Politizando a limpeza e o cuidado a partir do feminismo decolonial

AutorAmanda Melo
CargoMestre em Filosofia, Universidade Federal do ABC, Brasil
Páginas306-311
306GÊNERO | Niterói | v. 22 | n. 1 | p. 306-306 | 2. sem 2021
306
POLITIZANDO A LIMPEZA E O CUIDADO A PARTIR DO
FEMINISMO DECOLONIAL
VERGÈS, Françoise. Um feminismo decolonial. Tradução de Jamille
Pinheiro Dias e Raquel Camargo. Ubu Editora, São Paulo, 2020. 144p.
Amanda Melo1
A pandemia que se instaurou globalmente em decorrência da
COVID-19 torna a leitura deste pequeno e provocativo ensaio ainda mais
marcante. A indústria da limpeza e o lugar predominante de mulheres racia-
lizadas2 neste setor é o ponto de partida da reflexão de Françoise Vergès
em Um feminismo decolonial (2020). Cientista política e historiadora fran-
cesa, autora de vários livros sobre feminismo, escravidão e decolonialidade,
Vergès escreve um manifesto pela luta feminista decolonial que contesta a
atual economia política do trabalho e a forma como o feminismo “liberal” e
“civilizatório” – burguês, branco e a serviço do capitalismo – tomou o lugar
dos movimentos revolucionários de libertação das mulheres.
O que Vergès busca retomar com sua investigação é o caráter revo-
lucionário da reflexão feminista, a partir de uma abordagem que integra a
luta antipatriarcal, antirracista, anticapitalista e anticolonial. Para Vergès,
trata-se de adotar um feminismo decolonial, conceito que pode parecer
de difícil compreensão à primeira vista porque é frequentemente confun-
dido com a noção de interseccionalidade, teorizada por Kimberlé Crenshaw
(1989). Vergès coloca a especificidade do feminismo decolonial como atre-
lada a uma história milenar de lutas anticoloniais: “não se trata, portanto,
de uma nova onda do feminismo, e sim da continuação das lutas de eman-
cipação das mulheres do Sul global” (VERGÈS, 2020, p.42).
No prefácio da edição brasileira, publicada em 2020 pela Ubu Editora,
Vergès afirma que escreveu o livro para mostrar como o trabalho de cuidado e
1 Mestre em Filosofia, Universidade Federal do ABC, Brasil. E-mail: amandasdmelo@gmail.com. Orcid:
0000-0002-9318-4173
2 Flávia Rios (2020), no prefácio, esclarece que o termo “racialização” não pode ser traduzido como pes-
soas negras, tal como acontece nas Américas e no Brasil. Isso porque Vergès busca considerar, ao se referir a
mulheres racializadas, aquelas mulheres entendidas como não brancas e não ocidentais que vivem na Europa e
nos Estados Unidos, na situação de imigrantes ou refugiadas.
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