A República Lusitana das Letras: um retrato das redes de comunicação dos jornais emigrados no início do século XIX

AutorLuís Francisco Munaro
CargoUniversidade Federal de Roraima. Boa Vista/RR, Brasil
Páginas173-196
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DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-7976.2018v25n39p173
A República Lusitana das Letras: um retrato das redes de
comunicação dos jornais emigrados no início do século XIX
The Lusitanian Republic of Letters: a portrait of communication
networks of emigrant newspapers in the early Nineteenth Century
Luís Francisco Munaro*
Resumo: O objetivo deste artigo é investigar as formas de idealização e
construção da República das Letras entre os portugueses quando da sua
dispersão a partir de 1808 e da tentativa de manter circuitos regulares de
correspondência. Em outras palavras, através da publicação de grande número
de jornais. Estes impressos têm lugar, sobretudo, em Londres, que sediou, entre
1808 e 1822, pelo menos oito jornais lusófonos a partir da iniciativa pioneira
de Hipólito da Costa; e Paris, que sediou pelo menos três entre 1815 e 1822,
sobretudo em torno do intelecto de Solano Constâncio. A partir dessa rede
de intercâmbio de ideias que começava a se expandir e adquirir um caráter
cosmopolita, é possível investigar também alguns dos diálogos mais amplos
estabelecidos com publicações em língua inglesa e espanhola, de forma a
permitir um vislumbre da dimensão dessas redes de comunicação cujas portas
eram abertas pelo jornalismo.
Palavras-chave: República das Letras; Ilustração luso-brasileira; História do
Jornalismo.
Abstract: The purpose of this article is to investigate ways of idealization
and construction of the Republic of Letters between the Portuguese when
their dispersion from 1808 and their attempt to maintain regular circuits of
correspondence. In other words, by publishing large number of newspapers.
These papers take place, especially, in London, which hosted between 1808
and 1822, at least eight Portuguese-speaking newspapers from the pioneering
Artigo
174
Revista Esboços, Florianópolis, v. 25, n. 39, p. 173-196, jul. 2018.
initiative of Hipólito da Costa; and Paris, which hosted at least three between
1815 and 1822, especially around the intellect of Solano Constâncio. From
this network for the exchange of ideas that began to expand and acquire a
cosmopolitan character, it is possible also investigate some of the broader
dialogues established with publications in English and Spanish, to allow a
glimpse of the extent of these communication networks whose doors were
opened by journalism.
Keywords: Republic of Letters; Luso-Brazilian Enlightenment; History of
journalism.
Introdução
A República das Letras, noção que se difundiu entre intelectuais a partir
do século XVI e obteve particular repercussão no século XVIII, não possuía
um espaço físico ou institucional, apesar de encontrar especial difusão nas
Academias de Ciências, Lojas Maçônicas e nos Salões. Também não havia leis
que regessem o corpo da comunidade de letrados que buscavam intercambiar
as suas ideias. Os cidadãos que formavam a república deveriam partilhar
noções semelhantes relativamente ao progresso e harmonia, para além das
fronteiras e vaidades nacionais – o que, evidentemente, nem sempre acontecia.
Para tanto, julgavam-se sucientemente abertos para escrever e relatar as
suas experiências, envolvendo-se ativamente com o mercado editorial, já que
a tipograa era a forma mais ecaz de vencer as barreiras do espaço. Como
lembra Ian McNelly, sobre o fenômeno da redação de cartas entre os ilustrados,
ela apontava para civilidade, amizade, polidez, generosidade, benevolência
e tolerância, características fundamentais para a produção e circulação do
conhecimento.1 O acúmulo de experiências, segundo esse raciocínio, deveria
ser capaz de guiar o homem em direção a um conteúdo que pudesse abrigar
a diversidade, tornando-se crescentemente universal.
Essa universalidade, contudo, se chocava com a forte inclinação
nacional notada pela maior parte dos apóstolos do iluminismo. Além da
busca por pensar a nação e celebrar os feitos nacionais, parecia subsistir uma
inclinação a conter a entrada de indivíduos que não manifestassem as mesmas
tendências liberais. A hierarquia dos cidadãos da República passava a indicar
os méritos pessoais e o comprometimento do indivíduo com a busca pelo
saber, para além das hierarquias e etiquetas que predominavam no universo
cortesão. Desta forma, persistia a necessidade de se adornar com costumes
liberais e um vocabulário capaz de gerar um circuito exclusivo, chamado,
muitas vezes, de pedantismo ou lososmo.2

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