A próxima fronteira: notas para uma compreensão das distinções do feminino no esporte
| Autor | Alexandre Jackson Chan-Vianna, Ludmila Mourão |
| Páginas | 147-168 |
Niterói, v. 10, n. 1, p. 147-168, 2. sem. 2009 147
A PRÓXIMA FRONTEIRA: NOTAS PARA
UMA COMPREENSÃO DAS DISTINÇÕES
DO FEMININO NO ESPORTE
Alexandre Jackson Chan-Vianna
Universidade Gama Filho
E-mail: a.jackson@uol.com.br
Ludmila Mourão
Universidade Gama Filho
E-mail: ludmila.mourao@terra.com.br
Resumo: Este artigo tem como ob-
jetiv o descrever a particip ação de
mulhe res em esportes de tradi ção
masculina. Apresenta um panorama
da história das mulheres no esporte,
seguida de análise do envo lvimento
delas com os esp ortes coletivos de
confronto em um projeto socioespor-
tivo na cidade do Rio de Janeiro. Os
dados empíricos foram coletados em
estudo etnográfico com atenção para
o mapa de orientação cultural, para
observar por onde, e como, se movi-
mentam as praticantes dos esportes
de tradição e predomínio masculino.
Utilizou-se de questionários, entrevistas
e diário de campo p ara coleta de
dados. A descrição e a interpretação
da movimentação das mulheres na
prática esportiva de lazer de tradição
masc uli na abri u camin hos par a a
compreensão do fenômeno da trans-
gressão das normas e da construção
das novas narrativas identitárias, que
vão transformando as representações
do feminino em nossa cultura.
Palavras-chave: mulhere s; espor te;
identidade.
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Introdução
Este artigo trata do fenômeno esporte, com enfoque no gênero, e apresen-
ta a participação das mulheres em esportes de tradição masculina na perspecti-
va do lazer esportivo. Para analisar este movimento, o texto organiza-se em duas
partes. Primeiro, apresenta um panorama da história das mulheres no espaço
do lazer esportivo. Em seguida, analisa as mulheres envolvidas com os esportes
coletivos de confronto em um projeto socioesportivo. Os dados empíricos foram
captados em estudo etnográfico neste projeto, localizado na cidade do Rio de
Janeiro. Diversos instrumentos de coleta foram utilizados – observação e registro
em diário de campo, surveys, entrevistas e questionários. Posteriormente, os dados
foram reunidos, cruzados e interpretados. O desafio foi lançar o olhar no mapa
de orientação chamado cultura, no qual convivem tradições e transgressões,
para observar por onde, e como, se movimentam as praticantes dos esportes
de tradição e predomínio masculino do local. A finalidade é apontar caminhos
e estratégias para a compreensão da participação das mulheres no mundo
esportivo contemporâneo.
As mulheres e os esportes de homem1
O Centro Esportivo Miécimo da Silva (CEMS), localizado no subúrbio do Rio
de Janeiro, é o maior aparelho de lazer esportivo da cidade do Rio de Janeiro.
Neste complexo funcionava um projeto socioeducativo, da prefeitura da cidade,
que tinha nas aulas de iniciação esportiva gratuitas, sua principal referência,
pois disponibilizava, em 2006, mais de 25 modalidades de atividades físico-
-desportivas, com capacidade de absorver um público semanal de 15.000
usuários. Por direcionamento de seus agenciadores políticos, a inclusão social
deveria ser o princípio norteador das ações pedagógicas de seus profissionais. Por
consequência, todas as atividades deveriam ser abertas para todas as pessoas.
Eu atuava como professor de educação física e ocupava um cargo de
gestão em uma das equipes deste projeto. Na condição de líder da equipe,
responsável pelo desenvolvimento de três modalidades esportivas, questionava
a baixa participação feminina nas modalidades de handebol e basquetebol.
Na terceira modalidade, o voleibol, o número de mulheres apresentava uma
relação numérica mais equitativa em relação aos homens. Esse fato se tra-
duzia em forte argumento para transferir aos professores das duas primeiras
modalidades a responsabilidade pela ausência de resultados semelhantes.
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