Reduzindo as incertezas em relação aos bancos estrangeiros

AutorLuccas Assis Attílio
Páginas60-76
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Reduzindo as incertezas em relação aos bancos estrangeiros
Resumo
A liberalização financeira que ocorreu nas décadas de 1970 e 1980 permitiu um maior influxo
de bancos estrangeiros para países outrora com restrições a esse tipo de capital, entretanto, foi
somente nos anos 90 que os países em desenvolvimento experimentaram uma maciça entrada
dessas instituições em seus territórios. Com o passar dos anos vários estudos analisaram os
efeitos desses bancos na economia doméstica, e embora tenham reduzido o grau de incerteza
em relação a algumas consequências decorrentes dessa incursão, restam questões para serem
debatidas. Esse artigo é um survey que reflete sobre essas questões, concluindo que maior
transparência, regulação e entendimento das características da economia receptora e do banco
entrante são fatores cruciais para o país doméstico conseguir receber os benefícios que podem
advir desse tipo de influxo.
Palavras-chave: Bancos; Crédito; Crises Financeiras.
Abstract
The financial liberalization that occurred in the 1970s and 1980s allowed a greater inflow of
foreign banks to once countries with restrictions on this type of capital, however, was only in
the 90s that developing countries experienced a massive entrance of these institutions in their
territories. Over the years several studies examined the effects of these banks in the domestic
economy, and although they have reduced the degree of uncertainty about some consequences
of this incursion, remain issues to be discussed. This article is a survey that reflects on these
issues, concluding that greater transparency, regulation and understanding of the characteristics
of the receiving economy and incoming bank are crucial factors for the home country be able
to receive the benefits that may result from this type of influx.
Keywords: Banks; Credit; Financial Crises.
JEL: G21, E02, G01.
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1 INTRODUÇÃO
A liberalização financeira que ocorreu nas décadas de 1970 e 1980 representou a
redução do papel do governo na economia local, o aumento dos fluxos de capitais e maior
integração econômica mundial. Os capitais passaram a serem vistos desprovidos de pátria,
buscando oportunidades de lucros em mercados recentemente abertos a influxos estrangeiros,
pouco se importando com a nacionalidade desse novo mercado.
Conquanto a liberalização financeira tenha ocorrido décadas anteriores, foi somente nos
anos 90 que o fluxo de bancos estrangeiros ganhou importância nos países em desenvolvimento,
adentrando em seus mercados e, em muitos casos, passando a deterem a maior parte dos ativos
bancários, isto é, se tornaram os principais agentes do sistema bancário local.
Fatores como custos de reestruturação dos bancos domésticos após crises econômicas,
ensejo de incrementar a robustez do sistema bancário, aumentar a eficiência da economia e a
influência de órgãos proeminentes globalmente como o Fundo Monetário Internacional (FMI)
e a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), bem como o
Consenso de Washington, ajudam a entender esse forte influxo de bancos estrangeiros nos anos
90. Ademais, oportunidades de lucratividade nos países em desenvolvimento foi outro fator que
propiciou essa guinada de bancos estrangeiros para essas nações.
Entretanto, ainda que a entrada dos bancos estrangeiros tenha sido defendida, existiam
muitas dúvidas quanto aos efeitos causados por estes nos países receptores. Deste modo, além
de argumentos nacionalistas e de indústria nascente, a incerteza dos possíveis benefícios e
custos advindos da incursão desses bancos era outro fator a prejudicar esse tipo de influxo de
investimento direto estrangeiro (IDE). Todavia, com inúmeros estudos tendo sido realizados,
juntamente com a análise retrospectiva de países que reduziram suas restrições e aceitaram a
entrada desses bancos, se tornou mais claro o papel desses bancos nos mercados domésticos.
Com o avanço da literatura sobre bancos estrangeiros desde os anos 90, esse artigo
procura precisar o debate sobre algumas consequências da entrada desses bancos, bem como
consensos e divergências na literatura, não deixando de fazer uma análise crítica sobre cada
tema. Não obstante algumas controvérsias tenham sido resolvidas, outras ainda permanecem e
mais estudos são necessários para mitigar essas dúvidas, entretanto, conforme será mostrado ao
longo do trabalho, a entrada de bancos estrangeiros tem se mostrado favorável ao crescimento
e desenvolvimento econômico e social de muitas nações, ainda que existam casos que
desmintam essa relação, como é elucidado posteriormente.

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