Revistas gays made in Brazil, mas com sotaque estrangeiro

AutorValmir Costa
Páginas183-212
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Niterói, v.12, n.1, p. 183-212, 2. sem. 2011
REVISTAS GAYS MADE IN BRAZIL, MAS COM
SOTAQUE ESTRANGEIRO
Valmir Costa
Universidade Nove de Julho
E-mail: vccosta@uol.com.br
Resumo: O texto mostra a influência da mídia gay norte-americana na im-
prensa gay de revistas no Brasil de acordo com o processo de moderniza-
ção do mundo, ou seja, a globalização. O artigo contextualiza o surgimento
destas revistas tanto nos Estados Unidos como no Brasil e analisa as revistas
G Magazine e Men de acordo com a Teoria das R epresentações Sociais.
Palavras-chave: Jornalismo, Revista, Gay, Representações Sociais; Globalização.
Abstract: The text shows the influence of U.S. gay media in the press gay
magazine in Brazil in accordance with the process of modernization of the
world, namely globalization. The article analyzes the emergence of these
magazines in both the U.S. and in Brazil and analyzes the magazine G Ma-
gazine and Men according to the Theory of Representations.
Keywords: Journalism, Magazine, Gay, Social Representations; Globalization
184 Niterói, v.12, n.1, p. 183-212, 2. sem. 2011
Introdução
“Não posso ver mérito algum em se ter vergonha do sexo.” Esta afirma-
ção é parte da carta que Freud escreveu ao amigo e médico Wilhelm Fliess
(1858-1928) em 1900. Mas a afirmação de Freud não é o que acontece na
maioria das culturas. Por isso, falar de sexo nunca foi e, talvez, nunca venha
a ser fácil. Esses entraves são apenas reflexos das agruras sociais em torno
desta palavra tão pequena e tão cheia de tabus pelo significado que há por
trás dela.
As normas socioculturais sustentam o seu discurso de forma a proibi-
-lo e permiti-lo com ressalvas. Mas ele sempre está ali, à espreita, circun-
dando toda a sociedade no plano simbólico. Se Lacan já disse que “Somos
seres simbólicos porque somos seres de linguagem”, no plano do sexo, o
mundo cria símbolos sexuais, modos, procedimentos, impedimentos, es-
tigmas, impregnados de diversas linguagens.1
A mídia, a todo tempo, lança e relança, explora e reexplora os símbolos
sexuais à exaustão. No entanto, tudo dentro de uma regra, com uma norma
moral aceitável adaptada a cada grupo distinto, se masculino, feminino ou
gay. Moscovici (2003:08) comenta que com a influência dos meios de co-
municação em torno das representações sociais ilustra que eles fazem que
tais representações se tornem senso comum. “As representações sustenta-
das pelas influências sociais da comunicação constituem as realidades de
nossas vidas cotidianas e servem como o principal meio para estabelecer
as associações com as quais nós nos ligamos uns aos outros.
O jornalismo há muito tempo se sacia com o sexo em nome de di-
videndos e também para atender às necessidades consideradas libertinas
dos seus leitores. Outras vezes, para dar voz aos grupos minoritários como
os homossexuais. O discurso do sexo se socializou, não para atender ape-
nas a uma atividade orgânica, mas a um processo social nas relações de
gênero. A sexualidade humana sai da intimidade e ganha o espaço público
em forma de discurso e ganha uma elaboração social.
De tal modo, suas interdições e transformações são responsáveis por
um processo de elaboração histórica, como comenta Foucault em História
da Sexualidade: a vontade de saber (1987). “O que ela significa e exprime
não ultrapassa suas específicas manifestações sociais e históricas, assim
como não é possível explicar suas formas e variações sem que se examine
1 Jacques Lacan. O Seminário: mais ainda.., livro 20. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.

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