Precarização do trabalho, pandemia covid 19 e a questão da educação na pandemia

AutorHelena Hirata
CargoDiretora de pesquisa no Centro Nacional de Pesquisa Cientifica, CNRS, da Franca e pesquisadora colaboradora do Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo, USP.
Páginas124-134
PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO, PANDEMIA COVID 19 E A QUESTÃO DA EDUCAÇÃO NA
PANDEMIA
Helena Hirata
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A crise econômica, social, política, sanitária por que passa o Brasil afeta a população trabalhadora de maneira desigual,
dadas as grandes desigualdades sociais de classe social, de raça, de gênero que se verifica no pais. Essas
desigualdades são cumulativas: essa cumulatividade das desigualdades sociais é hoje conceitualizada sob a noção de
«interseccionalidade» ou «consubstancialidade» das relações sociais. Por interseccionalidade ou consubstancialidade
entendemos a interdependência das relações sociais de classe, de gênero e de raça enquanto relações de poder
imbricadas. As cuidadoras, por exemplo, cumulam muitas vezes o fato de serem mulheres, negras e pobres.
O trabalho na crise é caracterizado por três dimensões: um aumento da precarização, da informalidade e da intensificação
do trabalho.
Artigo recebido em: 14/02/2022 Aprovado em: 26/04/2022
Precarização
A precarização do trabalho das mulheres e dos homens é reforçada hoje pela reforma
trabalhista que suprime os direitos adquiridos anteriormente pelas lutas coletivas. No Brasil e no mundo
essas reformas tiveram como consequência a desregulamentação do trabalho, a supressão de direitos,
e tentativas bem sucedidas para diminuir o poder de negociação dos sindicatos. Dejours apresentou
num Congresso na Politécnica da USP, em 2019, as consequências da precarização do trabalho em
relação à saúde mental. A precarização envolve injustiça, medo da demissão, solidão, relações de
concorrência e impossibilidade de aceder à sublimação (DEJOURS, 2020).
Ha uma forte divisão sexual da precariedade. As mulheres são mais numerosas que os
homens no trabalho informal e no trabalho em tempo parcial. Também é necessário atentar para a
transversalidade da precariedade (BÉROUD et al, 2017): a precariedade no trabalho e no emprego, a
precariedade das condições de vida, a precariedade familiar, a precariedade urbana e da habitação,
precariedade face à escola e à cultura, precariedade econômica ou pobreza, precariedade social
associada ao envelhecimento, ao celibato ou à juventude (cf. BÉROUD et al, 2017, p. 19-20):
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Diretora de pesquisa no Centro Nacional de Pesquisa Cientifica, CNRS, da Franca e pesquisadora colaboradora do
Departamento de Sociologia da Universidade de São Paulo, USP.

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