Relação China - EUA à luz do desenvolvimento a convite

AutorMatheus de Freitas Cecílio
CargoUniversidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil
Páginas346-361
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 256, p. 346-361, maio/ago. 2022 | ISSN 2447-861X
RELAÇÃO CHINA EUA À LUZ DO DESENVOLVIMENTO A CONVITE
China - USA relationship in the light of invitation development
Matheus de Freitas Cecílio
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Brasil
Informações do artigo
Recebido em 9/02/2022
Aceito em 14/10/2022
doi>: https://doi.org/10.25247/2447-861X.2022.n256.p346-361
Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons
Atribuição 4.0 Internacional.
Como ser citado (modelo ABNT)
CECÍLIO, Matheus de Freitas. Relação China EUA à luz
do desenvolvimento a convite. Cadernos do CEAS:
Revista Crítica de Humanidades. Salvador/Recife, v. 47,
n. 256, p. 346-361, maio/ago. 2022. DOI:
https://doi.org/10.25247/2447-861X.2022.n256.p346-361
Resumo
Partindo da ideia de “desenvolvimento a convite” como
um eixo explicativo para as relações econômicas
estabelecidas entre os Estados Unidos e alguns seletos
países no período pós-Segunda Guerra Mundial, este
trabalho procura entender o caso específico da China.
Tendo sido estabelecido que muitos dos convidados
europeus e asiáticos estavam firmemente localizados
sob o guarda-chuva geopolítico de Washington,
procuramos entender o que explica a inclusão de uma
potência formalmente socialista neste arranjo. Em uma
seção posterior, buscamos avaliar este arranjo
geoeconômico à luz dos cinquenta anos que se passaram
desde então e das atuais tensões comerciais e
tecnológicas entre Estados Unidos e China.
Palavras-Chave: China. Estados Unidos.
Desenvolvimento a convite.
Abstract
Starting from the idea of “development by invitation” as
an explanatory axis for the economic relations
established between the United States and some select
countries in the post-World War II period, this work seeks
to understand the specific case of China. Having
established that many of the European and Asian guests
were firmly located under Washington's geopolitical
umbrella, we seek to understand what explains the
inclusion of a formally socialist pow er in this
arrangement. In a later section, we seek to evaluate this
geoeconomic arrangement in light of the fifty years that
have passed since then and current trade and
technological tensions between the United States and
China.
Keywords: : China. USA. Development by invitation.
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 256, p. 346-361, maio/ago. 2022.
347
Relação China EUA à luz do desenvolvimento a convite | Matheus de Freitas Cecílio
INTRODUÇÃO
Em Bretton Woods, enquanto a Segunda Guerra Mundial caminhava para o seu fim,
foi traçada a estrutura geral de um novo padrão monetário internacional calcado no dólar.
Nesse novo arranjo internacional, a moeda americana substituía a libra britânica como
moeda de referência internacional. A troca de guarda no topo da hierarquia monetária
respondia também a uma dinâmica geopolítica basilar, uma vez que o Reino Unido
gradativamente perdia o caráter de potência inconteste do qual gozou no século XIX.
Durante a senhoriagem monetária americana que dominou as décadas seguintes ao
fim do conflito, ganhou terreno a prática alcunhada de “desenvolvimento a convite”
(MEDEIROS, SERRANO, 1999; ARRIGHI, 1994), baseada, em linhas gerais, na facilitação da
restrição externa para alguns ilustres Estados convidados, a fim d e que os processos de
substituição de importações, industrialização, e progresso técnico fossem por eles mais
alcançáveis. Os felizardos convidados normalmente tinham suas exportações promovidas no
mercado americano, o que gerava divisas em moeda forte e aliviava a pressão externa
atuante sobre estes Estados. Esses fatores, evidentemente, facilitavam o desenvolvimento e
a mudança estrutural para os convidados. Nas palavras de Medeiros e Serrano:
Circunstâncias especiais como a abertura unilateral do mercado americano; a
manutenção de taxas de câmbio desvalorizadas favoráveis à competitividade dos
aliados dentro do sistema de Bretton Woods; tolerância com políticas de proteção
tarifária e não-tarifária; missões de ajuda técnica e o forte estímulo à expansão das
multinacionais americanas, ajudaram a aliviar a restrição externa nestes países. Isto
permitiu aos países europeus e ao Japão, rapidamente, a adoção de um regime de
conversibilidade ao dólar e viabilizou uma onda de supostos ‘milagres’ nacionais de
reconstrução e/ou crescimento econômico. (MEDEIROS, SERRANO, 1999, p. 133)
A lógica por detrás da seleção de determinados Estados obedecia a imperativos
estratégicos e geopolíticos. A Doutrina da Contenção postulava barrar a União Soviética em
suas bordas eurasianas, fazendo jus a os princípios fundantes da geopolítico anglo-saxã
(KENNAN, 1947; MACKINDER, 1942; SPYKMAN, 1942). Sabidamente, tais pr incípios
orientam a grande estratégia de Washington no sentido de valorizar a massa eurasiana como
território estratégico de primeiro nível. Portanto:
[...] podemos caracterizar como ‘desenvo lvimento a convite’ a estratégia
americana de não apenas permitir como também em vários casos promover
deliberadamente o desenvolvimento econômico de países aliados nas regiões de
maior importância estratégica para o conflito com a URSS. (MEDEIROS,
SERRANO, 1999, p. 133)

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT