Rumo a um novo internacionalismo?

AutorManoel Nascimento
CargoManoel Nascimento é assessor da Equipe Urbana do Centro de Estudos e Ação Social (CEAS) e membro da Equipe Editorial dos Cadernos do CEAS. [manoelnascimento@gmail.com]
Páginas71-76
RESENHA
RUMO A UM NOVO INTERNACIONALISMO?
Silver, Beverly J. Forças do trabalho: movimentos de trabalhadores e
globalização desde 1870. Trad. de Fabrizio Rigout. São Paulo, Boitempo,
2005, 240p.
MANOEL NASCIMENTO*
O que leva um livro a ganhar o Distinguished Scholarly Publication Award 2005
da American Sociological Association e, ao mesmo tempo, unir num
assanhamento os acadêmicos da Universidade de São Paulo (USP), a
extrema-esquerda européia da revista Prol Position (www.prol-position.net), o
Partido Comunista do Brasil (PCdoB), a New Left Review, Emir Sader, a
Coordenação de Centrais Sindicais do Cone Sul (CCSCS), a editoria de
investimentos da revista Valor e o grupo operaísta alemão WildCAT
(www.wildcat-www.de), que inclusive traduziu o livro na Alemanha? Algo
simples: como se verá, Forças do trabalho, de Beverly J. Silver, professora do
Departamento de Sociologia da John Hopkins University, é, a primeira vista,
um excelente livro de sociologia do trabalho, mas, em suas camadas mais
profundas, reside ao mesmo tempo num manifesto político e uma provocação
aos intelectuais e acadêmicos ligados aos movimentos sociais – aqueles
mesmos que, em outra época, seriam chamados movimentos revolucionários.
Em primeiro lugar, é importante ressaltar, como faz a própria autora, que se
trata de uma iniciativa pioneira. Reconhecendo que a tendência ao consenso
na ciência social a respeito da crise dos movimentos operários se dava com
base na extrapolação para níveis mundiais de conclusões obtidas a partir de
dados restritos à América do Norte e à Europa Ocidental (p. 19), Beverly Silver
tomou como “premissa básica” do livro que “uma compreensão integral da
dinâmica dos movimentos de trabalhadores contemporâneos requer que
estendamos nossa análise a uma dimensão histórico-espacial mais ampla do
que se costuma fazer”.
Daí a criação, nos anos 1980, do World Labour Group (WLG) dentro do
Fernand Braudel Center da Universidade de Birminghamton, junto com
Giovanni Arrighi, Mark Beittel, John Casparis, Jamie Fariciella Dangler, Melvyn
Dubofsky, Roberto Patricio Korzeniewicz, Donald Quataert e Mark Selden. Em
grande parte, Forças do trabalho é uma espécie de “cartão de visitas” do
WLG, demonstrando as possibilidades de pesquisa abertas pela sua base de
dados. O grupo – que em bom português se chamaria “Grupo sobre Trabalho
Mundial”, mas cujo nome o tradutor preferiu deixar no original – reconhecia
que, “para o estudo sério de movimentos operários a partir de uma perspectiva
global e histórica, seriam necessários novos tipos de dados que simplesmente
não estavam disponíveis nas compilações existentes” (p.15).
O WLG compilou dados sobre diversas formas de agitação de trabalhadores
acontecidas entre 1870 e 1996 – 126 anos de história! – com um conceito

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