Segurança energética, segurança internacional e política externa chinesa: breves notas sobre sudão e sudão do sul

AutorRenan Holanda Montenegro
CargoDoutor em Ciência Política (UFPE)
Páginas131-158
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 255, p. 131-158, jan./abr. 2022 | ISSN 2447-861X
SEGURANÇA ENERGÉTICA, SEGURANÇA INTERNACIONAL E
POLÍTICA EXTERNA CHINESA: BREVES NOTAS SOBRE SUDÃO E
SUDÃO DO SUL
Energy Security, International Security and Chinese Foreign Policy: Brief Notes on
Sudan and South Sudan
Renan Holanda Montenegro
Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, Brasil
Informações do artigo
Recebido em 10/05/2022
Aceito em 17/06/2022
doi>: https://doi.org/10.25247/2447-861X.2022.n255.p131-158
Esta obra está licenciada com uma Licença Creative Commons
Atribuição 4.0 Internacional.
Como ser citado (modelo ABNT)
MONTENEGRO, Renan Holanda. Segurança energética,
segurança internacional e política externa chinesa:
breves notas sobre Sudão e Sudão do Sul. Cadernos do
CEAS: Revista Crítica de Humanidades.
Salvador/Recife, v. 47, n. 255, p. 131-158, jan./abr. 2022.
DOI: https://doi.org/10.25247/2447-861X.2022.n255.p131-158
Resumo
O artigo descreve, em uma clave introdutória, questões gerais
relacionadas à segurança energética e à segurança internacional na
política externa da China, com foco na atuação de diferentes atores
ligados ao organograma estatal, nomeadamente as companhias
petrolíferas e as forças armadas. Especificamente, a inv estigação é
intermediada por breves notas referentes à presença desses atores no
Sudão e no Sudão do Sul. Por um lado, o Sudão é u ma das primeiras
empreitadas internacionais das empresas petrolíferas chinesas. Por
outro, o Sudão do Sul é o país que mais concentra tropas de co mbate do
Exército Popular de Libertação (EPL), além de também ser um grande
exportador de petróleo. Ao lançar luz para atores específicos, parte-se do
entendimento que motivações específicas de ação que não
necessariamente se confundem com um interesse nacional por vezes
abstrato. Assim, fincando bases na subdisciplina da Aná lise de Política
Externa, o artigo adota uma perspectiva conceitual que tenciona ir além
da percepção do Estado enquanto um ator racional unitário.
Palavras-Chave: Segurança energética. Segurança internacional. China.
Sudão. Sudão do Sul.
Abstract
The article describes, in an introductory fashion, general issues related to
energy security and international security in China’s foreign policy, with a
focus on the performance of different actors linked to the State
organization chart, namely oil companies and the armed forces.
Specifically, the investigation is intermediated by brief n otes referring to
the presence of these actors in Sudan and South Sudan. On the one hand,
Sudan is one of the first international ventures by Chinese oil companies.
On the other, South Sudan is the country that concentrates the most
combat troops of the People’s Liberat ion Army (PLA), in addition to als o
being a major oil exporter. By shedding light on specific actors, the article
departs from the understanding that there are specific motivations for
action that are not n ecessarily confused with a sometimes ab stract
national interest. Thus, building on the subdiscipline of Foreign Policy
Analysis, it adopts a conceptual perspective that intends to go beyond the
perception of the State as a unitary rational actor.
Keywords: Energy security. International security. China. Sudan. South
Sudan.
Este artigo é uma versão reduzida e adaptada do capítulo 8 da tese “Os determinantes materiais da
participação da China em operações de paz na África: o caso do Sudão do Sul”, defendida em fevereiro de 2019
junto ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (PPGCP-
UFPE). O autor agradece à Coordenação de Aperfeiçoa mento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo
financiamento.
Cadernos do CEAS, Salvador/Recife, v. 47, n. 255, p. 131-158, jan./abr. 2022.
132
Segurança energética, segurança internacional e política externa chinesa... | Renan Holanda Montenegro
INTRODUÇÃO
Duas das principais expressões do robustecimento da projeção internacional da
República Popular da China (RPC) corolário natural das altas taxas de crescimento
econômico e de acumulação interna de capital – são a multinacionalização das suas empresas
e a ampliação da sua presença militar global. Essa complexificação da atuação internacional
chinesa traz a reboque uma maior proliferação de organizações, grupos e indivíduos ao longo
da política externa, levando à descentralização decisória (LAMPTON, 2001) – ou, na definição
de Jakobson e Knox (2010), à “autoridade fraturada”, haja vista que interlocutores
estrangeiros não lidam com um único tomador de decisões e devem levar em conta a
capacidade de ingerência de múltiplos atores (estatais ou não)
1
.
Nesse contexto, o presente artigo analisa, em uma clave introdutória, como esse
debate se processa na condução de questões concernentes à segurança energética e
segurança internacional, direcionando a ribalta para a atuação de diferentes atores
institucionais ligados ao organograma do E stado chinês. Em linhas gerais, o artigo descreve
a crescente importância que tais atores – nomeadamen te companhias petrolíferas e Forças
Armadas ganharam na condução da política externa chinesa contemporânea. Em
particular, a investigação é int ermediada por breves notas referentes à presença desses
atores no Sudão e no Sudão do Sul.
Ao lançar luz para atores específicos, entendemos haver motivações específicas de
ação que não necessariamente se confundem com um interesse nacional mais amplo – e, por
vezes, abstrato. Nesse diapasão, fincand o bases na subdisciplina da Análise de Política
Externa, o artigo adota uma perspectiva conceitual que busca ir além da percepção do Estado
enquanto um ator racional unitário.
A escolha dos dois países africanos se deu por um par d e razões. No caso do Sudão,
trata-se de uma das primeiras empreitadas internacionais de agências econômicas estatais
da China, como bancos públicos e, sobretudo, empresas petrolíferas. Já o Sudão do Sul, cuja
1
Explorar as veredas de tal discussão vai além dos objetivos aqui prop ostos, que se restringem tão somente a
introduzir tal debate a partir da atuação de agências estatais chinesas ligadas à segurança energética e à
segurança internacional. A quem interessar aprofundamento, em adição aos trabalhos c itados no parágrafo de
abertura, sugere-se a leitura do artigo de Yu Jie e Lucy Ridout (2021) e, para uma visão singularizada sobre os
atores chineses na África, o livro de Niall Duggan (2020).

Para continuar a ler

PEÇA SUA AVALIAÇÃO

VLEX uses login cookies to provide you with a better browsing experience. If you click on 'Accept' or continue browsing this site we consider that you accept our cookie policy. ACCEPT