Quando a balança pende: um corredor para exportações e o território santa rosa dos pretos

AutorAnacleta Pires - Cindia Brustolin
CargoGraduada em Pedagogia da Terra - Bacharel em Direito
Páginas1365-1385
Artigo recebido em: 05/03/2018 Aprovado em: 23/05/2018
QUANDO A BALANÇA PENDE: um corredor
para exportações e o território Santa Rosa
dos Pretos
Anacleta Pires1
Cindia Brustolin2
Resumo
O artigo apresentado resulta da fusão de duas comunicações apresentadas na
Mesa Temática Projetos de desenvolvimento e comunidades tradicionais e in-
dígenas no Maranhão: fronteiras territoriais, lutas sociais e equacionamento de
con itos durante a Jornada Internacional de Políticas Públicas, na UFMA, em
2017. Especi camente, evidencia as discussões relacionadas aos processos de
construção da infraestrutura logística no Corredor Carajás para o escoamento
de commodities do continente para o porto em São Luís sobre o território qui-
lombola de Santa Rosa dos Pretos. Os trabalhos de pesquisa foram realizados
nos anos 2015 e 2017 a partir da realização de entrevistas semiestruturadas e de
documentos.
Palavras-chave: Empreendimentos, lutas territoriais, quilombolas.
WHEN THE SCALEHANGS: a corridor for exports and the Santa
Rosa dos Pretosterritory
Abstract
e article presented results from two communications presented on the  e-
matic Table Development projects and traditional and indigenous communities
1 Graduada em Pedagogia da Terra, Liderança do Quilombo de Santa Rosa dos Pretos -
Itapecuru-Mirim/MA.
2 Bacharel em Direito, Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS), Professora do Departamento de Sociologia e Antropologia da Universidade
Federal do Maranhão (UFMA). E-mail: cindiabrustolin@gmail.com / Endereço:
Universidade Federal do Maranhão - UFMA: Av. dos Portugueses, 1966, Bacanga - São
Luís – MA. CEP: 65080-805.
MESAS TEMÁTICAS COORDENADAS
PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO E COMUNIDADES
TRADICIONAIS E INDÍGENAS NO MARANHÃO: fronteiras
territoriais, lutas sociais e equacionamento de conß itos
1366
Anacleta Pires | Cindia Brustolin
in Maranhão: territorial boundaries, social struggles and con ic t equation du-
ring the international Public Policies Congress, at UFMA, in 2017. Speci cally,
it highlights the discussions related to the processes of construction of the lo-
gistics infrastructure in the corridor for the disposal of commodities from the
mainland to the port in São Luís on the Quilombola territory of Santa Rosa dos
Blacks.  e research work was carried out in the years 2015 and 2017 from the
realization of the interstructured interviews and documents.
Key words: Enterprise, territorial struggles, quilombolas.
1 INTRODUÇÃO
- Você é uma das lideranças da comunidade? - Em Santa Rosa dos
Pretos todos somos lideranças. - Você representa o quilombo de
Santa Rosa? - Eu represento o quilombo de Santa Rosa dos Pretos,
os quilombos do Maranhão, os quilombos do Brasil e todos os qui-
lombos do mundo (Informação verbal)1.
O trecho da entrevista conferida durante a coletiva de impren-
sa realizada por lideranças quilombolas na sede da Comissão Pasto-
ral da Ter ra, em São Luís do Maranhão, em s etembro de 2014, traz
questões importantes para pensar os processos de reconhecimento
de direitos territoriais e os con itos socioambientais envolvendo
grupos negros no estado. Depois de uma intensa mobilização rea-
lizada por cerca de 30 comunidades, em que quilombolas permane-
ceram mais de quatro dias acampados, alguns amarrados aos trilhos
e outros tendo chegado a greve de fome, lideranças explicavam para
jornalistas de meios de comunicação locais as condições impostas a
setores do governo federal para saírem dos protestos realizados nos
trilhos da Vale S.A.
As ações empreendidas nos trilhos não podem ser tomadas
como atos localizados de lideranças negras devido aos con itos fun-
diários e socioambientais na cidade de Itapecuru-Mirim, no interior
do Maranhão. Pensamos ser importante pensá-las como inseridas
nas possibilidades de universalização de demandas, da constituição
de uma esfera pública reivindicada, mas não instalada, na equação de
pleitos pela terra entre os grupos negros, quando da saída dos pro-
cessos de escravidão2, o estado brasileiro e as mais recentes investidas
em projetos neodesenvolvimentistas.
Na cidade de Itapecuru Mirim (MA), mais especi camente,
no território da comunidade Santa Rosa dos Pretos, onde os pro-
testos aconteceram, existe uma linha de trem mais antiga, constru-
ída na década de 1980, utilizada principalmente para transportar o

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT