A revolução constitucionalista do porto e o processo de independência do Brasil - questões em jogo
Autor | Arno Wehling |
Ocupação do Autor | Membro da Academia Brasileira de Letras e Presidente de Honra do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro |
Páginas | 19-28 |
19
A REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA DO PORTO
E O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA DO BRASIL –
QUESTÕES EM JOGO
Arno Wehling1
A revolução constitucionalista do Porto desencadeada em agosto de 1820
foi uma ação civil e militar que não pode ser vista apenas como um movimento a
favor do liberalismo e do constitucionalismo.
Liberal, constitucional e maçom certamente ela foi, mas seu
desencadeamento, na ótica dos historiadores portugueses, ligou-se diretamente à
tutela que os ingleses exerciam em Portugal - através do exército comandado por
lord Beresford - à presença da Corte no Brasil e às condições econômicas criadas
pela abertura comercial na antiga colônia. (WEHLING, 2019, p. 24)
A tropa inglesa, a Corte instalada na antiga colônia e a igualdade
comercial entre Brasil e Portugal eram fatores que implicavam numa evidente e
traumática dependência do país. Ela afetava não apenas a consciência nacional,
numa época de emergência dos nacionalismos na Europa e na América, como
interesses concretos em que se mesclavam poder e recursos financeiros.
(ALEXANDRE, 1993, p. 767)
Mesmo essa ótica mais alargada ainda é insuficiente. Ela precisa ser
complementada com a percepção do lar go ciclo revolucionár io que envolveu a
Europa e a América a partir da Revolução Americana de 1776 e do qual a
revolução portuguesa poderia ser o último exemplo. Esse ciclo correspondeu a
movimentos liberais e mesmo democráticos na Europa, como no caso da França,
da Espanha, da Holanda, da Suécia e de outras tantas “revoluções”. Na América
espanhola uniram-se motivações liberais e nacionais que produziram os
movimentos independentistas do México até o sul do continente. No Haiti o
movimento contra a dominação francesa também foi uma luta contra a
escravidão.
O ciclo parecia esgotado quando da queda de Napoleão e da reunião do
Congresso de Viena, em 1815. O objetivo declarado deste era a defesa da
1 Membro da Academia Brasileira de Letras e Presidente de Honra do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro.
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