Políticas públicas em tempos conservadores: reflexões à luz do cotidiano e da subalternidade

AutorAdriana Ramos, Amanda Guazzelli, Emilie Faedo Della Giustina, Janaína Albuquerque de Camargo
CargoUniversidade Federal Fluminense (UFF), de Niterói/RJ, Professora Associada da Escola de Serviço Social; Doutora em Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: adriana.ramos.4791@gmail.com / Universidade Federal Fluminense, Professora Adjunta do Departamento de Serviço Social de Campos (UFF-Campos). Doutora em ...
Páginas584-602
POLÍTICAS PÚBLICAS EM TEMPOS CONSERVADORES: reflexões à luz do cotidiano e da
subalternidade
Adriana Ramos
1
Amanda Guazzelli
2
Emilie Faedo Della Giustina
3
Janaína Albuquerque de Camargo
4
Resumo
Este texto procura apresentar, de maneira meramente introdutória, uma discussão acerca das políticas públicas na
contemporaneidade, assumindo como pressuposto de análise que sua efetivação se dá no cotidiano das classes sociais
subalternas e conformada por traços conservadores. Compreende que é no cotidiano que se objetivam, em condições
históricas e socialmente determinadas, as relações sociais entr e os sujeitos e, portanto, entre as classes entre os
subalternos, grupos sociais constituídos que estão sujeito s a formas de direção política e social impostas pelas classes
dominantes. Conclui que essa luta se expressa no cotidiano, que é carregado de determinações históricas e sociais, espaço
para a conquista da hegemonia, de um determinado grupo sobre o outro, onde se con strói e se consolida a ordem instituída,
mas também onde a ela se resiste.
Palavras-chave: políticas públicas; conservadorismo; cotidiano, subalternidade.
PUBLIC POLICIES IN CONSERVATIVE TIMES: reflections from everyday life and subalternity
Abstract
This text seeks to present, in a introductory way, a discussion about contemporary public policies, assuming as a
presupposition of analysis that their effectiveness takes place in the daily life of subaltern social classes and are shaped by
conservative traits. We understand that it's in everyday life that, in historically and socially determined conditions, social
relations between subjects and, therefore, between classes are objectified - between subalterns, constituted social groups
that are subject to forms of political and social direction imposed b y dominant classes. This struggle is expressed in everyday
life, which is loaded with historical and social determinations, a space for the conquest of hegemony, of a cer tain group over
another, where the established order is built and consolidated, but also where it is resisted.
Keywords: public policy; conservatism; everyday, subalternity.
Artigo recebido em: 12/02/2022 Aprovado em: 14/03/2022
1
Universidade Federal Fluminense (UFF), de Niterói/RJ, Professora Associada da Escola de Ser viço Social; Doutora em
Serviço Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: adriana .ramos.4791@gmail.com
2
Universidade Federal Fluminense, Professora Adjunta do Departamento de Serviço Social de Campos (UFF-Campos).
Doutora em Serviço Social pela PUC-SP. E-mail: guamandita@yahoo.com.br
3
Universidade Feder al Fluminense (UFF), de Niterói/RJ, Professora Adjunta da Escola de Serviço Social; Doutora em
Ciências Sociais Aplicadas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). E-mail: em iliefaedo@hotmail.com
4
Universidade Feder al Fluminense (UFF), de Niterói/RJ, Professora Adjunta da Escola de Serviço Social; Doutora em
Serviço Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). E-mail: jana.camargo 82@gmail.com
Adriana Ramos, Amanda Guazzelli, Emilie Faedo Della Giustina e Janaína Albuquerque de Cam argo
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1 INTRODUÇÃO
Considera-se que a pandemia da covid-19 adquire contornos muito particulares no Brasil
no que tange às estratégias adotadas para seu enfrentamento, via políticas que, deliberadamente,
escolhem pelo “deixe morrer”, seus sujeitos – resguardadas as devidas particularidades de ordens
distintas que envolvem uma situação pandêmica são a própria encarnação de múltiplas formas de
opressão, enfeixadas todas elas pela condição da classe a que pertencem: as classes sociais
subalternas.
Um prosseguimento que busca elaborar um sintético registro de algumas das exigências
analíticas, sobretudo à luz de Heller (1991, 2000), pode contribuir para a apreensão das necessidades
típicas da história do tempo e do espaço em que são (re)produzidas no âmbito do cotidiano como o
“reino da necessidade”, segundo as lições de Marx.
Nesse sentido, o texto pretende apresentar uma reflexão acerca das políticas públicas a
partir de um viés bastante preciso, ou seja, pela articulação entre a vida cotidiana considerada em
seu estatuto ontológico na relação com a história , o conservadorismo, que assume várias formas na
contemporaneidade então expressas e reproduzidas no cotidiano, e a subalternidade, considerada em
face da hegemonia e, portanto, dos tensionamentos entre as classes. Assim, o significado contraditório
das políticas públicas como mecanismo de reprodução da força de trabalho, mas também como
incorporação por parte do Estado brasileiro de algumas das demandas da classe trabalhadora é aqui
pensado a partir da referida articulação, uma vez que o cotidiano no qual se efetivam tais políticas é
também tanto o âmbito privilegiado da reprodução do conservadorismo, quanto da subalternidade.
Políticas (estas) que expressam, no cotidiano prenhe de conservadorismo, as relações de
subalternidade e a hegemonia de uma determinada classe sobre a outra, ou seja, das elites brasileiras
dirigentes sobre os subalternos que são direcionados pelos interesses corporativistas dessas elites,
derivando daí diversos elementos.
Nas linhas seguintes buscamos refletir sobre o estatuto ontológico da vida cotidiana com
vistas à compreensão de que, sendo ela o âmbito da continuidade da vida em condições históricas e
socialmente determinadas, passam por ela, necessariamente, as formas de exploração, alienação, as
lutas de classes e as configurações assumidas pelas mesmas, seja na experimentação da dominação
ou do seu exercício, das ideologias tecidas no seio desses processos notadamente o
conservadorismo , das respostas institucionais a eles, entre tantos outros.
Nesse sentido, partindo da compreensão de que o estatuto ontológico da vida cotidiana
implica na sua ineliminável historicidade, avançamos nas reflexões sobre os contornos conservadores
constitutivos da vida social na atualidade, especialmente na realidade brasileira. Aqui é preciso

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