍTICA INDUSTRIAL E CATCHING-UP DA ESTRUTURA
PRODUTIVA CHINESA ENTRE 2007 E 2014
Industrial Policy and chinese productive catching-up between 2007-2014
Antônio Carlos Diegues
Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, Brasil
Mateus Guerreiro Pellegrini
Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, Brasil
Thiago Noronha
Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, Brasil
Informações do artigo
Recebido em 12/05/2022
Aceito em 27/06/2022
doi>: https://doi.org/10.25247/2447-861X.2021.n255.p19-55
Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons
Atribuição 4.0 Internacional.
Como ser citado (modelo ABNT)
DIEGUES, Antônio Carlos; PELLEGRINI, Mateus
Guerreiro; NORONHA, Thiago. Política industrial e
catching-up da estrutura produtiva chinesa entre 2007 e
2014. Cadernos do CEAS: Revista Crítica de
Humanidades. Salvador/Recife, v. 47, n. 255, p. 19-55,
jan./abr. 2022. DOI: https://doi.org/10.25247/2447-
861X.2022.n255.p19-55
Resumo
O presente artigo tem o objetivo de examinar a capacidade de
executar catching-up produtivo e tecnológico, bem como suas
relações com a forma de acoplagem às cadeias globais de valor
por parte da C hina entre 2007 e 2014 . Para isto, examina-se as
motivações da estratégia nacional de desenvolvimento chinesa
e o uso de políticas industrial e tecnológica e se mensura a
participação em termos de valor adicionado pela China à
indústria de transformação dos Estados Unidos no referido
período. Os resultados apontam um acoplamento virtuoso por
parte da China à indústria de transformação dos EUA e às
cadeias globais de valor, de modo que ela eleva sua participação
e i mportância de modo generalizado, mas especialmente em
setores e atividades intensivos em tecnologia e conhecimento.
Isto é, os maiores incrementos residem nos setores e atividades
capazes de arranjar melhores possibilidades de catching-up e
são justamente os espaços selecionados pela política industrial
e tecnológica e a estratégia nacional de desenvolvimento
chineses.
Palavras-Chave: Política Industrial. Cadeias globais de valor.
Catching-up. China. Indústria de Transformação.
Abstract
This paper aims to exam the capabilities of China perform
productive and technological catching-up, as well as the
relationship between this and China’s form of insertion into the
global value chains between 2007 and 2014. To do so, is
examined the motivations of the Chinese national development
strategy and your use of industrial and technological policy and
its measured China’s share in value ad ded to United States’
transformation industry in this period. The results show a fruitful
insertion into United States’ transformation industry and into
global value chains for China, in a way that China increases your
share and importance in general but increases especially in
sectors and activities that are intense in technology and
knowledge. That is, C hina’s biggest increases are in sector and
activities responsible for providing the better possibilities of
catching-up e are exactly the sector and activities that China’s
industrial and technological policy and China’s national
development strategy chose.
Keywords: Industrial policy. Global value chai ns. catching-up.
China. Transformation Industry.
INTRODUÇÃO
Impossível observar o cenário econômico internacional atual e das últimas décadas
sem notar a importância crescente de um “dragão asiático”. A China, predominantemente
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rural, agrária e atrasada até o início da década de 1980, conseguiu com uma velocidade
surpreendente figurar como potência industrial, militar, tecnológica, política e econômica.
Reconhecida por altas taxas de crescimento econômico, elevado volume de exportações,
forte atração de investimento externo, dentre outras características, a economia chinesa foi
sendo capaz de transformar sua estrutura produtiva e redesenhar sua inserção internacional.
É um movimento, que dado o estágio interligado e globalizado do capitalismo internacional,
ecoa e gera impactos diversos ao redor do mundo ameaçando transformar a geografia
econômica internacional e o status quo.
