A propósito de um encontro entre pesquisadores: Ciências sociais e política no Brasil
| Autor | Monique de Saint-Martin |
| Cargo | Socióloga, diretora de estudos na EHESS e pesquisadora do IRIS, ingressou na VI seção da EPHE, no CSE em Paris, em 1963 |
| Páginas | 162-173 |
DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7984.2022.e.89621
162162 – 173
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A propósito de um
encontro entre pesquisadores:
Ciências sociais e política no Brasil1
Monique de Saint-Martin2
“Democracia”, “democratização”, “redemocratização”, “avanço demo-
crático”, “consolidação da democracia”, “transição democrática”, “questão
democrática”, “Estado”, “partidos”, “política”: essas são algumas das pa-
lavras e das expressões que aparecem frequentemente nos títulos das co-
municações apresentadas na décima reunião da Associação Nacional de
Pesquisa e Pós-Graduação em Ciências Sociais (Anpocs), e não cessaram
de ser repetidas nas conversas, trocas, apresentações durante essa reunião
ocorrida em Campos do Jordão, no Brasil, entre 21 e 24 de outubro de
19863. Aproximadamente 600 pesquisadores brasileiros em antropologia,
1 Sob o título “À propos d’une rencontre entre chercheurs, sciences sociales et politique au Brésil”, este artigo
foi originalmente publicado na Actes de la recherche en sciences sociales, v. 71-72, mars 1988, p. 129-134.
Agradecemos à autora e ao comité editorial da revista pela autorização da tradução. Traduzido por Rodrigo da
Rosa Bordignon; revisado por Monique de Saint-Martin e Camila Gui Rosatti.
2 Socióloga, diretora de estudos na EHESS e pesquisadora do IRIS, ingressou na VI seção da EPHE, no CSE em
Paris, em 1963. Após pesquisas voltadas para a sociologia da educação, dedicou-se à sociologia do poder, das
elites e das antigas aristocracias (cf. L’espace de la noblesse), interessando-se pelos processos de reconversão
das antigas elites e, atualmente, das elites africanas formadas na URSS ou em países do antigo bloco socialista.
Participou ativamente da construção de diferentes grupos e redes de pesquisa internacionais. E-mail: monique.
de-saint-martin@ehess.fr
3 A utilização dessas palavras e expressões pelos intelectuais não é nova no Brasil; no entanto, ela impressiona
por sua intensidade. O tema da democracia era raro na produção intelectual brasileira antes de começar a des-
pontar de forma “sistemática e repetida nos anos 1980”, como observa Francisco de Oliveira (1987, p. 153). A
utilização da palavra “democracia” espalha-se ao mesmo tempo em que aquela de “sociedade civil”, observa
Daniel Pécaut (1986). Diversas obras que assumem a forma de manifestos são publicadas pelos pesquisadores
mais prestigiosos e reconhecidos: Autoritarismo e Democratização, por Fernando Henrique Cardoso (1975);
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