REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE MASCULINIDADES DE MULHERES LÉSBICAS E HETEROSSEXUAIS

AutorRebeca Valadão Bussinger, Maria Cristina Smith Menandro, Isadora Lee padilha
Páginas259-279
GÊNERO|Niterói|v.18|n.1| 259|2. sem.2017
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE MASCULINIDADES
DE MULHERES LÉSBICAS E HETEROSSEXUAIS
Rebeca Valadão Bussinger1
Maria Cristina Smith Menandro2
Isadora Lee Padilha3
Resumo: O objetivo deste trabalho foi identificar as representações sociais de
masculinidade de mulheres lésbicas e heterossexuais e como estas representações
influenciam nos comportamentos afetivo-sexuais destas e em questões de
preconceito e “lesbofobia”. Participaram do estudo 96 mulheres. A coleta de
dados foi realizada através de questionário online e os dados foram analisados
através do software ALCESTE. Conclui-se que as representações sociais de
masculinidade para mulheres lésbicas são mais fluidas, híbridas e ampliadas,
opondo-se às percepções biológicas e fisiológicas fortemente presentes nos
discursos das mulheres heterossexuais. Compreendem que as experiências de
preconceito e discriminação se intensificam quando percebidas como masculinas.
Palavras-chave: representação social; Masculinidades; Mulheres.
Abstract: The objective was to identify the social representations of masculinity
of lesbian and heterosexual women and how these representations influence
aective-sexual behaviors and questions of prejudice and lesbophobia. 96 women
participated. The data collection was performed through an online questionnaire
and the data analyzed through the ALCESTE software. It is concluded that the
social representations of masculinity for lesbian women are more fluid, hybrid and
amplified, opposing the biological and physiological perceptions strongly present
in the discourses of heterosexual women. They understand that the experiences
of prejudice and discrimination intensify when perceived as masculine.
Keywords: Social representation; Masculinities; Women.
Conforme Cechetto (2004), estudos sobre homens e masculinidades
1 Doutora em Psicologia pela Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail: rebecabussinger@hotmail.com.
2 Professora da Universidade Federal do Espírito Santo. E-mail: cristinasmithmenandro@gmail.com.
3 Psicóloga. E-mail: isaleep@hotmail.com.
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GÊNERO|Niterói|v.18|n.1|260 |2. sem.2017
aliaram-se às teorias feministas, contribuindo para a quebrada abordagem rígida
e binária dos papéis sexuais, expandindo o conceito de gênero para além da
dicotomia masculino e feminino e ligando-o a aspectos que organizam as relações
sociais. Ávila e Grossi (2010) recuperam de Judith Halberstam o conceito
de uma masculinidade feminina (female masculinity), que seria sinônimo de
“masculinidades sem homens”, e concebe muito positivamente o fato de que a
masculinidade não pertence aos homens, fazendo emergir diferentes dimensões
de subculturas de gênero até então pouco visibilizadas. Portanto, a discussão
sobre gênero, masculinidade e/ou feminilidade implica na compreensão e
contextualização sobre como os sujeitos se definem diante dessas categorias, em
que fica claro que a masculinidade não é simplesmente um atributo dos homens.
A inclusão da masculinidade como objeto de estudo deste trabalho e como
elemento que se insere na teia discursiva da categoria gênero será feita pela
apreensão de sua materialização, a partir do que ousamos nomear por ‘identidades
sexuais’ e ‘sexualidades’. Dessa forma, reconhece-se que a constituição de
um sujeito a partir de um ‘ser homem’ e/ou ‘ser mulher’ e a (auto) defesa de
suas respectivas masculinidades e feminilidades requer a busca e compreensão
de seus significados amplos e plurais, para além do que possa, supostamente,
estar aprisionado nas práticas sexuais e nas identidades de gênero legitimadas
socialmente. Como exemplo, Connel (1995) propõe pensar o masculino para
rever padrões de comportamento, teorias e discursos.
Toro-Alfonso (2005) adverte que as homossexualidades, nas suas dimensões
heurísticas, se inserem na fluidez, complexidade e diversidade das construções
sociais sobre a masculinidade e a feminilidade, uma vez que a construção do
sujeito homossexual se dá no espelhamento com a heterossexualidade e desta
com a masculinidade hegemônica. Desta forma, a apreensão dos significados das
homossexualidades requer a discussão acerca das masculinidades consideradas
subordinadas, àquelas que fogem às premissas de vigor e virilidade que implicam
na definição de uma masculinidade hegemônica e que implicam, por exemplo,
não ser categorizado como mulher e/ou gay (CONNEL, 2005; CONNEL e
MESSERSCHMIDT, 2013).
Optamos por compreender a(s) masculinidade(s) evitando qualquer explicação
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