O presidente Xi Jinping reiterou recentemente em discurso em comemoração ao
centenário do Partido Comunista Chinês o objetivo da China como o de melhorar as
condições de vida da população e tornar a China uma nação harmoniosa e “moderadamente
próspera” através da construção de um “socialismo com características chinesas” (Wanming,
2021). Fica evidente que nesta trajetória a política e burocracia chinesas, isto é, o Estado
chinês, tem papel de destaque ao mobilizar o setor e as políticas públicas conforme a direção
desejada. Na prática, isso significa que o Estado não conduz a trajetória de
desenvolvimento do país, mas também elabora, avalia e periodicamente remodela a
estratégia de desenvolvimento nacional através de um processo de aprendizado gradual e
experimental (Cintra & Pinto, 2017).
Como resultado, fica notória a centralidade da política industrial e tecnológica na
condução da transformação da estrutura produtiva do país fomentando os setores e
atividades mais intensivos em tecnologia, conhecimento, ciência e construindo a capacidade
de realizar pesquisa e desenvolvimento (P&D) domesticamente para desenvolver um motor
dinâmico para o crescimento e garantir a sustentabilidade das posições que a China vem
galgando. Também fica clara sua centralidade sobre a forma de acoplagem da China às
cadeias globais de valor. Corrêa, Castilho e Pinto (2019) apontam que é preciso abandonar a
posição de mero montador final e se tornar um elo capaz de produzir e desenvolver
componentes sofisticados nas cadeias para viabilizar uma inserção internacional virtuosa.
Logo, tanto o desenvolvimento doméstico pode se aproveitar da integração produtiva
internacional quanto que a forma da integração internacional é substancialmente
influenciada pelas condições e capacidades de produção domésticas.
Tendo em vista a relevância do que foi descrito, o objetivo geral deste trabalho é o de
analisar o processo de catching-up produtivo e tecnológico chinês sob o prisma das
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transformações da composição setorial do valor adicionado pela China à indústria de
Transformação dos Estados Unidos no período de 2007 a 2014. O trabalho tem o propósito
de estudar este fenômeno dentro da perspectiva da fragmentação produtiva internacional e
da consolidação das cadeias globais de valor e observar os desdobramentos da estratégia
chinesa de transformação estrutural na sua inserção internacional e sua capacidade de
promover catching-up no período referido. Para isto, além desta seção introdutória, o
trabalho se estenderá por outras quatro. A segunda seção trará uma discussão sobre o Estado
chinês e as motivações e objetivos da sua estratégia nacional de desenvolvimento. A terceira
seção tem a pretensão de discutir tanto a centralidade da industrialização e da inovação para
o catching-up quanto como a China acopla a sua política industrial e tecnológica à sua
estratégia de inserção internacional para viabilizar uma inserção virtuosa nas cadeias globais
de valor. A quarta seção busca apresentar e examinar as características da integração
produtiva internacional da China e o movimento de catching-up. Nesta seção, apresentar-se-
á a abordagem metodológica e as fontes de dados utilizadas, bem como os resultados
obtidos com o propósito de descrever e qualificar a integração e o catching-up chineses no
período referido. Por fim, a última seção contribui retomando algumas conclusões e tecendo
algumas considerações finais deste trabalho.
BREVE DISCUSSÃO SOBRE A ESTRATÉGIA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO CHINESA
Tendo em mente os objetivos deste trabalho se faz útil delinear brevemente, de início,
um conceito de desenvolvimento econômico. Partindo da ab ordagem estruturalista,
principalmente a partir da exposição de (Cano, 2012), compreende-se o desenvolvimento
econômico como um processo marcado por crescimento ec onômico acompanhado de
intensa reconfiguração e transformação da estrutura produtiva, realocando os fatores
produtivos na direção de atividades de maior produtividade e elevando as taxas de
investimento na economia. Simultaneamente, devem-se alterar alguns arranjos sociais
reconfigurando estruturas regionais, culturais, de emprego, de moradia etc. na direção de
melhores condições de vida.
É pertinente destacar que analisar o processo de transformação econômica da China
é analisar um movimento de escalas gigantescas. Trata-se de uma economia com
crescimento anual do PIB acima de 5% entre 1991 e 2019 e a primeira posição mundial em
PIB paridade poder de compra US$19,8 trilhões, superando até os Estado Unidos segundo

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